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Abandonado, FHC assume a própria defesa e ataca o "lulismo"

 Submetido a ataques do atual governo e ao silêncio dos “aliados”, Fernando Henrique Cardoso decidiu cuidar, ele próprio, de sua defesa. Aceitou o desafio “plebiscitário” de Lula: “Se o lulismo quiser comparar, sem mentir e sem descontextualizar, a briga é boa. Nada a temer”. Levou às páginas de vários jornais, neste domingo (7), um artigo que resume no título o que lhe vai na alma: “Sem medo do passado”.

No texto, anota que “Lula passa por momentos de euforia que o levam a inventar inimigos e enunciar inverdades”.

Afirma que seu sucessor converteu a eleição de 2010 numa “guerra imaginária”. E acusa: Lula “distorce o ocorrido no governo do antecessor, autoglorifica-se na comparação e sugere que se a oposição ganhar será o caos”.

Enxerga por trás do que chama de “bravatas” de Lula “o personalismo e o fantasma da intolerância”. Aposta que, ecoando um “autoritatismo mais chegado à direita”, Lula dirá cedo ou tarde: “O Brasil sou eu!”

Lamenta que “Lula se deixe contaminar por impulsos tão toscos e perigosos”. Acha que o presidente tem “méritos”. Poderia defender qualquer candidatura.

Afirma que Lula “deu passos adiante no que fora plantado” antes dele. E pergunta: “Para que, então, baixar o nível da política à dissimulação e à mentira?”

Acha que a estratégia eleitoral de Lula e do PT é “simples: desconstruir o inimigo principal, o PSDB e FHC”. Ironiza: “Muita honra para um pobre marquês”.

Sustenta que Lula elegeu o tucanato como “inimigo principal” pela singela razão de que o PSDB pode “ganhar as eleições”.

No esforço para “desconstruir” o PSDB, diz FHC, Lula e o petismo negam “o que de bom foi feito” e apossam-se de “tudo que dele herdaram como se deles sempre tivesse sido”.

Antevê que Lula adotará na campanha um mote: “O governo do PSDB foi ‘neoliberal’”. Prevê que ele vai mirar em dois alvos principais: “A privatização das estatais e a suposta inação na área social”.

Anota no artigo que a realidade desautoriza a tática. E volta a ironizar: “Os dados, ora os dados… O que conta é repetir a versão conveniente”.

Recorda que, há três semanas, Lula disse que “recebeu um governo estagnado, sem plano de desenvolvimento”.

Em seguida, como que decidido a dar resposta à provocação do plebiscito, FHC passa a empilhar os fatos que, segundo afirma, Lula esqueceu de mencionar:

1. “Esqueceu-se da estabilidade da moeda, da lei de responsabilidade fiscal, da recuperação do BNDES, da modernização da Petrobras…”

Uma Petrobras “que triplicou a produção depois do fim do monopólio e, premida pela competição e beneficiada pela flexibilidade, chegou à descoberta do pré-sal”.

2. “Esqueceu-se do fortalecimento do Banco do Brasil, capitalizado com mais de R$ 6 bilhões” e da Caixa Econômica, libertada da “politicagem”.

3. “Esqueceu-se dos investimentos do Avança Brasil, que, com menos alarde e mais eficiência que o PAC, permitiu concluir um número maior de obras”.

4. “Esqueceu-se dos ganhos que a privatização do sistema Telebrás trouxe para o povo brasileiro”: democratização do acesso à internet e aos celulares:

5. Esqueceu-se “do fato de que a Vale privatizada paga mais impostos ao governo do que este jamais recebeu em dividendos quando a empresa era estatal”.

6. Esqueceu-se “de que a Embraer, hoje orgulho nacional, só pôde dar o salto que deu depois de privatizada”.

7. “Esqueceu-se de que o país pagou um custo alto por anos de ‘bravata’ do PT” e do próprio Lula. Menciona o “temor que tomou conta dos mercados em 2002”.

Nesse ponto, FHC diz ter sido “obrigado” a pedir socorro ao FMI. Foi ao Fundo, segundo diz, “com aval de Lula”, já eleito, para prover-lhe “um colchão de reservas”.

Escreve que o “temor” que o petismo despertara “atiçou a inflação”, forçando Lula a “elevar o superávit primário e os juros às nuvens em 2003”.

Para quê? “Para comprar a confiança dos mercados, mesmo que à custa de tudo que haviam pregado, ele e seu partido, nos anos anteriores”.

Mais adiante, FHC escreve: “É mentira dizer que o PSDB ‘não olhou para o social’.” O Real, diz ele, diminuiu a população pobre de 35% para 28% do total.

O índice continuou caindo, até chegar a 18%, já sob Lula, graças “ao efeito acumulado de políticas sociais e econômicas” adotadas antes.

Cita, por exemplo, o salário mínimo: no governo dele (1995 a 2002), “aumento real de 47,4%; na gestão Lula (2003 a 2009), de 49,5%”.

Sobre o Bolsa Família: diz que os programas de treansferência de renda começaram em Campinas e no DF. “E ganharam abrangência nacional em meu governo”.

Compara: “O Bolsa-Escola atingiu cerca de 5 milhões de famílias, às quais o governo atual juntou outras 6 milhões, já com o nome de Bolsa-Família […]”.

No último parágrafo do artigo, que pode ser lido aqui, FHC anota: “Eleições não se ganham com o retrovisor”. E escreve a frase já reproduzida lá no alto:

“Mas se o lulismo quiser comparar, sem mentir e sem descontextualizar, a briga é boa. Nada a temer”.

O curiso é que o tucanato, a julgar por seu comportamento, teme.

Fonte: Blog do Josias