Sem categoria

O puff de Yeda Crusius

Nesta quinta feira 8, uma comissão de deputados gaúchos que analisa o pedido de abertura de um processo de impeachment da governadora Yeda Crusius (PSDB-RS) rejeitou a solicitação.

O relatório da deputada Zilá Breitenbach, do mesmo partido da governadora, recomendando o arquivamento, foi aprovado pela Maioria yedista de 16 deputados. A oposição retirou-se da sessão e é praticamente certo que em Plenário haverá repetição do resultado.

A decisão afrontou a opinião da maioria dos gaúchos. No final de semana anterior, uma pesquisa do Instituto Ibope mostrava uma rejeição de 60% ao nome da governadora e 64% de ruim e péssimo na avaliação de seu governo. Perguntados sobre o impeachment, 62% dos entrevistados manifestaram se a favor e apenas 22% contrários.

Números arrasadores

Yeda, diante de índices tão negativos (provavelmente a pior avaliação entre todos os governadores brasileiros) preferiu negar a realidade. Numa entrevista nacional, fez uma interpretação da pergunta feita pelo Ibope no sentido de que as pessoas estavam se manifestando a favor da investigação e não do seu afastamento. A pergunta entretanto, foi feita exatamente neste sentido.

Nos bastidores, algumas interpretações especulavam sobre a intencionalidade da pesquisa, totalmente negativa para a governadora. Uns, acreditando que o ministro Tarso Genro, candidato declarado do PT a governador, estaria disposto a limpar o terreno e desbloquear o campo yedista em busca de aliados entre os partidos de centro como o PDT e PTB, estaria por trás da pesquisa. Outros, que o verdadeiro interessado nos números mortíferos para as pretensões da tucana, seria seu companheiro de partido e candidatoa presidente, José Serra. O governador paulista estaria temeroso de que os escândalos envolvendo o governo gaúcho venham a contaminar sua candidatura. Como os reiterados convites a que Yeda desista de concorrer à reeleição não vêm sendo aceitos pela tucana, Serra estaria, através da pesquisa do Ibope, tentando colocar uma pá de cal nas pretensões da governadora.

Toques e estoques

No meio da semana, enquanto a base yedista cerrava fileiras para enterrar o pedido de abertura do processo de impeachment, surgiram provas de que Yeda reformou sua casa particular e mobiliou o quarto de um neto com recursos do erário público. Conforme o governo, a operação foi legal porque existiria uma lei que prevê a possibilidade de utilizar recursos públicos para isso, devendo a governadora devolver os bens comprados ou pagar por eles no final do mandato.

A foto do puff adquirido na Tok Stok, dos móveis e a reprodução da nota fiscal foram parar nos blogues e colunas políticas. Perto das denúncias de que mais de 300 milhões teriam sido desviados dos cofres públicos nos últimos anos, sendo 44 milhões no Detran gaúcho, os 13 mil reais do puff e dos móveis parecem ninharia. Mas vamos combinar: é imoral demais. Fosse de outro partido ou outras as circunstâncias, Yeda seria defenestrada do Palácio Piratini sem dó nem piedade.

Novo jeito de governar

Yeda elegeu-se em 2006 prometendo um “novo jeito de governar”. Saiu de menos de 5% nas pesquisas para a vitória nas urnas de maneira quase mágica. Isso parece ter vitaminado a arrogância e o sentimento de impunidade da elite que a levou ao Palácio Piratini.

Não foi feito ainda um balanço do custo da crise política que vive o Rio Grande do Sul. Mas sem dúvida é enorme e desolador. Quando um governante se põe a mobiliar sua casa com o dinheiro do povo, é sinal de que inexistem limites e os gaúchos estão, de fato, diante de um novo jeito de governar que afronta a todos.

Por Paulo Cezar da Rosa, na revista CartaCapital