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Jornalista brasileira lança livro sobre 'agonia' do Oriente Médio

A jornalista Guila Flint, que vive há 14 anos em Israel, lança livro com reportagens escritas para a mídia brasileira e revela desânimo com o andamento das negociações para o fim do conflito. "Um acordo de paz hoje é mais urgente que nunca, porém mais improvável", completa.

Nos anos 1990, a jornalista brasileira Guila Flint morava em Israel e trabalhava no jornal Darvas, escrevendo sobre a política brasileira. Relatava aos israelenses processos como o impeachment de Collor e a cena política naquele começo da década.

Em novembro de 1995, enquanto passava férias no Brasil, ocorreu o assassinato do então primeiro-ministro israelense, Yitzhak Rabin. Triste com o acontecimento, a convite de um amigo, Guila escreveu para o Jornal da Tarde, de São Paulo, sobre aquele que foi considerado por alguns o maior fato histórico no Estado israelense desde sua fundação em 1948.

A situação então “se inverteu”, como a própria jornalista explica : Guila passou a escrever para o Brasil sobre a situação em Israel. Desde a morte de Rabin, muita coisa aconteceu no território israelense, e as histórias mais importantes desses 14 anos estão agora reunidas no livro Miragem de Paz – Israel e Palestina, Processos e Retrocessos, lançado esta semana pela editora Civilização Brasileira.

Guila assistiu, em seus anos como correspondente, a diversas tentativas de paz na região, e não esconde sua decepção. “Nesse momento estou muito pessimista acerca da possibilidade de solução. As forças moderadas nas duas sociedades estão muito debilitadas”, explica a autora.

Desde que começou a escrever sobre o país, a situação mudou muito. “Para pior”, conta Guila, explicando que essa diferença se dá inclusive de forma geográfica, com o aumento de colonos israelenses nos territórios palestinos.

“Naquela época havia dois lideres, Rabin e Arafat, que tinham tanto autoridade moral como o apoio político e a determinação de levar adiante o processo de paz. Hoje em dia não temos esses lideres”, declarou.

Guila acreditou na possibilidade de paz entre as partes até o assassinato de Rabin. E depois de tantas idas e vindas nas propostas e tentativas de acordo, encontrou um nome para seu livro que fez jus a esse processo. “Porque [a paz] existia, mas não era real”, como explica.

A capa do livro traz uma foto tirada pela própria autora, que mostra um pedaço do muro que Israel construiu na Cisjordânia, no trecho que atravessa a cidade de Belém, onde o artista britânico Banksy grafitou aquela que Guila define como “uma imagem meio paradisíaca com palmeiras, isso tudo pintado em cima do concreto com arames farpados”.

Através das matérias compiladas no livro, é possível entender um pouco mais do panorama político da região nos últimos anos. Foram 315 textos escolhidos cuidadosamente entre mais de 5 mil que Guila escreveu como correspondente. Na seleção estão a entrevista que a autora fez com o líder Yasser Arafat, a surpreendente troca de rins entre um casal judeu e um palestino e a história de Liad Kantorowitz, uma israelense que passou um mês andando pelas ruas de Tel Aviv disfarçada de mulçumana a fim de relatar a experiência.

“A seleção dos textos foi feita de maneira a trazer a história desses 14 anos da forma mais completa e dinâmica possível, porque o livro inclui artigos mais analíticos da situação, mas também tem historias de micro que ajudam a entender o macro”, explica a jornalista.

Guila Flint, que escreveu para Globo News, Jornal da Tarde e O Estado de S.Paulo, atualmente é correspondente internacional da BBC Brasil.

Fonte: Opera Mundi