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Trabalhadores pagam a conta da crise nos EUA

A produtividade dos trabalhadores norte-americanos disparou, no segundo trimestre deste ano. Segundo revelou o Departamento do Trabalho norte-americano, o índice de produtividade aumentou a uma taxa anual de 6,6 por cento. Assunto recorrente nos Estados Unidos, a produtividade do trabalho encerra lições profundas sobre as relações de trabalho no mundo capitalista. No caso específico, o pano de fundo é a explosão do desemprego no epicentro da crise econômica global.

Por Osvaldo Bertolino

A renovação da produtividade empresarial nos Estados Unidos desde meados da década de 1990 ainda tem espaço a ocupar, uma vez que leva tempo para explorar completamente o potencial das novas tecnologias, disse recentemente o presidente do Federal Reserve, o Fed ( o banco central norte-americano), Ben Bernanke.

"Essa renovação da produtividade é bom agouro para o futuro da economia dos Estados Unidos", afirmou Bernanke em um discurso no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês). Para ele, as pesquisas sugerem que a atual renovação da produtividade ainda tem algumas pernas, “já que os completos benefícios das recentes mudanças tecnológicas ainda não foram inteiramente realizados", disse ele.

Aumento da produtividade quer dizer, sucintamente, mais valor agregado à produção por cada hora trabalhada. Como o aumento da produtividade é apropriado não pelo trabalhador mas pelo proprietário privado da produção, segundo o velho e preciso conceito marxista, a conclusão a que se pode chegar é que os trabalhadores norte-americanos passam por uma brutal exploração assalariada.

Ou seja: trabalha-se muito mais pelo mesmo salário. Na economia capitalista contemporânea — da qual os Estados Unidos são o carro líder —, há, além da profunda crise econômica global que desemprega em massa, dois fatores que explicam esse vertiginoso aumento da produtividade. Primeiro, há o aumento da jornada de trabalho e a redução salarial — basicamente por conta dos processos de terceirização.

Maneira perversa

O segundo é mais complexo e diz respeito às inovações tecnológicas e gerenciais adotadas em larga escala, particularmente nos anos 90. Nos Estados Unidos, cunhou-se o termo "nova economia" para explicar o "fenômeno" da produtividade que, segundo o ex-presidente do Federal Reserve — o Banco Central norte-americano —, Alan Greespan, seria resultado da sábia combinação de desenvolvimento tecnológico e mercado de trabalho "flexível".

O assunto chegou ao Fórum Econômico Mundial, na cidade suíça de Davos, em 2000, e foi debatido numa reunião na Casa Branca com "especialistas". Havia, na verdade, uma bolha especulativa por trás daquela euforia, que estourou e mandou para os ares o termo "nova economia". Hoje, praticamente não se fala mais nisso. Mas a euforia norte-americana com a produtividade continua sendo amplificada.

Vista pelo ângulo dos interesses dos trabalhadores, não há nenhum motivo para euforia. Já em 1997, o economista da Organização Internacional do Trabalho (OIT) Lawrence Michel disse: "A maior parte dos ganhos de produtividade vem do aumento do número de horas trabalhadas. Quando o mesmo número de pessoas trabalha mais horas pelo mesmo salário, é natural que a produtividade aumente — mas de uma maneira perversa, que não deve ser comemorada."

Concorrente do trabalhador

Essa discussão é antiga. No artigo Do Socialismo Utópico ao Socialismo Científico, Friedrich Engels escreveu: "É a força da anarquia social da produção que converte a capacidade infinita de aperfeiçoamento das máquinas num preceito imperativo, que obriga todo capitalista industrial a melhorar continuamente a sua maquinaria, sob pena de perecer. Mas melhorar a maquinaria equivale a tornar supérflua uma massa de trabalho humano (…). A expansão dos mercados não pode desenvolver-se ao mesmo ritmo que a produção. A colisão torna-se inevitável."

Em O Capital, Karl Marx escreveu: "Sob sua forma máquina (…), o meio de trabalho se torna imediatamente o concorrente do trabalhador. A máquina cria uma população supérflua, isto é, útil para as necessidades momentâneas da exploração capitalista." A situação do mundo do trabalho hoje, enfim, reflete a complexidade das mudanças havidas nos últimos tempos em termos econômicos e políticos.

Há uma monumental propaganda ideológica contra os ideais de emancipação social dos trabalhadores, mas os fatos deixam bem definido o sentido falacioso das teses ditas modernas sobre a relação capital-trabalho. A velha máxima de acumulação de capital às custas do empobrecimento da grande massa da população mundial está sendo aplicada em seu grau máximo nos Estados Unidos.