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Hip-Hop mineiro visto do alto, do Alto Vera Cruz

O Hip-Hop a Lápis entrevistou com exclusividade Negro F.Fred uns dos coordenadores do Núcleo Cultural NUC – Negros da Unidade Consciente, representante do hip-hop mineiro.

"Do Morro vem o que você não esperava,
Um quilombola com o poder da Palavra" – NUC


Por Beto Teoria

Hip-Hop a Lápis: Como foi a trajetória de surgimento do Grupo de Rap NUC e depois o Núcleo Cultural?
Negro F: O NUC surgiu em 1997, eu e o Renegado iniciamos os trabalhos e depois em 1998 convidamos a Dani e o DJ Francis para fazer parte deste trabalho. Já em 98 fizemos parte da Coletânea Funk Minas um CD com gravações de rap e funk onde tivemos um destaque com a música Cada Um. Ai surgiu varias oportunidades, através de rádios comunitárias e eventos diversos em vários cantos do estado, fortalecendo assim nossa proposta de trabalho.

Em 2000 participamos da coletânea da UJS Revolução Com a Nossa Cara e posteriormente tivemos o 5º lugar no festival Abril Pró Rap em Brasília que gerou um CD do Festival e ajudou a impulsionar nosso trabalho.

Em 2000 pra 2001 participamos de um projeto de intercambio cultural com um grupo de capoeira e o grupo de cantigas de rodas Meninas de Sinhá, onde neste trabalho havia troca de experiências culturais e gerou também um registro fonográfico.

Com as diversas ações que foram geradas em torno deste trabalho fortalecemos nosso corre e em 2003 tivemos um projeto aprovado junto ao instituto Junia Rabelo que possibilitou a criação do núcleo cultural tendo vários cursos culturais e profissionalizantes beneficiando não só a comunidade local, mas boa parte da região de Belo Horizonte.

Após o início destes trabalhos até os dias de hoje, quais as principais experiências que você destacaria?
Acho que a partir de 2005 onde criamos juridicamente a ONG Grupo Cultural NUC, e aí tivemos varias portas abertas. Mas posso destacar também nossa ida a Cuba participar de um festival em Havana, depois fomos a Venezuela participar de um encontro de juventude. Foi nesta época também que ajudamos na criação da Nação Hip-Hop Brasil. Em 2006 a gente mantém os trabalhos com o apoio da prefeitura via lei de incentivos a cultura e em 2008 somos contemplados como Ponto de Cultura o que nos proporciona um trabalho mais especifico e focado no movimento hip-hop.

Quais as principais características dos trabalhos realizados pelos agentes culturais do grupo NUC?
As ações são voltadas para o lado profissionalizantes e sempre buscando ações direcionadas, aqui nas oficinas de break, por exemplo, o b.boy e monitor Fabrício se preocupa em manter o aluno o maior tempo possível em curso, 2 a 4 anos em média pra que ele não seja só b.boy mas seja também um monitor cultural. Um outro exemplo são as aulas de vídeo que serviram para os alunos organizarem as TV’s de Rua que é um projeto onde eles mesmo fazem a programação e divulgam em toda a região do Alto Vera Cruz e comunidades vizinhas na região leste.

O NUC desenvolve ações conjuntas? Quais são os parceiros?
Nós temos varias ações em parceiras não só locais, mas também com outros gestores. Nós temos, por exemplo, o SEBA que é a Seletiva Estadual de Basquete de Rua, que no ano passado teve uma participação muito grande. Temos apoios em algumas atividades do governo do estado, o próprio Ponto de Cultura é uma parceria importante com o Ministério da Cultura e estas parcerias são importantes não só para subsidiar mas também para que os grandes impactos aconteçam.

Qual seria o diferencial dos trabalhos do NUC?
No fazemos ações preocupados em resolver o presente, mas que possam ter propostas pro futuro também e assim trazer novos resultados tanto para o campo musical quanto pra instituição, nos preocupamos com a qualidade das ações e não só quantidade.

