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 Em Portugal, comunidade testará 'aldeia solar' durante um ano

Uma aldeia solar experimental construída em pleno Alentejo, sul de Portugal, com protótipos alimentados pelo calor do sol, projetada para a auto-suficiência energética de 50 pessoas, vai ser testada durante um ano por uma comunidade de pesquisa para a paz.

Quem avança alguns quilômetros por uma estrada de terra batida, próxima de Colos (Odemira), depois de passar por dezenas de sobreiros e de ovelhas pastando, está longe de imaginar que, um pouco mais à frente, numa propriedade com mais de 150 hectares, por entre hortas e casas de taipa dispersas, encontra o campo de testes de uma aldeia solar.

O projeto é da comunidade de Tamera, instalada no Monte Cerro, próximo de Colos, que quer provar que, sem recorrer a combustíveis fósseis ou poluentes, é perfeitamente possível bombear água, produzir e cozinhar alimentos, aquecer e iluminar as casas.

"A ideia é viver um ano inteiro com esta tecnologia, ver como funciona e encontrar os pontos fracos e fortes, para poder projetar um modelo para a Tamera inteira", onde vivem mais de 150 pessoas, explica à Agência Lusa Barbara Kovats, coordenadora da aldeia solar.

O campo de testes conta, por exemplo, com uma estufa multifuncional que, além de permitir o cultivo de alimentos com baixo consumo de água, também aquece óleo vegetal, que é armazenado num recipiente, permitindo assim captar e distribuir o calor entre um motor Stirling, que produz eletricidade, e a cozinha.

Outro protótipo em testes no Alentejo, região escolhida em parte por ser "rica" em exposição solar, é a bomba de água, que funciona, à semelhança dos restantes sistemas, apenas com energia solar termal.

Junto da cozinha, construída no âmbito do projeto, um grande espelho, com cerca de dois metros de diâmetro, desperta a curiosidade: "É um espelho de foco fixo, que vai refletir o sol para um tacho próprio, que aquece água em cerca de 30 minutos".

O esclarecimento é dado por Fabian Deppner, também membro da Tamera e colaborador no projeto, que explica tratar-se de uma tecnologia antiga, mas ainda usada na Índia, num local onde se cozinha para 30 mil pessoas.

Barbara Kovats garante que "estas tecnologias podem adaptar-se a todas as partes da Terra, possibilitando o desenvolvimento regional e a independência das grandes multinacionais da energia".

"É remar um bocadinho contra a maré, mas é exatamente essa a ideia, criar estes modelos alternativos", diz.

As multinacionais "são muitas vezes as responsáveis pelas guerras e pela destruição de povos indígenas e da natureza", acusa, apontando o "dedo", no caso de Portugal, às grandes indústrias energéticas instaladas em Sines.

"A Aldeia Solar é uma das estratégias importantes para demonstrar que a paz é realmente possível", defende a coordenadora, insistindo que o modelo em testes pela Tamera pode ser reproduzido por todo o lado.

A energia necessária para as comunidades, sugere, "pode ser produzida descentralizadamente, em vez de uma grande central abastecer metade do país".

As tecnologias utilizadas na aldeia solar, que será inaugurada neste sábado, foram na sua maioria inventadas pelo alemão Jürgen Kleinwächter, que colabora com esta comunidade residente no Alentejo, a qual acaba por ser o seu "campo de ensaio".

Até o momento, em Tamera estão ainda sendo utilizadas as fontes de energia "normais", à base de combustíveis fósseis, mas com que a comunidade "quer acabar".

Barbara Kovats assegura que, com a aldeia solar que vão testar, estão "a meio caminho" para se descomprometer, sendo que "o próximo passo" será encontrar "patrocinadores", para desenvolver a tecnologia e planejar a sua reprodução.

Fonte: Agência Lusa