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Sem remorsos, Blair defende decisão de ter atacado o Iraque

 O ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair (1997-2007) disse nesta sexta-feira (29) que não se arrepende da controversa decisão de participar da invasão do Iraque liderada pelos EUA, em 2003, e sugeriu uma ação semelhante contra o Irã.

As declarações foram feitas em depoimento de seis horas de duração diante de uma comissão independente que investiga o impopular envio de 45 mil soldados britânicos na ofensiva que derrubou o ditador Saddam Hussein.

A comissão não tem poderes legais, mas embaraça os líderes que endossaram o pretexto, que se comprovou falso, de que Saddam desenvolvia armas de destruição em massa destinadas a serem lançadas contra o Ocidente, a exemplo dos atentados de 11 de Setembro.

Feita à revelia da ONU e de potências como Rússia e França, a invasão do Iraque abriu uma era de violência sectária no Iraque que deixou até agora cerca de 100 mil mortos, entre eles 179 soldados britânicos.

"A decisão que tomei -e francamente tomaria de novo- foi que, se houvesse qualquer possibilidade de que [Saddam] pudesse desenvolver armas de destruição em massa, nós deveríamos impedi-lo", disse Blair, que admitiu falhas no planejamento do pós-guerra.

Atual representante do Quarteto para o Oriente Médio (ONU, União Europeia, EUA e Rússia), Blair afirmou que os atentados de 11 de Setembro levaram a uma mudança de pensamento no Ocidente e exigiam que fossem revisados os "cálculos do risco" representado por regimes inimigos. Segundo o ex-premiê, que perdeu o apoio de muitos aliados do Partido Trabalhista por causa da guerra, Saddam acabaria tendo armas de destruição em massa cedo ou tarde.

"Saddam era um monstro, e acredito que ele ameaçava não apenas a região, mas também o mundo", completou o ex-premiê, que aparentava tranquilidade e respondeu com segurança aos questionamentos dos cinco membros da comissão.

Questionado sobre as milhares de mortes de civis, o ex-premiê se eximiu da responsabilidade. "Os números de mortos são terríveis, mas a pergunta é quem os está matando", questionou Blair, se dizendo convencido de que "[os iraquianos] não querem voltar à época em que não tinham liberdade".

Blair aproveitou a visibilidade proporcionada pela comissão e transformou seu depoimento em plataforma para defender um ataque ao Irã, acusado de patrocinar grupos radicais no Oriente Médio e de desenvolver em sigilo uma bomba atômica -acusações negadas por Teerã. Ele disse ter mais temor do Irã do que tinha de Saddam e pediu uma abordagem "linha dura" como solução.

Do lado de fora do auditório, em Londres, manifestantes pediam a condenação do ex-premiê como criminoso de guerra. Theresea Evans, cujo filho de 24 anos morreu em combate no Iraque em 2003, afirmou: "Eu só queria que Blair me olhasse nos olhos e me dissesse que lamenta. Mas ele esteve aí dentro sorrindo e cheio de empáfia, foi algo realmente doloroso".

Com agências