Mídia quer reverter sucesso da diplomacia brasileira em fracasso
Os alquimistas medievais estudavam como transformar uma substância qualquer, sem valor, em ouro. Nossos alquimistas midiáticos querem converter ouro em merda. Com o (aparente) fim da crise em Honduras, desenha-se um grande triunfo da diplomacia brasileira, que se posicionou de forma muito explícita, corajosa, dura, contra o golpe. A mídia e os diplomatas de pijama (todos ligados ao governo FHC) que ela foi buscar, todos, deram declarações confusas, débeis.
Por Miguel do Rosário, em Óleo do Diabo
Publicado 01/11/2009 02:24
Sem poder criticar o fato do Brasil ter recebido Zelaya, a mídia agora se concentra em atacar o fato do Brasil ter "permitido" que o presidente deposto fizesse discursos da embaixada brasileira. Ora, queriam o quê? Que o governo brasileiro mandasse costurar a boca de Zelaya? Ele é um político, um cidadão, o presidente do país. Tem todo o direito e a liberdade, e mesmo o dever, de se expressar. Ele é o representante máximo do povo hondurenho. Silenciar Zelaya, portanto, equivalia a silenciar o povo. O governo brasileiro até pediu para que ele fosse mais moderado em suas exortações, e ele foi. Mas ele não podia se calar.
A atuação determinada do Brasil junto às organizações internacionais e junto ao governo americano foram determinantes para dar fim à crise em Honduras. Dá engulhos ler, nos jornais, as matérias tecendo loas aos EUA e denegrindo o Brasil. Os EUA é que estavam dúbios. O Brasil sempre foi firme. Se os EUA tivessem sido firmes como o Brasil, a crise teria sido resolvida antes. Quando os EUA resolveram seguir a posição brasileira, e deram um ultimato final à Micheletti, a crise acabou (aparentemente).
Quando noticiou-se que Micheletti havia cedido, a comemoração dos zelayistas na Embaixada do Brasil foi gritar: Viva o Brasil! Viva Lula! Viva Zelaya!
Sabe o que mais? A imprensa brasileira repercute pesquisas de intenção de voto dos candidatos a presidente em Honduras sem o mínimo cuidado de averiguar a cientificidade desses números. Um país deflagrado, no meio de uma crise, com a maior parte da população proibida de se manifestar, se reunir, sair à noite, com vários canais de comunicação fechados, como é possível a realização de pesquisas confiáveis de intenção de voto? Só agora, com a restituição de Zelaya e a normalização institucional do país, será possível apurar com um pouco mais de exatidão as inclinações eleitorais da população.
Ecoando sempre os mesmos diplomatas de pijama, aqueles colonizados da era fernandista, os editoriais da mídia criticam a atuação do Brasil, a qual, todavia, é elogiada no mundo inteiro; e esquecem de criticar um crime político de conotações tenebrosas para a América Latina: um golpe de Estado.
Quem está informado sobre Honduras, sabe que as acusações de que Zelaya pretendia permanecer no poder são mentirosas. Ele queria consultar a população sobre uma assembléia constituinte. O plebiscito não é uma invenção "bolivariana", esse adjetivo demoníaco que a imprensa agora deu para colar em qualquer coisa que não goste, o plebiscito é um instrumento legítimo da democracia. Existe no Brasil, existe em Honduras, existe em qualquer democracia.
Esse golpe em Honduras serviu para mostrar como há um espírito falacioso, autoritário antidemocrático, que finge defender as leis enquanto as rasga. Serviu para nos lembrar de uma palavra muito comum na Roma republicana, leguleìus. Em português, leguleio, aquele que interpreta a lei servilmente, sem observar o espírito que a rege.
Fonte: Óleo do Diabo