Messias Pontes – É imperioso democratizar as Forças Armadas

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A cada dia cresce o clamor da sociedade para que a verdade apareça e a justiça seja feita no Brasil. É inconcebível que injustiças seculares continuem sem que algo de concreto seja feito para erradicá-las. O Brasil foi o último país das Américas a libertar seus escravos e, infelizmente, é o único a não realizar a reforma agrária, mantendo uma estrutura fundiária caduca, perversa e criminosa.

No tocante à redemocratização pós-ditadura militar(1964/1985), o Brasil, infelizmente e vergonhosamente, é o único a não revelar todos os crimes cometidos pelos militares, suas circunstâncias e os responsáveis. Centenas de famílias ainda esperam ter o direito de enterrar com dignidade os seus entes queridos como acontece em todo o mundo.

Os militares chilenos, recentemente, pediram perdão à nação pelos crimes cometidos pelas Forças Armadas durante a sanguinária ditadura do general Augusto Pinochet. No Uruguai e na Argentina, os militares que cometeram crimes de lesa humanidade foram identificados e punidos. Os verdadeiros democratas brasileiros esperam que o mesmo seja feito aqui.

Não se trata de revanche como apregoam as viúvas da ditadura, mas sim de justiça. Revanche seria se os democratas, notadamente as vítimas diretas da ditadura, estivessem a exigir que os mesmos crimes fossem cometidos contra os seus algozes. Ninguém está a exigir que se sequestre, torture e mate aqueles que mandaram e os que executaram os bárbaros crimes de lesa humanidade. O que se busca é apenas a verdade e a justiça.

No dia 1º de abril próximo, completam-se 46 anos da quartelada que infelicitou a nação por longos 21 anos. Trata-se da terceira grande tragédia vivida pelos brasileiros – a 1ª foi a escravidão (quase 400 anos), a 2ª, a ditadura do Estado Novo, e a 4ª o desmonte do Estado pelos neoliberais tucano-pefelistas.

Os militares golpistas de então se prestaram de gendarmes das carcomidas oligarquias brasileiras e do imperialismo norteamericano. O golpe militar de abril de 1964 deveria ter sido dado dez anos antes, mas foi abortado pelo suicídio do presidente Getúlio Vargas em 24 de agosto de 1954.

Os militares de hoje não devem ser responsabilizados pelo que houve naquele período. Mas infelizmente setores ponderáveis das Forças Armadas continuam, por puro espírito de corpo ou por irresponsabilidade, defendendo seus colegas golpistas. Isto é inconcebível, pois os tempos são outros. As viúvas da ditadura ainda vivem a guerra fria e se alimentam da famigerada doutrina de segurança nacional. É imperioso democratizar as Forças Armadas!

Messias Pontes é jornalista e colaborador do Vermelho/CE

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