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Bases militares: crítica da Bolívia; condescendência do Peru

Se o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, podia encontrar em algum país latino o respaldo que busca ao seu acordo militar com Washington, esse lugar era Lima. E, de forma estratégica, foi lá que ele iniciou sua peregrinação pela região para tentar justificar o pacto que ampliará a presença de tropas dos Estados Unidos na Colômbia. Na Bolívia, contudo, seu segundo ponto de parada, Uribe ouviu críticas do presidente Evo Morales ao plano, que são comuns a outros países.

Alan García e Alvaro Uribe

''Permitir bases militares na América Latina é uma agressão aos governos e democracias da América Latina. Vamos defender a soberania da América Latina'', disse Morales.

Após receber o mandatário da Colômbia, o presidente boliviano contou à imprensa que durante o encontro esclareceu porque é contra à presença militar de outros países na região. ''Eu expliquei a ele o que faziam os militares norte-americanos em Chapare'', região subtropical do centro geográfico da Bolívia, onde Morales atuou como dirigente dos cultivadores de coca.

''Eles reprimiam o movimento camponês e indígena. Como fui vítima dos soldados, disse que me sinto agredido com a presença dos militares norte-americanos não apenas na Bolívia, mas em toda a América Latina'', contou.

Morales disse ainda que irá propor que na próxima reunião da União das Nações Sul-Americanas (Unasul) se discuta um projeto de resolução que proíba a presença de militares estrangeiros na região, assim como a criação de uma Escola da Defesa regional. O encontro está previsto para a próxima segunda-feira, em Quito, Equador.

Uribe, por sua vez, deixou a sede presidencial da Bolívia após encontro de uma hora e meia, sem fazer declarações. Ele limitou-se a ''agradecer o espaço de diálogo com o presidente Evo Morales'' e a enviar ''um cumprimento ao irmão povo da Bolívia''.

Segundo Morales, o colombiano disse que quando concluir sua viagem à América do Sul, irá informar os resultados de suas conversações com os outros colegas. No total, ele visitará sete países da América do Sul.

Além da Bolívia, os governos da Venezuela, Nicarágua, Equador e do Brasil também criticaram os planos do governo colombiano. Nesta terça-feira, o assessor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Marco Aurélio Garcia, disse ao assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, general Jim Jones, que a existência de bases militares americanas na região lembram a Guerra Fria.

''Expressei nossa percepção de que bases estrangeiras na região parece um pouco como resquício da Guerra Fria'', disse o assessor de assuntos internacionais da presidência, Marco Aurélio Garcia, logo após encontro com o general americano.

Ombro amigo

Antes da Bolívia, Uribe esteve no Peru, onde foi recebido pelo mandatário Alan García, que declarou que seu governo ''sempre respaldará'' a promoção da pacificação e do desenvolvimento da Colômbia.

Garcia, um forte aliado de Uribe, disse que o Peru apoia o que chamou de ''políticas fundamentais'' do governo colombiano. ''Acredito que a história reconhecerá, em breve, o quanto foi feito em favor não apenas da Colômbia, mas do modelo democrático do nosso continente graças à força mostrada pelo presidente Uribe e seu governo'', disse Garcia.

A postura de Garcia, apesar de solitária na região, não causa estranhamento. Ele tem em Uribe seu maior aliado no continente. Ambos os presidentes compartilham um alinhamento com os Estados Unidos e o enfrentamento a governos de esquerda na América Latina. O governo de lima também tem demosntrado a disposição de permitir a presença militar norte-americana.

Ainda em 2007, o jornal Página/12 anunciava que Lima e Washington tiveram conversas para instalar uma base dos EUA no Peru, em substituição à de Manta, no Equador. A tentativa, que gerou fortes críticas externas, nãomprosperou, porém, a presença militar norte-americana no país aumentou.

Em 2008, mil soldados dos EUA ingressaram na região de Ayacucho, onde se concentram grupos armados de Sandero Luminoso e cultivadores de coca. Este ano, o governo García firmou um convênio com Washington para permitir que navios de guerra da ressuscitada IV Frota, que opera na região, utilizem portos peruanos.

No país há duas bases do Departamento Anti-Drogras ( DEA). O governo também tem estreitado a colaboração militar e de inteligência com a Colômbia. Os dois países realizaram operações conjuntas este ano.

Dificilmente Uribe encontrará em algum outro país que visitará o respaldo que obteve de Lima. Hoje, ele se encontrará com as presidentes do Chile, Michelle Bachelet, e da Argentina, Cristina Kirchner, e com o mandatário paraguaio, Fernando Lugo. A reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva será na quinta-feira, dia em que Uribe também será recebido pelo uruguaio Tabaré Vázquez.

O acordo militar, que ainda está em fase de negociação, poderá transformar o país latino-americano no reduto das operações militares americanas na América do Sul. O acordo prevê o uso, pelo Exército americano, de até sete bases militares na Colômbia.

Com agências