Sem categoria

Criticar China é cinismo, diz o Nobel de Literatura Günter Grass

Em respostas aos ataques à participação chinesa na 61ª Feira do Livro de Frankfurt, o veterano autor alemão Günter Grass, Prêmio Nobel de Literatura de 1999, desatou a criticar o seu próprio país. Em debate realizado nesta sexta-feira (17) para comemorar os 50 anos de lançamento de O Tambor, promovido pelo jornal Die Zeit, Grass disse que "é cinismo criticar a corrupção na China".

O país é o convidado de honra do maior evento editorial do mundo, que acontece até este domingo. Os organizadores da feira, porém, estão sendo criticados por homenagear a China — em vez de bajular a cultura ocidental pela enésima vez.

Grass é conhecido pelas suas posições de esquerda, por lidar com o peso do passado nazista e por apontar o dedo para as feridas sociais na Alemanha contemporânea. Foi, por exemplo, um grande opositor da forma como ocorreu a reunificação alemã. No próximo mês, serão comemorados os 20 anos da queda do Muro de Berlim.

Na véspera de sua intervenção em Frankfurt, Grass já havia criticado a “arrogância” de se achar que a Alemanha possui uma democracia perfeita e havia declarado que o país era “infestado pela corrupção”. O autor fez suas declarações em Frankfurt à revelia dos esforços do moderador, que tentava manter a discussão centrada no livro

As comemorações de O Tambor ocorreram no dia em que Grass completou 82 anos, com direito a champanhe. Ele lançou seu romance há exatos 50 anos, na própria Feira de Frankfurt. É seu livro mais famoso e foi de certa forma o romance inaugural da literatura alemã no pós-guerra.

O autor comentou que fez na época uma obra "de risco", já que não era conhecido e não tinha nada a perder. Também disse que havia feito um livro sobre a sua "província", a região de Gdansk (atual Polônia), e que nem imaginava que o livro seria compreendido fora da Alemanha ("Se fosse entendido na Baviera, já seria uma sorte").

O autor disse que usou, como referência para seu livro, Cervantes e "o grande romance picaresco espanhol". Também falou que Rabelais foi uma fonte de inspiração. Sobre as acusações de pornografia na época do lançamento, lembrou que nos anos 50 o país ainda lidava com a herança do nazismo. "O livro não é sobre a busca da pátria, mas sobre a ausência dela."

Na tarde de sexta-feira, acompanhado do percussionista Günter Baby Sommer, o autor leu uma seleção de O Tambor. De forma vigorosa e de pé, interpretou os trechos sobre a história de Oskar, o menino que se recusou a crescer durante a 2ª Guerra Mundial. No ano passado, Grass já havia participado da feira para lançar Die Box, a segunda parte das suas memórias. A editora Record vai lançar o livro no Brasil, ainda sem data definida.

Da Redação, com informações da Folha de S.Paulo