Antonio Capistrano: Marighella: herói brasileiro latino-americano

Carlos Marighella, mulato nascido na Bahia, na cidade de Salvador, no dia 05 de novembro de 1911, sua mãe, Maria Rita do Nascimento, era descendente dos haussa, habitantes do norte da Nigéria, país africano. O seu pai, Augusto Marighella, era italiano, originário do norte da Itália, da cidade de Ferrara: mecânico, ateu e anarquista. Marighella foi resultado dessa mistura genética e cultural. Essa miscigenação é um fato positivo na formação do povo brasileiro.

Marighella foi assassinado, aos 68 anos, em uma emboscada engendrada pela policia política comandada pelo famigerado delegado Fleury, em 04 de novembro de 1969. Nesse dia Marighella tinha um encontro marcado com frades dominicanos em um ponto no centro da cidade de São Paulo, local onde foi fuzilado sem nem uma chance de defesa.

Marighella pode ser considerado o nosso Che Guevara. Desde jovem participou ativamente da vida política do país, contestando as injustiças, lutando por um mundo melhor. Ainda estudante deixou a faculdade de engenharia para se dedicar ao Partido Comunista do Brasil. Sem temer as conseqüências, tinha uma participação ativa na militância partidária, era um marxista convicto das suas idéias, por isso é preso mais de uma vez, mas, continuou firme na sua convicção ideológica, a prisão, nem a clandestinidade o dobrou aos pés da burguesia, nem aos “encantos” do capitalismo.

A saudosa camarada Ana Montenegro, sua velha amiga e companheira de partido, falando sobre Marighella, no seu livro “Tempos de Exílio”, Editora: Novos Rumos – 1988, o descreve como um homem de uma inteligência privilegiada, que não sufocava os demais. Uma inteligência horizontal, abrindo espaço para que todos pudessem opinar, contribuir e participar. Escutava as opiniões e as respeitava. É verdade que sua personalidade se impunha, muitas vezes, porque o admirávamos. Era eclético, não se limitava às discussões políticas. Gostava de todas as manifestações artísticas. Escrevia poemas e peças de teatro. Ensinava como se estivesse aprendendo. Não dava ordens e nem se apresentava com idéias acabadas.

Aparecia, sim, com idéias arrojadas, audaciosas era um verdadeiro revolucionário. Ana Montenegro estava no exílio quando soube da morte de Marighella e em sua homenagem fez um belo poema publicado no livro Tempo de Exílio. Conversando com Ana ela me contava as história de Marighella, a sua verve revolucionaria e o seu amor pelas liberdades democráticas, a sua paixão pelo socialismo e sua crença nas suas idéias

Marighella um intelectual, um humanista, um grande comunista. Foi constituinte de 1946, teve uma atuação brilhante como constituinte. Era o parlamentar do enfrentamento, um bom tribuno, por isso sempre escalado para falar em nome do partido enfrentando a forte bancada das oligarquias na constituinte.

Carlos Marighella esteve sempre no front das lutas abraçadas pelo Partido Comunista do Brasil. Rompeu com o PC na encruzilhada de decisões significativas na luta contra a ditadura militar, mas não rompeu com os seus ideias, muito pelo contrário radicalizou e foi para luta armada. Destemido, corajoso, além de ser um formulador de teses, intérprete do pensamento marxista, teórico e prático das táticas revolucionárias, ele se doou à causa do socialismo, viveu grande parte da sua vida na clandestinidade convicto da justeza da sua utopia e da sua prática revolucionária.

Os que tiveram a oportunidade de conviver com Carlos Marighella testemunham a sua grandeza de espirilo, de solidariedade e de honestidade. Marighella foi um grande revolucionário. Buscou na Igreja Católica (dominicanos) uma parceria na luta contra a ditadura, contra a tortura, contra as prisões ilegais e os assassinatos que ocorriam nos porões da repressão,

O dia 04 de novembro de 2009 marca os 40 anos de sua morte e o dia 05 de novembro, 98 anos do seu nascimento. Marighella viveu grande parte da sua vida na clandestinidade. Morreu lutando por um mundo justo, sonhando concretizar a sua utopia, acreditando no socialismo como único caminho para um mundo justo e democrático. Buscou na Igreja Católica, através dos dominicanos, a santa aliança, que seria basilar na luta contra a brutal ditadura implantada no Brasil com o golpe militar de 1964.

Todas as homenagens a esse herói dos povos oprimidos, herói do povo brasileiro, presença honrosa na galeria dos grandes vultos da nossa história, se faz necessário. A sua história não pode e nem deve ser esquecida. Carlos Marighella está vivo na memória dos revolucionários, dos comunistas e dos que amam a justiça. Ele faz parte da nossa história, da galeria dos grandes heróis latino-americanos, dos heróis das lutas libertárias em todo o mundo. No seu sepultamento, em plena ditadura militar, o escritor Jorge Amado, seu camarada de partido e companheiro de constituinte, falando em nome dos velhos camaradas disse “Retiro da maldição e do silêncio, e aqui escrevo seu nome de baiano: Carlos Marighella”.

por Antonio Capistrano, filiado ao PCdoB