Governo da Bahia restaura obra de Glauber Rocha

No ano em que Glauber Rocha completa seus 70 anos, a Secretaria de Cultura do Estado da Bahia, em parceria com a a Associação Baiana de Cinema e Vídeo – ABCV, Tempo Glauber, Cinemateca Brasileira e os Estudios Mega, dá início ao aguardado processo de restauração do longa-metragem: “ O Leão de Sete Cabeças” ( título original: Der Leone Have Sept Cabeças), dirigido por Glauber Rocha, que permanece inédito no circuito cinematográfico nacional.

O convênio foi formalizado nesta segunda-feira (23), durante o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, no Hotel Nacional, com a presença da secretária do audiovisual do Ministério da Cultura em exercício, Ana Paula Dourado Santana, o secretário de Cultura da Bahia, Márcio Meirelles, a diretora da “Coleção Glauber Rocha”, Paloma Rocha, a chefe de gabinete da Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura, Ana Paula Dourado Santana e a vice-presidente da ABCV, Tenille Bezerra.

Realizado sob o impacto de “Antonio das Mortes” em Cannes, após Glauber recusar propostas para filmar em Hollywood, o “Leão” encarna a opção do diretor baiano por um cinema revolucionário, em busca dos mitos fundadores da civilização brasileira. Conforme Paloma Rocha, diretora da “Coleção Glauber Rocha”, o filme inaugura a segunda fase do projeto de restauro da obra do autor, que compreende os filmes feitos na Europa, que demandam uma investigação mais intensa e sistemática. “Até hoje não foram encontrados os negativos originais do filme. Após uma prospecção internacional, o Tempo Glauber localizou na Cineteca Nazionalle di Roma os internegativos do filme com versão sonora em italiano e uma cópia com a versão sonora original”, explica.

Recentemente, uma cópia em 35 mm, com legendas em português, foi encontrada por acaso, por Kátia Chavarry, então assessora de cinema do Centro Cultural Banco do Brasil no Rio de Janeiro, que organizara uma retrospectiva de Rocha nos anos 80.

Esses materiais, aliados a outros que estão sob a guarda da Cinemateca Brasileira, servirão de base para a restauração. A Cinemateca é a responsável técnica pelo projeto, o Estudios Mega procederá a restauração digital em alta definição, e a recuperação do som ficará sob a responsabilidade da JLS Facilidades Sonoras. Esse processo, que conta com direção de Paloma Rocha e curadoria de Joel Pizzini, produzirá, após 12 meses de minucioso trabalho, uma matriz restaurada em 35 mm, que possibilitará novas cópias para distribuição em cinema e DVD. “Utilizaremos tecnologia semelhante adotada na restauração do “O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro”, de Glauber, efetuada em 2007, em Londres”, afirma Paloma Rocha.

Para Márcio Meirelles, diretor teatral e secretário de cultura do Estado da Bahia, o “Leão” é um dos filmes mais importantes de Glauber pelo momento em que foi realizado e pela atualidade de seu tema. “Foi o primeiro filme que ele produziu fora do Brasil e trata das disputas políticas em torno da recolonização da África, um tema muito caro para a Bahia. Ao apoiar a restauração desse filme, o governo do Estado não só demonstra um esforço político de preservação da memória desse grande cineasta baiano, um dos maiores ícones do cinema brasileiro e mundial, como manifesta o desejo de reestabelecer uma relação entre Glauber e a Bahia”, afirma.

A restauração do filme, no valor de R$ 960 mil, será financiada pelo Fundo de Cultura da Bahia, através de convênio com a Associação Baiana de Cinema e Vídeo (ABCV), que coordenará a execução do projeto. De acordo com Meirelles, essa parceria reflete um novo momento das políticas para o audiovisual na Bahia. “A restauração do “Leão”, assim como de outros importantes filmes produzidos por cineastas baianos, faz parte de programa de apoio que visa fomentar desde a criação e produção até a difusão, memória e formação. Queremos construir uma nova ambiência para o audiovisual na Bahia, e o restauro da memória, do que já foi feito e, principalmente, de filmes que geraram uma cinematografia para o Brasil, nos devolve a certeza de que podemos fazer a Bahia ressurgir como um importante polo de produção audiovisual do país”, ressalta.

Lançado no circuito alternativo norte-americano nos anos 70, o filme, de acordo com o crítico e brasilianista, Robert Stam, repercutiu muito na comunidade negra, gerando acalorados debates. No Brasil, contudo, o “Leão” após 3 décadas ausente das telas, voltará enfim a circular em 2010 inteiramente recuperado, proporcionando ao público a oportunidade de debater em plena Era Obama a proposta re-colonizadora de Glauber, inspirada nas teses do pensador da Martinica, Frantz Fanon.

Fonte: Agecom/BA