George Câmara: Contradições de uma gestão Macunaíma (parte final)

Nestas linhas quero dar continuidade ao raciocínio desenvolvido no artigo anterior, de mesmo título e escrito há uma semana, tratando da gestão municipal em Natal ao final do primeiro ano da administração da Prefeita Micarla de Sousa (PV).

macunaima2

Tentarei situar a avaliação naquilo que efetivamente foi realizado, comparando com o discurso da campanha eleitoral de 2008. Por outro lado, tomando como base as mesmas promessas de palanque, quero olhar para as ações da gestão municipal anunciadas para o ano de 2010, diante da recente mensagem anual apresentada pelo Poder Executivo na Câmara Municipal de Natal no último dia 02 de fevereiro.

Quanto ao primeiro ano os fatos vão caracterizando uma gestão ambígua, emparedada entre as “intenções” da Prefeita e a sua ação efetiva, cujas contradições eclodem nos primeiros episódios. Senão, vejamos.

No tocante à Saúde o ano de 2009 foi marcado pela paralisia dos serviços, pela crise de funcionamento da rede básica e pela falta de atendimento à população. Sob a alegação da realização de reformas na estrutura física, muitas unidades foram paralisadas, deixando grande número de pessoas sem acesso ao atendimento essencial.

Na gestão de estoque de medicamentos e insumos a primeira marca da Prefeita Micarla foi uma verdadeira trapalhada, no notório episódio da celebração do contrato com a empresa TCI / BPO (Tecnologia, Conhecimento e Informação / Business Process Outsourcing), sediada no estado de Pernambuco, envolvendo a cifra de 2,4 milhões de reais por um simples programa de computador. O Ministério Público conseguiu na sua atuação junto ao Tribunal de Contas do Estado, em defesa do interesse público, anular o tal contrato.

Quanto ao tema tarifa de ônibus, mais uma trapalhada. Após convocar a imprensa em junho de 2009 para prometer, com todo o alarde, que não iria aumentar a passagem dos ônibus, sua demagogia não resistiu aos três primeiros meses. Na data de 4 de setembro, uma sexta feira, às vésperas do feriado do Dia da Independência, numa verdadeira traição aos estudantes e ao povo de Natal, aumentou a tarifa de R$ 1,85 para R$ 2,00.

Iniciamos 2010 com outras contradições no horizonte, onde o caso dos espigões de Ponta Negra, no cordão de dunas do Morro do Careca, é igualmente emblemático. Depois de alardear em verso e prosa o argumento da “segurança jurídica” como garantia do licenciamento urbanístico e ambiental para os empreendimentos naquela área, a Prefeita foi obrigada a rever a liberação das licenças, diante da pronta reação do movimento ambientalista e do Ministério Público.

Como em toda e qualquer gestão sem rumo, a Chefe do Executivo segue “acendendo uma vela para Deus e outra para o diabo”, levando a administração a uma verdadeira crise de identidade. Quando a cidade se descuida e baixa a guarda, amanhece entregue à voracidade da especulação imobiliária, com a conivência de Sua Excelência. Quando a sociedade organizada reage e se manifesta, a gestora “ambientalista” muda de posição, chama uma coletiva na imprensa e anuncia alguma medida de efeito midiático.

Num movimento pendular, Micarla de Sousa ora se curva às chantagens dos conservadores ora se vê obrigada a recuar, diante das mobilizações da sociedade organizada, reafirmando a ausência de personalidade típica de Macunaíma.

Para quem, ao escolher uma marca, se intitulou de borboleta, nada mais coerente: no seu vôo desorientado vai seguindo ao sabor do vento. Resta saber para onde soprarão os ventos em 2010, no Brasil e aqui. Para a preservação do meio ambiente e defesa do interesse público ou no sentido oposto, para cujo lado a Prefeita parece se inclinar.

George Câmara, petroleiro, advogado e vereador em Natal pelo PCdoB (11/02/10) www.georgecamara.com.br