Miguel Silva – Viçosa do Ceará: Diário de um professor inquieto

Estive em Viçosa do Ceará, entre os dias 11 e 20 de janeiro deste ano, e apesar de ser uma cidade próxima a Sobral, é a primeira vez que fico por lá mais de dois dias. Fui ministrar uma disciplina de Oficina de Produção de Material Didático em Matemática, para uma turma de Licenciatura do Instituto Vale do Acaraú (IVA).

Ceará

As aulas eram no período da tarde e noite. Durante as manhãs, além de preparar aulas, aproveitei para conhecer um pouco mais aquela bela, simpática e tranquila cidade da Serra da Ibiapaba, além de encontrar um velho e bom amigo, Dr. Fontenele, dos tempos da graduação na UVA, lá pelo início da década de 1990.

Dentre as várias praças, locais históricos e turísticos que visitei, chamou-me a atenção não ter encontrado nenhuma referência aos primeiros habitantes daquele pedaço de chão do Ceará. Não há nenhuma referência aos indígenas que ali habitavam e que seguramente deixaram marcas significativas na cultura e na história dos viçosenses, mas que não são reconhecidos ali. Tive a curiosidade de visitar a biblioteca que fica no pólo turístico da Igreja do Céu, de onde se vê uma bela paisagem da cidade. Lá encontrei dois livros que tratam da história da cidade e fazem referência aos indígenas, mas os vêem como se eles fossem os invasores daquelas terras, bárbaros e sanguinários. Talvez esteja aí a razão dos descendentes dos indígenas que ainda existem não se reconhecerem. Ninguém quer ser “rotulado” com tais marcas.

Ainda na Igreja do Ceú, na lojinha de cachaça artesanal e licor de Dom Chiquinho I, senhor alegre, disposto e contador de histórias da cidade, indaguei sobre a ausência do reconhecimento indígena. Ele confirmou que não há nenhuma referência aos indígenas, mas fez menção a uma senhora que mora no distrito do “Tope”, que trabalha com artesanato da tradição indígena, é descendente mas não se reconhece como tal. Talvez pelos rótulos que se colocam aos primeiros habitantes de Viçosa.

Infelizmente não tive tempo de visitá-la para ver suas obras e conhecer um pouco mais sua história. Já na saída da lojinha, vi um jornal feito em cópia, que estava sobre a mesa, perguntei se era um jornal local. Dom Chiquinho respondeu que era dos alunos do Curso de História do IVA e disse que eu poderia pegar. Ao ler o jornal, percebi que há uma geração que está querendo reescrever a história de Viçosa e resgatar suas origens. Achei bastante interessante e vou postar semanalmente alguns artigos deste jornal. Tudo com a autorização dos alunos. Penso que um outro olhar sobre aquela cidade e a sua história é pertinente e necessário e esta turma parece estar disposta a iniciar esta empreitada. Vamos acompanhar. Eles têm até um blog para divulgar seus trabalhos e pesquisas. Quem tiver interesse, consulte: http://vicosahistoriaehistorias.blogspot.com/2009/11/album-de-vicosa-do-ceara.html

Miguel Silva é professor de Matemática da UVA e um interessado em História.

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