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Uma feira para homenagear Gilberto Freyre

A Festa Literária Internacional de Paraty, o evento literário de maior prestígio do país, vai homenagear em sua oitava edição o sociólogo pernambucano Gilberto Freyre (1900-87). O diretor de programação da Flip, Flávio Moura, também anunciou que o evento terá sua data alterada para não coincidir com a Copa do Mundo: a 8ª Flip vai de 4 a 8 de agosto.

Moura não quis adiantar nenhum nome entre os convidados. Neste ano compareceram Richard Dawkins, Gay Talese e António Lobo Antunes, entre outros. Desde 2003, a Flip já trouxe ao país nomes consagrados como J.M. Coetzee, Ian McEwan, Paul Auster, Toni Morrison e Tom Stoppard.

Freyre é um dos nomes essenciais para os estudos de interpretação do Brasil. "A ideia é que a discussão em torno da sua obra possa trazer para o primeiro plano questões que estão na ordem do dia. A tentativa de fixar uma "identidade brasileira", a volta do ufanismo nesses últimos anos de era Lula, as aspirações de protagonismo do Brasil no cenário internacional", diz Moura. Freyre ganhou em 2008 uma retrospectiva no Museu da Língua Portuguesa.

A maior parte das suas obras está sendo reeditada pela editora Global. A editora vai lançar em julho, na véspera da Flip, um inédito do sociólogo que deve provocar muito debate em torno de sua figura, já bastante polêmica. Trata-se da segunda parte de suas memórias, "De Menino a Homem", obra inédita que permanecia na Fundação Gilberto Freyre, em Recife.

O texto é um conjunto de reflexões biográficas que já em seu início se anuncia como uma continuação de "Tempo Morto e Outros Tempos", o livro de memórias de Freyre que abarca o período de 1915 a 1930.

"De Menino a Homem" vai de 1930 até aproximadamente 1984, três anos antes da morte de Freyre. Pode ser considerado uma obra inacabada, já que acaba de forma "abrupta", segundo o historiador Gustavo Henrique Tuna, especialista na obra de Freyre, que há três anos prepara a edição.

O livro tem entre suas principais passagens a narração que Freyre faz da elaboração e do lançamento (em 1933) de "Casa Grande & Senzala", depois de deixar o país, por causa da Revolução de 30. Num aspecto mais pessoal, ele conta passagens curiosas, como um caso homossexual que teve na Alemanha, nos anos 20.

No texto, Freyre também narra sua relação tumultuada com Getúlio Vargas, que acabou convidando-o para participar do seu governo. Ele cita seus seguidores, como o antropólogo Roberto DaMatta, e nomes da escola "paulista", como Fernando Henrique Cardoso. Mas evita juízos. Segundo Tuna, o livro "humaniza" a figura de Freyre.

Fonte: Folha de S.Paulo