Messias Pontes – Ministro Nelson Jobim é um chantagista (II)

Quem verdadeiramente defende a democracia e acompanha com o mínimo de atenção o comportamento do ministro da Defesa, Nelson Jobim, tem motivos mais que suficiente para ficar preocupado. Todos sabem das trapalhadas que este ministro já produziu no atual governo, levando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a pagar sucessivos micos. No artigo anterior listamos alguns desses micos.

Mais emplumado que qualquer tucano, Nelson Jobim é na realidade o quinta-coluna em permanente ação teleguiada pelo Coisa Ruim (FHC) para desmoralizar o governo e assim cimentar o caminho para o retorno dos entreguistas neoliberais ao centro do poder político. O emplumado ministro vai continuar chantageando o presidente Lula e este, ao ceder, pode acabar se tornando um eterno refém, pagando um micos muito maiores.

Desta vez o presidente Lula – no que pese a posição de liderança que ocupa interna e externamente, e do respeito e admiração que conquistou em todo o mundo – pode ver tudo isso ser jogado por terra. Isto porque o Brasil pode vir a ser punido por não cumprir determinação de organismos internacionais de Direitos Humanos, notadamente da Organização dos Estados Americanos (OEA) e das Nações Unidas (ONU), que exigem a apuração e punição dos agentes do Estado que cometeram crimes de lesa humanidade durante o período da ditadura militar (1964-1985).

Como ministro hierarquicamente superior aos comandantes militares, Nelson Jobim deveria cobrar destes lealdade e disciplina e exigir o compromisso com a verdade e com a justiça, e não acobertar o apoio aos bárbaros crimes cometidos em nome do Estado por verdadeiros animais fardados. Sabem o ministro e os comandantes militares que o Plano Nacional de Direitos Humanos foi amplamente discutido por milhares de brasileiros, inclusive representantes do Ministério da Defesa, e que é uma exigência da sociedade a criação de uma comissão de verdade e justiça.

Para ser fiel ao governo que serve e à nação, Jobim deveria enquadrar os seus subordinados militares e mostrar-lhes que as Forças Armadas terão o nome enlameado se eles continuarem a apoiar os atos de selvageria daqueles que usurparam o poder através de um golpe de estado, rasgando a Constituição que juraram defender e subvertendo a ordem.

Os golpistas podem até se beneficiar da Lei da Anistia, mas os que sequestraram, torturaram, estupraram, mataram, ocultaram corpos e cometeram outras barbaridades não têm direito, nem aqui nem em lugar algum do mundo, à anistia política, pois os crimes cometidos são comuns, são crimes hediondos, crimes de lesa- humanidade, portanto imprescritíveis.

O que se tem observado é que os críticos da terceira versão do Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3) estão a serviço do que há de mais retrógrado no País. A esmagadora maioria sequer leu o documento. Os colonistas e demais jornalistas amestrados repetem o que mandam os que lhes compraram a alma. Estes venderam a dignidade, a moral, a ética e o pouco de credibilidade que tinham. Estes têm urticária quando ouvem falar na possibilidade da criação de um Conselho Federal de Jornalista, pois terão de prestar contas dos seus atos de desvio de conduta.

Os colonistas e demais amestrados continuam omitindo, deturpando e mentindo desbragadamente porque estão a serviço das elites econômicas que lhes pagam e que são radicalmente contra a regulamentação da taxação do Imposto sobre Grandes Fortunas conforme reza o Artigo 153 da Constituição Federal que continua letra morta. Outros avanços contidos no PNDH-3 igualmente são combatidos pelas oligarquias que não querem ceder um milímetro sequer dos seus centenários privilégios.

O ódio de classe é tamanho que os Jornalistas (com jota maiúsculo) que teimam em defender os interesses maiores do povo brasileiro são perseguidos. O combativo Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo foi invadido por quatro policiais militares no último dia 14, durante ato em defesa do PNDH-3, no auditório Vladimir Herzog, com a presença de 200 pessoas.

Várias provocações foram feitas pela Polícia Militar do governador tucano José Serra, mas os jornalistas presentes e a diretoria do Sindicato não se intimidaram, como não se intimidou o grande Audálio Dantas ao denunciar o assassinato, por tortura, do colega Vladimir Herzog, em outubro de 1975. O Sindicato divulgou nota de repúdio, cobrando satisfação das autoridades da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, mas a grande mídia conservadora, venal e golpista simplesmente ignorou.

Aos poucos a maioria dos brasileiros vai tomando conhecimento do verdadeiro teor do PNDH-3, e essa maioria vai exigir que tudo o que está previsto no Programa, notadamente a criação da Comissão da Verdade e da Justiça, seja posto em prática. E em coro vão bem alto gritar: “Chega de chantagens, ministro Nelson Jobim!”

Messias Pontes é jornalista e colaborador do Vermelho/CE

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