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Dossiê da CIA abre técnicas de tortura contra "terroristas"

Agentes dos Estados Unidos ameaçaram prisioneiros com revólveres, furadeiras
elétricas e o estupro de familiares durante interrogatórios. Os dados constam de relatórios secretos da CIA tornados públicos nesta segunda-feira (24). Diante das revelações, o procurador-geral dos EUA, Eric Holder, indicou o procurador federal John Durham para investigar o uso de torturas pela CIA na "Guerra Contra o Terror".

O Departamento de Justiça dos EUA recomendou também nesta segunda-feira a
reabertura das investigações sobre muitos casos de "abusos" cometidos pela CIA
contra prisioneiros, no Iraque e no Afeganistão. No mesmo dia, o presidente Barack
Obama anunciou que uma nova unidade de elite, sob supervisão direta da Casa
Branca, passaria a interrogar os suspeitos de terrorismo.

Furadeira elétrica em interrogatório

Os relatos de torturas estão em um relatório da CIA, rdvcrito em 2004 mas só agora
divulgado pelo Departamento de Justiça. O documento, que tem páginas inteiras
censuradas, descreve "abusos" cometidos durante o interrogatório de supostos
terroristas.

Conforme o relatório, os interrogatores ameaçaram matar os filhos de Khaled Cheikh
Mohammed, apresentado como o cérebro dos atentados de 11 de setembro de 2001,
para fazê-lo falar.

Abdel Rahim al-Nachiri foi interrogado com um revólver apontado para sua cabeça. Depois, foi ameaçado com uma furadeira elétrica. Ele era suspeito de planejar o atentado de outubro de 2000 no Iêmen, contra o navio de guerra USS Cole.

Em outra ocasião, um inérprete disse a al-Nachiri (tido como um alto dirigente da Al Qaeda) que "nós podemos trazer tua mãe aqui" e "podemos trazer tua família aqui". Conforme o próprio relatório da CIA explica que, na época, corria o rumor de que as técnicas de interrogatório incluiam o estupro de mulheres na frente de seus familiares.

O correspondente da BBC de Londres em Washington, Daniel Sandford, escreveu que há "forte preocupação" de que esses métodos de interrogatório tenham sido usados por outras agências. Além da CIA, ele cita o FBI e as forças armadas.

Tortura ameaça crise no governo Obama

"Estou totalmente consciente de que a abertura desta investigação vai ser contestada", disse Eric Holder ao anunciar a missão de Durham. Ele se referia ao fato de que o atual diretor-geral da CIA, Leon Panetta, ao ser nomeado por Barack Obama, declarou-se contrário à reabertura dos dossiês sobre tortura.

Panetta, em e-mail para os funcionários da CIA nesta segunda-feira, reafirmou sua posição. Disse que iria "dar apoio àqueles funcionários que fizeram o que seu país requeria e que seguiram a orientação legal que lhes era dada". Ele agrega, porém, que "a agência não desculpa o comportamento, ainda que raro, daqueles que foram além das orientações formais em matéria de contraterrorismo".

Segundo o jornal The New York Times, Holder, ao assumir suas funções, descobriu que os papéis mencionavam casos de assassinato de prisioneiros, de tortura física e moral. Isso o levou a pedir a reabertura da investigação, abrindo uma cisão na equipe de governo.

O uso da tortura – a palavra em geral é substituída por feufemismos como "abusos" – transformou-se em política de governo dos EUA destacadamente durante a "Guerra Contra o Terror", declarada pelo presidente George W. Bush após o 11 de Setembro. Depois da posse de Obama, o vice de Bush, Dick Cheney, passou a encabeçar uma campanha de opinião pública em que defende abertamente os torturadores, em nome da "segurança nacional".

O governo Obama tenta evitar que as revelações se transformem em uma crise aberta. "Bom, como o presidente tem dito repetidamente, ele pensa que deveríamos olhar para frente, não para trás", disse Bill Burton, subsecretário de Imprensa da Casa Branca, falando à imprensa em Oak Bluffs, onde o presidente se encontra de férias com a família.

Burton, porém, tratou de não dar a impressão de intromissão da Casa Branca no trabalho da Procuradoria. "O presidente acha que Eric Holder, que foi apontado como um procurador-geral muito independente, deve tomar sus decisões", disse o assessor. "O presidente diz que a decisão de quem será investigado e quem processado está em suas [de Holder] mãos", completou.

Da redação, com agências