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Guerra de extermínio entre rivais causou novo massacre no México

As 18 pessoas mortas na noite da última quarta-feira (2) em um centro de reabilitação de drogados na Cidade Juárez, no México, se somam a outras 33 que foram assassinadas nos dias anteriores no município fronteiriço do estado de Chihuahua.

Não é a primeira vez que grupos de narcotraficantes executam pessoas nestas instituições, mas desta vez a chacina foi ainda mais cruel. No ataque, quatro homens encapuzados, disfarçados de agentes da AFI (Agência Federal de Investigação), entraram no Centro de Reabilitação para Drogados Aliviane armados com fuzil AK-47, da mesma forma como fizeram, há alguns meses, na operação que liberou 54 narcotraficantes de uma prisão no estado de Zacatecas.

“O tiroteio contra os internos que buscavam se reabilitar durou uns 15 minutos”, afirmaram algumas testemunhas.

O centro de reabilitação está localizado no coração da Cidade Juárez, a duas ruas de uma delegacia de polícia e da ponte Santa Fé, que leva a El Paso, no Texas. O município mexicano registra o maior número de assassinatos do país.

Os policiais que estiveram no local encontraram mais de uma centena de cartuchos e “saíram com as botas manchadas de sangue”, segundo comentou um jornalista da Agência AFP.

Motivação

A procuradora de Justiça de Chihuahua, Patricia González, afirmou ontem que a execução das 18 pessoas se deu devido a uma “guerra de extermínio entre grupos rivais [de narcotraficantes] que atuam perto da fronteira”.

Segundo Eduardo Esparza, porta-voz da Procuradoria estatal, uma das linhas de investigação é a possibilidade de que um dos executados fosse filiado a um bando rival.

O secretário de Segurança Pública, Genaro García Luna, afirmou que a organização de narcotraficantes conhecida como La Familia está utilizando centros de reabilitação de viciados para formar os novos quadros do grupo e doutriná-los, utilizando a religião e a fé para justificar ações criminais, e a intimidação como meio coercitivo.

García Luna declarou que “Rafael Cedeño, chefe operativo de La Família, detido em abril, era o responsável pelo doutrinamento e recrutamento do grupo através de centros de reabilitação que ele controlava em toda a Michoacán”, o estado natal do presidente Felipe Calderón.

Segundo Luna, Cedeño levava os jovens que saíam destes centros a retiros espirituais onde impunha valores religiosos e regras que deveriam ser cumpridas, como não consumir drogas e não roubar o produto de suas atividades.

“Gente que era recuperada e depois entrava para o grupo criminal, se não cumprisse o determinado era executada em nome de Deus”, acrescentou o membro do governo.

Tema complexo

A luta contra o narcotráfico no México é um tema delicado e controvertido. O analista político e deputado do estado de Chihuahua pelo PRD Víctor Quintana Silveyra afirma que, no estado, há grupos tipo esquadrões da morte que buscam exterminar viciados. Ele exige que autoridades federais e estatais apresentem uma explicação à população para o ocorrido.

“Por que está acontecendo esse tipo de massacre? Por que a Secretaria de Segurança Pública Estatal, tendo consciência do que está ocorrendo nos centros de reabilitação, não tomou as medidas de prevenção oportunas e adequadas? Quem supostamente as está perpetrando? Que tipo de controle há sobre os centros de reabilitação de viciados? Quais ações serão realizadas para evitar este tipo de massacres? Não podemos permitir que Estado e sociedade se acostumem a ver este tipo de massacre como algo normal e cotidiano”.

Diante de tanta violência, muita gente acaba se mudando para outro lugar. “Saí de Creel (Chihuahua) depois que no ano passado houve a matança de 14 pessoas, entre as quais um menino de um ano e meio”, conta Rafael, um operador de turismo da zona da Barranca do Cobre [parque de cânions no sudoeste de Chihuahua]. “Não quero me acostumar a estas coisas. Agora, vivo no Distrito Federal, mas quando puder vou sair do país”.

Ao lado do debate político, as condições de segurança da população são preocupantes frente aos números da violência: mais de 13 mil pessoas foram assassinadas nos últimos dois anos e meio.

Um especialista em segurança da Cidade Juárez – que pediu anonimato – disse que se trata de um “processo de profilaxia social, um ataque letal tão parecido ao que ocorreu em Nova York, com Rudolph Giuliani, que limpou Manhattan”, comentou ele se referindo à postura do prefeito de Nova York (1994-2002) em adotar uma “política de tolerância zero” aos narcotraficantes.

No entanto, o secretário de Segurança Pública defende que a “experiência internacional, como em Nova York, Chicago e Palermo, mostra que, quando o Estado combate o crime, na primeira etapa do processo, a violência aumenta”, conclui Luna.

Fonte: Opera Mundi