Jornal diário do Sindicato dos Bancários da Bahia faz 20 anos

Jornalistas, bancários e representantes dos movimentos sociais se reuniram na noite desta terça-feira (1/12), em Salvador, para celebrar os 20 anos de edição diária de O Bancário, o jornal do Sindicato dos Bancários da Bahia (SBBA), que é o único jornal sindical diário no país. O evento contou com palestras do escritor e estudioso do movimento sindical Vito Giannotti e do jornalista Samuel Celestino, presidente da Associação Baiana de Imprensa (ABI).

Giannotti falou sobre a história dos jornais sindicais e ligados aos movimentos populares e ressaltou a relevância do jornal O Bancário ter edições diárias. O escritor falou também de sua admiração pela forma de distribuição do jornal, feita diariamente pelos diretores do Sindicato, que têm nele uma forma de contato direto com a base. “Esta é uma experiência única no país e o Sindicato dos Bancários da Bahia deve se orgulhar muito disso”, disse.

Para Gianotti, o jornalismo sindical deve ser diário, pois não adianta ter imprensa alternativa que não esteja nas ruas todos os dias como um contraponto aos grandes meios de comunicação. Sua pesquisa sobre comunicação sindical constatou a existência de mais de mil sindicatos, porém muitos deles têm jornais sazonais, que chegam ao trabalhador duas ou até uma vez por ano, inclusive, ele diz evitar chamar de jornal pelo tamanho de notícias frias.

Ao jornalista Samuel Celestino, presidente da Associação Baiana de Imprensa, coube a tarefa de falar sobre a imprensa na Bahia, lembrando dos vários aspectos singulares de fazer jornalismo no estado, onde existem poucos veículos de comunicação.

Emoção e resistência

O evento contou ainda com depoimentos emocionados dos jornalistas Ney Sá, primeiro editor da versão diária de O Bancário; Kardé Mourão, presidente do Sinjorba, integrante da primeira equipe jornalística do jornal; além de Rogaciano de Medeiros, atual editor de O Bancário, onde está há 15 anos. O jornalista Pedro Augusto Pereira, morto em 2005, referência no jornalismo sindical, que foi editor de O Bancário também não foi esquecido. “O jornal O Bancário tem lado é a noticia sobre a ótica dos trabalhadores", disse Rogaciano Medeiros.

Os bancários prestaram também uma justa homenagem ao deputado estadual Álvaro Gomes (PCdoB), que foi o idealizador e criador do jornal diário, quando era o presidente do Sindicato. “O jornal diário nasceu em um momento de grande efervescência política, de grande mobilização popular, na época de um governo autoritário na Bahia. E ainda, tínhamos que lidar com a violência contra os sindicalistas. No Sindicato dos Bancários tínhamos um importante aliado, o jornal diário. Trabalhávamos contra as noticias da grande imprensa que, todos os dias, bombardeavam os bancários e a população”, falou Álvaro Gomes.

Organizado pelo atual diretor de Comunicação do Sindicato, Adelmo Andrade, o evento contou também com a participação do presidente da Federação dos Bancários da Bahia e Sergipe, Emanoel Souza; a representante da Coordenação Estadual da Conferência de Comunicação, Julieta Palmeira; o assessor de imprensa do governador Jaques Wagner, Ernesto Marques; além de diretores do Sindicato dos Bancários e de outras entidades do movimento social.

Para Julieta Palmeira, o jornal diário dos bancários e o seu projeto de comunicação é o maior exemplo da luta pela democratização da mídia no nosso país, pois conseguiu furar o bloqueio da grande imprensa em muitos momentos. A comunicação dos bancários protagonizou um dos momentos mais relevantes durante a invasão do campus da Universidade Federal da Bahia pela Polícia Militar, quando estudantes pediam a cassação do senador ACM, envolvido na violação do painel do Senado Federal. Foram as imagens do Sindicato que foram reproduzidas para todo o país.

Referência nacional

Criado na década de 30, junto com o Sindicato dos Bancários da Bahia, o jornal, antigamente chamado de boletim, passou por diversas fases. Em 1° de dezembro de 1989, durante gestão de Álvaro Gomes, passou a ser produzidos de segunda a sexta-feira, se tornando o único no Brasil com edição diária voltado para o trabalhador. Com o passar do tempo, o veículo se tornou referência pelo modelo de comunicação eficiente e fácil, levando informações aos bancários e à população. Hoje é o único jornal sindical diário do Brasil.

Sempre na incansável na busca por melhores condições de vida, o jornal cobriu momentos importantes da história brasileira, como o impeachment do presidente Fernando Collor, o fechamento do Banco Econômico, a privatização do Baneb, a violação do painel eletrônico do Senado, que resultou na renúncia do senador ACM, além da eleição e a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Fazer movimento sindical hoje parece fácil, mas nós já enfrentamos momentos difíceis, quando sofremos perseguições, inclusive da grande imprensa. Agora, ter um jornal diário é ainda mais difícil. Principalmente, um jornal que se tornou referência em todo o país, como O Bancário”, disse Euclides Fagundes, presidente do SBBA.

De Salvador,
Eliane Costa