Alunos em ação do projeto cultural NUC

Alem da Criação do NUC vocês também são fundadores da Nação Hip-Hop Brasil, porque vocês preferem este trabalho do hip-hop de organização mais institucional?
Não adianta o hip-hop ficar só criticando, dizer que o sistema que está falido, reclamar das leis que nos oprime, temos que nos organizar pra combater as políticas públicas que não atendem as nossas necessidades, e pautar elas não só pros manos do hip-hop mas para a sociedade de uma forma geral.

O hip-hop deve ter participação e posição política?
Com certeza temos que ter esta visão política é ai que esta o diferencial, por sermos uma instituição que tem percepção e sensibilidade pra discutir políticas públicas pra juventude, e que pra muitos da juventude principalmente da periferia é um tema ainda pouco abordado, temos que mostra pra todos que política não é um bicho de 7 cabeças, e trazer as pessoas pro nosso lado pra ter participação popular e demarcar nosso espaço.

Qual principal característica do hip-hop de Belo Horizonte?
Eu acho que é a preocupação política que o hip-hop local tem, tem as bandas que estão no cenário fazendo shows, eventos e tal, mas tão preocupados também em participar dos debates, das reuniões ligadas a culturas, as questões da cidade, o hip-hop aqui se mostra preocupado com a organização do movimento.

O Renegado, um dos fundadores do NUC lançou recentemente CD solo e ganhou dois prêmios HUTUZ 2008, (Melhor Site e Artista Revelação) com se dá está relação do NUC e Renegado?
Tudo tem acontecido de forma muito saudável, nos acreditamos no trabalho dele e ele tem o respaldo do NUC. Ele tem os shows e trabalhos dele, mas também continua atuando aqui no núcleo cultural, em breve será lançado um CD produzido pelo DJ Roger D. que tem o NUC e o Renegado, diferente dos boatos que surgem por ai, tamo firmão junto com o Renegado.

Quais são os meios de comunicação que dão espaço pro rap aqui em BH?
Aqui temos a grande Radio Favela que toca alguns grupos, mas não tem um programa especifico de rap, até estamos em conversa com eles para avançar neste sentido, enquanto isso a gente vai avançando nos meios alternativos, via internet, como vídeos, no Youtube, sites, blogs, etc…

Inclusive temos entidades parceiras nesta área como a Diversidade Cultural e a Associação de Imagem Comunitária – A.I.C.

Na sua opinião o hip-hop e dinheiro combinam?
Com Certeza combina, mas não aquele glamour dos "bling bling’s" americanos. Mas trabalhar tendo dinheiro não faz mal e é importante. Eu que trabalho mais próximo da arte do graffiti por exemplo, pra ter uma tinta de qualidade eu gasto em média R$ 15,00 com uma lata de spray. Infelizmente nos vivemos numa sociedade capitalista e ai eu vou falar que eu não quero dinheiro pra comprar um material bom!? Ter dinheiro traz qualidade de vida pra mim e pra minha família e isso é necessário até pra desenvolver melhor meu trabalho.

Qual a mensagem do NUC para os manos da Nação Hip-Hop?
A partir de uma reflexão destes 10 anos de trabalho do NUC, o que temos que deixar bem claro pra galera é que a informação está ai. E mais do que nunca o hip-hop não é só os 4 elementos, o hip-hop com informação é um grande meio de participação política e nos temos que entender este meio. Hoje o Obama é a grande sensação do momento, mas temos que entender que ter um Obama presidente nos Estado Unidos ou um Lula aqui no Brasil e não ter a participação dos jovens de periferias nas políticas públicas, a gente vai continuar sendo dominado.

O hip-hop tem que se informar, estudar, ocupar as faculdades pra buscar os espaço culturais, políticos e sociais que estão ai, e pra ocupar estes espaços temos que ter informação.

Veja também o vídeo É Tudo Nosso! Parte 15 Minas Gerais, onde participam, Negro F. e o grupo NUC