George Câmara: Glênio, Alírio e a Paz no Trânsito

Neste 26 de julho não há como esquecer o trágico acidente de dezenove anos atrás numa rodovia estadual nas proximidades de Jaçanã, Região do Trairi potiguar, que ceifou a vida de Glênio Sá e Alírio Guerra, principais dirigentes do Partido Comunista do

O que mudou de julho de 1990 para cá? Os índices alarmantes de acidentes e óbitos no trânsito foram eliminados ou mesmo atenuados? O nível de conscientização das pessoas em relação a essa matéria avançou, ou continua o mesmo? Que medidas legais e administrativas foram tomadas, no regramento e na fiscalização, visando superar esse estado de verdadeira barbárie? No Brasil, a quantidade de mortes no trânsito supera os números até de países em guerra civil.



Embora possamos registrar um esforço considerável por parte de gestores e demais envolvidos com a busca de soluções para tal questão, nossas estradas, ruas e avenidas continuam sendo corredores da morte.



Apesar do ganho significativo com algumas medidas, como o cinto de segurança obrigatório e a determinação da 'lei seca', entre outras, tais iniciativas parecem, nesse universo nebuloso, espumas ao vento. Se os dados estarrecedores não se modificam, no mínimo estão faltando políticas públicas de enfrentamento a esse grave problema com eficiência, eficácia e efetividade.



Nessa questão, não há política pública que funcione sem contar com o principal elemento: A conscientização. A cultura da paz nas estradas não será conquistada e consolidada por obra do acaso. A paz no trânsito está associada, inevitavelmente, a outro nível de relação social em que a solidariedade não seja produto de atos isolados, mas uma regra de conduta social. Uma conquista, portanto, de toda a sociedade.



Para ocorrer um acidente nas cidades ou nas estradas pelo Brasil afora, não precisa que dois ou mais motoristas dos veículos envolvidos pratiquem a conduta errada por imprudência, negligência ou imperícia. Quero aqui abstrair, obviamente, as hipóteses dos crimes que ocorrem no trânsito dolosamente, em que a vontade do agente criminoso está direcionada para aquele resultado.



Saindo do terreno do dolo e retornando para o campo da culpa, basta que apenas um dos envolvidos cometa um erro, as consequências fatais podem atingir pessoas completamente inocentes que, em muitos casos, apenas estavam no lugar errado e na hora errada.



Como em tantos outros episódios, foi o que se deu com Alírio e Glênio. Sendo dois valorosos revolucionários, seus maiores ensinamentos para a nossa e as próximas gerações, certamente, não deveriam vir do universo do trânsito. Evidentemente, são de outra natureza e de outras estradas as suas maiores lições de vida, na medida em que sempre lutaram pelos seus ideais de liberdade e justiça, contra a exploração de classe.



A todas as pessoas amantes da liberdade e da justiça, fica o desafio de construir outra cultura, calcada na solidariedade, na fraternidade e no respeito à vida. Os exemplos de Glênio e Alírio, também nesse trágico desfecho, vão nos convencendo de que sem a paz no trânsito fica muito mais distante alcançar esse sonho.



George Câmara, petroleiro, advogado e vereador em Natal pelo PCdoB (23/07/09)