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Uribe enfrenta denúncias, protestos e resistência a 3º mandato 

O governo Álvaro Uribe na Colômbia está aos poucos sendo desmascarado. Poucas vezes sofreu tantos revezes como na última semana. Passando pelo que os esotéricos poderiam diagnosticar como um verdadeiro inferno astral, ele enfrenta críticas de todos os lados e por motivos diversos, em um momento crucial. A três meses das eleições presidencias, seu futuro político depende da decisão da Justiça sobre a convocação de um referendo que poderá autorizá-lo a disputar o 3º mandato consecutivo.

O primeiro capítulo da série de atropelos que Uribe vem enfrentando foi a explosão do descontentamento popular com a forte crise no sistema de saúde. Médicos, enfermeiros e demais profissionais de saúde, além de donas de casa, estudantes e sindicalistas manifestaram seu mal-estar pelas controvérsias geradas pelo Decreto de Emergência Social, emitido pelo Executivo como tentativa de erguer o sistema de saúde. A população denunciou nas ruas que as novas medidas limitariam o acesso dos cidadãos ao serviço público.

A diretora da Associação Colombiana de Empresas Sociais do Estado e Hospitais Públicos (Acesi), Olga Lucía Zuluaga afirmou que há um ponto específico dos decretos "que nos causa bastante preocupação e para nós é como a porta de entrada para a privatização, que é o tema do saneamento fiscal das empresas sociais do Estado", colocou. Há muito tempo não havia na Colômbia reação tão veemente e coletiva. O governo então hesitou e admitiu erros, mas não explicou como não previu nem evitou uma crise anunciada há seis anos.

Outro episódio muito desgastante para o presidente foi a sua desatinada proposta de converter estudantes de Medelin e taxistas de Cali em informantes do exército. A condenação também foi imediata, partindo de alunos, pais, professores e instituições de ensino. No último dia 3, ele pôde perceber de perto as duras críticas à sua ideia, durante debate em uma universidade privada de Bogotá. "Os estudantes devem se dedicar a estudar, não a vigiar os outros", disse Natalia Springer, professora de ciências políticas.

Uribe não calculou o que lhe custaria confrontar-se com um grupo de intelectuais tão adversos à sua política e teve que ouvir queixas por manter no governo funcionários questionados e pelos vínculos de políticos aliados com esquadrões de ultradireita. Este é outro tema que tem perturbado o sossego de Uribe, já que muitas são as denúncias de que colegas de governo – incluindo o vice-presidente – e até mesmo que o próprio Uribe teriam envolvimento com paramilitares.

O reitor José Fernando Isaza irritou o presidente ao acusá-lo de exercer um 'estado de opinião'. Já a especialista em paramilitarismo Claudia López criticou a presença do narcotráfico em áreas como o Congresso, da maioria aliada ao governo.

Do estrangeiro também têm surgido mais dificuldades para a imagem que Uribe tenta passar: o relatório da Human Rights Watch sobre o ressurgimento de paramilitares e o corte de US$ 55 milhões na assistência de Washington à Colômbia. Para um país que tem se tornado cada dia mais submisso e dependente dos EUA, deve ter sido um duro golpe.

A isto se soma o fato de que os colombianos foram informados nestes dias de um aumento de 200 pesos por galão de gasolina e que o desemprego já está em 12% e tende a subir para 14%, sendo o maior da América Latina. Os preços dos alimentos da cesta básica também estão em disparada

Não é de se estranhar, portanto, que, na última pesquisa sobre o referendo que abriria uma brecha para Uribe disputar mais um mandato, pela primeira vez, a maioria dos entrevistados (47% contra 41%) tenha declarado discordar da iniciativa.

O baque maior para o presidente, contudo, foi o posicionamento do magistrado Sierra Porto contrário ao referendo. Ele elaborou um relatório declarando a consulta popular ilegal devido a irregularidades. O relatório, contudo, pode ainda ser acolhido ou rejeitado pelos outros oito magistrados do Tribunal Constitucional. Diante da proximidade do pleito e das adversidades no seu caminho, resta saber se haverá tempo e ambeinte para que Uribe se candidate.

Com El Tiempo e agências