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Drama urbano: 3 tiros no autor de Atire no dramaturgo

O dramaturgo paranaense Mário Bortolotto, 47 anos, atingido por três tiros às 5h30 de sábado (5) no centro de São Paulo, permanecia internado na manhã de domingo, em estado grave mas estável. O autor de 27 montagens teatrais, e do blog Atire no dramaturgo (http://atirenodramaturgo.zip.net), foi atingido no coração ao reagir a um assalto.


Os tiros foram disparados por quatro homens que invadiram o Espaço Parlapatões, na Praça Roosevelt, Centro de São Paulo. Duas dezenas de pessoas estavam reunidas, após a exibição da peça Brutal, escrita por Bortolotto.

"Um coração enorme"

"Os homens queriam dinheiro, celular, aparentavam estar drogados", contou a atriz Guta Roriz. "Eles mandaram todo mundo deitar no chão. Foi então que um deles me deu uma coronhada."

Segundo testemunhas, a agressão contra a amiga foi o que tirou Bortolotto de si. Ele foi para cima dos bandidos, abriu os braços e pediu que atirassem nele. Os criminosos obedeceram. "Bortolotto é impetuoso, com um coração enorme", afirmou a atriz Martha Nowill, que presenciou o crime.

O dramaturgo foi atingido no tórax, pescoço e ombro. O ilustrador Henrique Figueiroa – Carlos Carcarah –, de 30 anos, também foi atingido por disparos mas não corre perigo.

Os bandidos fugiram em uma Parati. Levaram paletó e um molho de chaves do vigia do bar do teatro.

Imagens ca câmera, a única pista

Ninguém foi preso. A única pista para o 4º Distrito Policial, que investiga o caso, são as imagens de uma câmera segurança, outro elemento emblemático do drama moderno paulistano.

Bortolotto precisou receber oito bolsas de sangue e permanecia sedado na UTI da Santa Casa de Misericórdia. "O coração foi ferido. Com esse tipo de machucado, dificilmente chega-se vivo ao hospital. Mário deu sorte", afirmou o cirurgião e amigo do dramaturgo, Vicente Dorgan Neto, que trabalha no hospital.

Ontem, na Santa Casa, vários artistas esperavam por notícias. Lamentavam que a violência tivesse atingido uma das pessoas que mais batalhou pela revitalização do Centro. Há três anos, o Parlapatões escolheu a Praça Roosevelt como "casa", assim como outros grupos de teatro. Todos reclamavam da falta de segurança no local.

Os Parlapatões suspenderam apresentações, mas os artistas dos palcos vizinhos diziam que o "teatro tem de continuar". "O Bortolotto ficaria muito bravo se a comédia parasse", observou Lulu Pavarin, que prometia apresentar A Locadora de Vídeos.

Prêmio APCA de 2008

Nascido em Londrina, no Paraná, ex-seminarista, Mário Bortolotto é um dos mais respeitados autores da cena teatral brasileira. Fundou em 1985 o Grupo Cemitério de Automóveis e desde 1996 trabalha em São Paulo.

Com textos modernos, que misturam elementos do rock, blues, quadrinhos e cinema, já foi premiado pelo conjunto de sua obra pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA), além de ter recebido o prêmio Shell de Teatro pelo espetáculo Nossa vida não vale um Chevrolet, em 2008.

Bortolotto também é escritor, com quatro livros publicados: a coletânea de poesias Para os inocentes que ficaram em casa e os romances Mamãe não voltou do supermercado, Bagana na chuva e Atire no dramaturgo, este com textos do blog homônimo, criado há 5 anos.

O autor também costuma se apresentar na noite paulistana com sua banda de rock, a Saco de Ratos Blues, que mistura poesia e canções pouco conhecidas de artistas como Itamar Assumpção e Cazuza.

Da redação, com agências