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 Graffiteiro Thiago Vaz leva Saci Urbano para as ruas e para o UOL

 Sorria: você viu um saci.

De um ano para cá, mais ou menos, a criatura mítica do folclore brasileiro passou a fazer aparições na cidade de São Paulo.

Por: Haroldo Ceravolo Sereza
Do UOL Notícias
Em São Paulo

Como escreve o autor da travessura, o grafiteiro Thiago Vaz, "É o Saci Urbano!".

"Isso é muito político, porque o Saci vem representar, no meio urbano, o pobre sofredor brasileiro", diz Vaz. O grafiteiro explica que gosta de fazer suas intervenções onde sabe que o personagem pode desaparecer: como a arte de rua, o Saci Urbano é efêmero.

O Saci Urbano, assim, não é apenas uma brincadeira. Em muitos deles, há uma crítica política, que pode ser expressa ou refinada. Durante uma batida policial, por exemplo, vem o aviso: "Quem for negro levanta a mão!" O saci, em vez de levantar uma, como se fosse uma chamada numa sala de aula, levanta as duas, como quem leva uma geral.

Por vezes, essa crítica é menos explícita, mas não necessariamente menos contundente. Na parece de um supermercado, ele conduz um carrinho de compras. Dentro do carrinho, um peixe, como se fosse um aquário: "É o Saci consumista".

Na beira de um rio poluído, o Tamanduateí, o Saci tentava pescar; sintomaticamente, ele já foi apagado da pilastra que sustenta do corredor de ônibus do Expresso Tiradentes. Perto da estação de trem, ele usa uma máscara cirúrgica, escondendo a cara e, ao mesmo tempo, protegendo-se da gripe suína.

Por outro lado, o Saci comemorou a construção de uma ciclovia. Afinal, segundo Vaz, o Saci, acredite, é um cara de bom senso: se uma coisa boa aparece, o negócio é aproveitar.

Como se vê, há um processo de adaptação do Saci para o meio urbano. Porque uma coisa é proteger as matas, outra, com explica o lugar comum, a selva de pedra.

Thiago diz costuma pedir autorização para fazer seus grafites, com algumas exceções – algumas delas acabaram sendo bem aceitas e incorporadas pelos proprietários da parede, como é o Saci Consumista.

Em alguns casos, o Saci pode ser um pedido do dono do pedaço. Em Santo André, onde fez um grande painel de um Saci que está na fronteira entre a mata e a cidade, houve uma encomenda. A dona da casa, a artesã Bárbara Castelo Xavier, que faz enfeites para casamentos e batizados, viu o Saci pela cidade, procurou por seu autor e acabou por encontrar Thiago Vaz.

Vaz não quis cobrar. Não sabe ainda se personagem pode fazer comercial. Pediu só que a dona pagasse o gasto com os materiais. Ganhou também um almoço, para depois do encerramento dos trabalhos.

Mas como saber se o Saci que você viu por aí é urbano ou apenas um velho exemplar do mundo rural perdido na cidade, mas ainda não adaptado?

Primeiro, veja o que ele está fazendo: o Saci Urbano, por exemplo, curte andar de skate (embora de vez em quando acabe esborrachado) – e seu estilingue mira contra ratazanas, não contra bucólicos passarinhos.

Só uma coisa ficou igualzinha nesta transição: o cachimbo. O Saci Urbano continua um fumante inveterado. Como o Saci, tanto o urbano quanto o rural, anda bem comportado ultimamente, é possível que ele cumpra a lei antifumo.

Mas, se não der, ele sempre pode usar um velho truque: desaparecer.