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Danos da ocupação causam defeitos congênitos no Iraque

Médicos iraquianos denunciaram esta semana um grande aumento no número de crianças nascidas com defeitos congênitos no país, principalmente na cidade de Faluja, que foi palco de massacres promovidos pelo exército de ocupação americano desde a primeira operação contra a cidade, em abril de 2004.

Criança com deformação

O uso de armamento proibido na convenção de Genebra, como fósforo branco, ou de munição portadora de urânio empobrecido é apontado como um dos fatores desencadeantes das deformações.

Segundo a pesquisadora iraquiana, Malik Hamdam, a incidência de doenças cardíacas entre os recém-nascidos na região é 13 vezes mais alta do que na Europa. Malik afirmou ao correspondente da emissora britânica de televisão, BBC, que os médicos em Faluja estão testemunhando um "alto número e sem precedentes" de problemas cardíacos, e um aumento no número de problemas no sistema nervoso.

Segundo ela, um médico da cidade comparou o número de defeitos congênitos com os dados anteriores ao início da ocupação do país, em 2003 – quando ela via um caso a cada dois meses – com a situação de agora, em que ela testemunha casos todos os dias.

Malik disse que, com base em dados de janeiro deste ano, o índice de defeitos cardíacos congênitos é de 95 a cada mil nascimentos – 13 vezes maior do que a média europeia.

"Vi fotos de bebês nascidos com um olho no meio da testa, com o nariz na testa", acrescentou ela.

Michael Kilpatrick, porta-voz do exército de ocupação, alegou que os EUA levam "muito a sério" as preocupações com a saúde pública, mas revelou que o governo de seu país não fez nenhum estudo localizado sobre a influência do "meio ambiente", arrasado e poluído pela ocupação militar, com a saúde dos cidadãos iraquianos.

Urânio empobrecido

Mais ao sul, na cidade de Basrá, aumentaram significativamente os casos de leucemia infantil. Um estudo independente realizado por especialistas da Universidade de Washington e do Hospital Infantil de Basrá e publicado no American Journal of Public Health concluiu que os casos de leucemia infantil no Iraque duplicaram num espaço de apenas 15 anos.

"Sabe-se que Basrá é uma região afetada por incêndios de poços petrolíferos, por armas químicas, munições de urânio empobrecido, benzeno, contaminação do ar e da água", informam os especialistas, antes de revelarem que em 1993 foram registados 15 casos de leucemia infantil na região, ao passo que em 2006 esse número chegou a 97 casos.

Estão documentados casos de crianças recém-nascidas e até aos 14 anos, admitidas no Hospital Infantil e de Mulheres Al- Basrah, de Basrá (Iraque) – a única instituição com tratamento para cancro infantil –, e os diagnósticos foram confirmados por dois hematólogos. Segundo os resultados, foram registados 698 casos de leucemia em menores, entre 1993 e 2007.

No primeiro ano, verificaram-se 15 casos (2, 6 por cada 100 mil menores) e 56, em 2007, mas já em 2006 chegaram a 97. A estatística é bem superior à registrada na União Europeia e nos EUA, regiões nas quais a taxa de incidência da doença é, respectivamente, de quatro e cinco casos por cada 100 000 crianças.

Histórico

No início da década de 1970, o exército estadunidense iniciou pesquisas para o uso de metais de alta densidade em projéteis para perfurar blindagens.

Metais como o tungstênio e o urânio empobrecido foram testados, e os resultados mostraram que o desempenho de ambos foi muito superior ao de outros metais.

Uma das vantagens dos projéteis contendo urânio empobrecido é que eles se inflamavam quando atingiam uma superfície dura (rochas, blindagens de aço etc.), devido às altas temperaturas geradas pelo impacto e ao relativamente baixo ponto de fusão do urânio (1.132 °C). Fazendo assim com que penetrem blindagens mais resistentes.

As inúmeras "vantagens" do urânio empobrecido levaram ao desenvolvimento maciço desses armamentos, principalmente nos Estados Unidos, onde estimativas indicam que cerca de 600 mil toneladas de urânio empobrecido tenham sido produzidas, sendo parte estocada sob a forma de hexafluoreto de urânio em cilindros enormes.

Cerca de 320 toneladas foram empregadas no Iraque e no Kuwait nos conflitos decorrentes da Primeira Guerra do Golfo, e posteriormente outras 15 toneladas foram usadas na Bósnia (1995) e em Kosovo (1999).

O urânio empobrecido é um derivado do enriquecimento do urânio natural para o uso em reatores nucleares. Quando a maior parte dos isótopos radioativos físseis do urânio é removida do urânio natural, o resíduo é chamado de urânio empobrecido.

Da redação, com agências