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Eleição legislativa portuguesa agita comunidade no Brasil

As eleições legislativas portuguesas para a Assembleia da República, marcadas para o dia 27 de setembro, também agitam as comunidades de emigrantes portugueses ao redor do mundo. O Vermelho entrevistou dois candidatos da CDU, coalizão que reúne o PC português e o Partido Os Verdes, Inês Zuber e Ildefonso Garcia.

Com uma diáspora de mais de 5 milhões de emigrados, Portugal é um dos países que ficaram marcados ao longo do século 20 por uma gigantesca emigração. Cerca de 1,3 milhão de portugueses vivem hoje no Brasil, principalmente nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro.

A Assembleia da Republica, o parlamento português, destina quatro de suas vagas a candidatos eleitos fora do país, por membros da comunidade portuguesa emigrante. A Coalizão Democrática Unitária, formada pelo Partido Comunista Português e pelo Partido Os Verdes, tem candidatos ao parlamento.

Os candidatos da CDU Inês Zuber e Ildefonso Garcia (foto) visitaram no final de agosto a sede do PCdoB, tendo sido recebidos por Adalberto Monteiro, membro da executiva nacional do PCdoB. A lista da CDU inclui ainda os candidatos, Ludgero Escoval (de Angola) e Deonilde Pereira (da Austrália)

Garcia e Inês também se reuniram com a direção do Centro Cultural 25 de Abril, uma das diversas associações de imigrantes portugueses existentes aqui no Brasil. Os candidatos da CDU puderam ver a biblioteca da associação, especializada em livros e documentos sobre a emigração portuguesa e que contém o maior acervo de documentos no Brasil sobre a Revolução dos Cravos e da oposição à ditadura de Salazar.

Entre 26 e 31 de agosto, Garcia e Inês mantiveram contatos com a comunidade nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Santos. Nesta quarta-feira, Garcia participa de debate com candidatos do Partido Socialista e do Partido Social Democrata, a partir das 19h, no Salão Nobre da Casa de Portugal de São Paulo.

Inês Zuber, de 29 anos, é socióloga e candidata-se pela primeira vez às eleições legislativas. Faz doutorado em Caracas, na Venezuela e é membro da Associação de Bolsistas e de Investigação Científica do organismo de direção do PCP de Lisboa.

Inês reafirmou, entre outras questões, a necessidade de um maior apoio às organizações de jovens emigrantes, com a promoção de projetos de intercâmbio escolar, cultural e profissional.

O que a CDU pretende destacar na campanha aqui no Brasil?

Durante a campanha eleitoral, os militantes do PCP e ativistas da CDU ao redor do planeta pretendemos destacar para os imigrantes o trabalho que desenvolvemos na Assembleia da República em relação à emigração e ao nosso programa eleitoral. Queremos que os imigrantes saibam que tem nos deputados do PCP porta-vozes das suas aspirações, mesmo sem termos neste momento nenhum deputado eleito pelos emigração.

O que a levou a candidatar-se e o que acha prioritário para a comunidade portuguesa?

Para mim, é um orgulho poder representar o PCP e a CDU, pelo trabalho e mérito reconhecido, um trabalho pautado na participação coletiva dos que desejam construir uma vida melhor. Acredito que é fundamental que os portugueses no exterior sintam o seu trabalho e esforço reconhecidos e valorizados pelo Estado português, e isso implica inclui-los nas mais variadas decisões políticas.

O que é preciso mudar nas políticas de Portugal com relação aos imigrantes?

Os imigrantes portugueses merecem uma política que não os esqueça após as eleições e que os respeite, que os trate com dignidade. A promoção, expansão e qualificação do ensino da língua e cultura portuguesas são essenciais para reforçar os laços de identidade com Portugal

Assim, no nosso programa eleitoral propomos um maior investimento em meios humanos, técnicos e materiais para este ensino, a melhor utilização dos meios públicos de comunicação e o apoio à juventude, com projetos de intercâmbio escolar, cultural e profissional.

No que se refere ao apoio consular, a CDU sempre se posicionou contra o processo de sucateamento dos serviços consulares, que pode conduzir à privatização deles, e defendeu que esses serviços devem ser modernos, eficazes e acessíveis, adaptados aos novos fluxos migratórios.

Apoio aos carentes e aos aposentados

O engenheiro civil Ildefonso Garcia, de 67 anos e que reside no Brasil há quase quatro décadas, destacou as prioridades dos candidatos da CDU, enfatizando a necessidade de reforçar o apoio aos imigrantes portugueses carentes e aposentados.

Garcia aponta o projeto de criação de um fundo amplo de apoio social como o vetor dessa política de valorização e dignificação dos imigrantes.

"Continuaremos a defender a promoção da cultura portuguesa, exigindo um maior investimento em meios humanos, técnicos e materiais para esta divulgação e apoiando a promoção de projetos de intercâmbio da juventude descendente de portugueses com Portugal", apontou.

Garcia destacou também outra das prioridades dos candidatos da CDU, que é a luta contra o sucateamento da rede consular, política empreendida pelo governo neoliberal do Partido Socialista, encabeçado pelo presidente José Sócrates. "A CDU exige serviços consulares modernos, eficazes e acessíveis, que garantam um serviço público de qualidade", comenta.

"Destacamos ainda o apoio e incentivo da participação cívica e política dos imigrantes, com a valorização do movimento associativo,recreativo e esportivo, por meio da criação de condições técnicas e materiais que possibilitem o exercício pleno das suas funções", relaciona.

Para Garcia, os imigrantes, ao votarem na CDU, garantem a continuidade da luta pelos seus interesses.

Por Humberto Alencar,
de São Paulo