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Obra pioneira na luta feminista é relançada pela Imprensa Oficial

 Lançado pela primeira vez em 1923, "Voto feminino e feminismo" volta ao mercado editorial agora com a edição fac-similar que a Imprensa Oficial lança em 18 de setembro, na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, no Largo São Francisco.

Diva Nolf Nazario era uma jovem estudante de direito corajosa e obstinada que, na São Paulo da década de 1920, acreditava na igualdade de direitos entre homens e mulheres. Ao tentar alistar-se como eleitora, teve a solicitação negada seguidas vezes –afinal, votar, naquele tempo, era algo exclusivo para o sexo masculino. Os obstáculos a desafiaram e a sua batalha pelo voto ganhou uma coluna na imprensa onde comentava suas próprias idas e vindas na busca da cidadania plena e o desenrolar do movimento feminista no Brasil e lá fora.

“Voto feminino e feminismo" é o resultado desse conjunto de artigos, uma obra até então rara e agora republicada em edição fac-similar da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, cujo lançamento será no dia 18 de setembro, ao meio-dia, na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo – Sala Visconde de São Leopoldo, no Largo São Francisco, 95, em São Paulo.

O "livrinho", como modestamente o denominava Diva, está longe do diminutivo modesto. Foi uma obra de impacto na época e é hoje um dos principais registros dos primeiros anos de ação feminista no país. Com seus textos, encerrados muitas vezes com frases como "Viva o Brasil" e "Viva o voto feminino", a autora pretendia, como ela mesma diz, "fazer ruir todas as atribuições de fraqueza e de incapacidade da mulher para fins políticos".

"Este pequeno livro, em sua simplicidade, é um significativo documento das lutas femininas pela emancipação", afirma o advogado e professor Claudio Lembo, ex-governador de São Paulo, responsável por redescobrir a obra. "Os leitores encontrarão nas páginas desta publicação os muitos obstáculos superados pelas mulheres na batalha pela autoafirmação. Alguns dos acontecimentos narrados se desenrolaram no interior da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, hoje majoritariamente ocupada pelas jovens estudantes de Direito".

Pelos familiares, Diva é lembrada como uma mulher extraordinária, trabalhadora e sempre à frente de seu tempo: usava jeans e dirigia carros muito antes que se tornassem hábitos comuns entre as mulheres. Em seu livro, revela-se pesquisadora incansável do território constitucional do período (1889-1891), particularmente no que se refere ao percurso evolutivo do voto feminino no panorama nacional e internacional.

Três textos complementam a edição. A apresentação é da professora de direito da USP Monica Herman Caggiano, que trata da contribuição de Diva Nolf Nazario na causa feminista brasileira. A obra, segundo ela, é "quase um grito de liberdade da autora na incansável perseguição pela conquista dos direitos políticos da mulher, do seu direito de votar e de participar do polo de tomada das decisões políticas, enfim, do direito de ser reconhecida como cidadã"

Talita Nascimento, terceira mulher eleita para a presidência do Centro Acadêmico XI de Agosto, do Largo de São Francisco, escreve o texto seguinte, sobre a influência dos valores democráticos e igualitários da agremiação para que Diva Nazario fosse atrás de seus direitos – fator culminante para a revolução da mulher no século XX.

Na conclusão da obra, Augusto Buonicore, historiador e mestre em ciência política pela Unicamp, traça um panorama da história das mulheres na luta pelos direitos políticos no Brasil. Apesar das conquistas, ainda há muito a vencer: as mulheres ainda são as maiores vítimas de violência doméstica e de abuso sexual na infância. Outras formas de opressão são praticadas, como o preconceito e a discriminação.

A autora

Regina Cecília Maria Diva Nolf Nazario nasceu em 22 de novembro de 1897, na Fazenda Itatinga, no município de Batatais, em São Paulo, e faleceu em 18 de abril de 1966. Em 1907, viajou com seus pais para a Bélgica e lá permaneceu durante 10 anos. Retornando a São Paulo, fez o curso de Direito na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, onde conheceu Luiz Duarte Ventura, com quem se casou em 1931, quando adotou o nome Diva Nolf Nazario Ventura. Desse casamento teve dois filhos, que lhe deram três netos e cinco bisnetos.

Voto feminino e feminismo
Diva Nolf Nazario
Imprensa Oficial do Estado de São Paulo
232 páginas
R$ 20,00