Benedito Bizerril – O Programa Socialista e o NPND

O novo Programa Socialista do PCdoB, em debate, resulta da compreensão da evolução histórica brasileira e do seu atual estágio de desenvolvimento econômico, político e social, que nos coloca a exigência contemporânea de se avançar para um novo ciclo civilizacional.

Nas condições atuais, esse avanço na trajetória histórica de nosso País implica em dar respostas às contradições fundamentais da realidade brasileira, acumuladas na sua evolução política e sócio-econômico, e na afirmação e fortalecimento da nação, na democratização com progresso social e integração solidária com os países da América do Sul.

O sistema capitalista se apresenta, na realidade brasileira, como um entrave ao avanço civilizacional que ora se impõe como exigência histórica de nosso processo de desenvolvimento político, econômico e social.

O socialismo é a alternativa que está posta. Não obstante, as condições para a sua efetivação imediata ainda não se encontram maduras.

O Programa Socialista, expressando o amadurecimento político, o crescente domínio da realidade brasileira e mundial e o aprofundamento das idéias, pelo PCdoB, aponta para a necessidade hodierna de um Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento, como caminho imprescindível à transição ao socialismo.

Aqui, em face das mudanças ocorridas no plano mundial com a crise do capitalismo e das alterações de rumo, no Brasil, implementadas no governo Lula, há que se considerar o avanço na compreensão do Partido sobre a recorrente questão de um projeto nacional de desenvolvimento para o Brasil. Na verdade, projeto este há muito visto tão somente como uma necessidade para se impulsionar, de forma autônoma, o desenvolvimento nacional nos marcos do sistema capitalista.

Neste sentido, dizia o Informe Político ao 10º Congresso: “No início de 1990 as elites dominantes brasileiras começaram a ajustar com a oligarquia financeira transnacional os destinos da nação, atrelando o país ao sistema de poder centrado em Washington e Nova Iorque.” (…) “Formou-se um poderoso pacto dominante, sobretudo a partir do primeiro governo de Fernando Henrique, que procedeu a grande intervenção política, baseada numa justificativa ideológica – a inviabilidade do Estado nacional e do Brasil como nação independente. Desde então a busca de um projeto nacional e democrático foi truncada.”

E, mais adiante, afirmava o Informe Político: “Neste momento, em nosso país, devemos considerar que a mais importante batalha conformada diante de nós resulta, primeiro, do caráter da contradição – projeto nacional autônomo e democrático contra o projeto hegemônico subordinado – produzido pela crise que vive o Brasil…”.

Dizia, ainda, que “o ponto de partida está em derrotar o bloco das forças conservadoras atuais, estabelecendo um novo pacto político e social a fim de recompor e fortalecer o Estado nacional, democratizando-o, para exercer uma intervenção reestruturadora, abrangente e constante, tendo em vista a execução de um projeto de desenvolvimento nacional sustentável com distribuição de renda.”

No entanto, agora vamos além, na medida em que entendemos a exigência de um novo projeto nacional de desenvolvimento, em nível superior ao incrementado no atual governo, com conteúdo mais bem definido e como instrumento essencial para se alcançar a transição ao socialismo.

As condições históricas contemporâneas nos colocaram este “caminho” como o mais viável para, acumulando forças, nos aproximarmos do objetivo estratégico almejado.

Merece realce, no NPND, o plano de concretização das reformas que sintetizam as necessidades mais imediatas para a democratização da sociedade brasileira. São reformas básicas indispensáveis para o avanço do NPND.

Bandeiras como Reformas Política, Agrária, Urbana, Tributária, dos Meios de Comunicação de Massas e Fortalecimento do SUS, exigem um grande empenho dos movimentos sociais e das forças políticas democráticas e progressistas para transformá-las em propulsoras de massiva mobilização da sociedade brasileira.

Urge, portanto, forjar no seio da sociedade a consciência da necessidade de um NPND, com a implementação de extensas e profundas reformas estruturantes.

Certo é que a construção de um NPND se constitui num desafio extraordinário, que não pode se restringir a pequenos agrupamentos, eis que exige a mais abrangente participação e mobilização da sociedade, notadamente dos trabalhadores da cidade e do campo, da intelectualidade progressista e de amplos segmentos da nação, inclusive de setores empresariais não beneficiários do rentismo especulativo.

Neste sentido, é essencial superar o corporativismo e o economicismo no âmbito dos movimentos sociais e da luta sindical, privilegiando a ação política transformadora.

Por fim, para se garantir a efetiva concretização dos objetivos delineados no novo Programa Socialista, é condição primordial a existência de um PCdoB forte quantitativa e qualitativamente, com presença hegemônica em todos os setores fundamentais da vida social e política do País, organizado e atuando nos mais distantes recantos da nação.

Torna-se inadiável concentrar esforços e dar mais atenção aos Comitês Municipais, na formação e capacitação de seus quadros dirigentes, visando expandir o Partido, enraizando-o nos diversos setores e localidades, através da construção e funcionamento de organizações de base ativas e permanentes.

Estas são exigências que estão colocadas como condição para o Partido exercer papel hegemônico na ampla frente de forças políticas e sociais que conduzirão o processo de transformação revolucionária da sociedade brasileira.

Assim, cuidar do Partido e dos seus quadros é tarefa de grande envergadura e de urgente necessidade.

Como observação final, entendo ser necessário enxugar mais o texto, suprimindo repetições de idéias já formuladas em outros itens, a exemplo dos itens 47 e 48, co Capítulo V – Programa Socialista para o Brasil – que já se encontram contempladas no Título IV – Desafios históricos da construção da nação, da sua formação até a época atual.

Benedito Bizerril é Membro do Comitê Estadual e da Comissão Política Estadual do PCdoB no Ceará