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Alemanha e França querem um FMI europeu

Preocupados com os desdobramentos da crise grega, França e Alemanha, principais potências da zona do euro, estudam a criação de um Fundo Monetário Europeu, uma espécie de FMI local, com o intuito de reforçar a cooperação econômica e socorrer países do bloco às portas da moratória, como é hoje o caso da Grécia.

A nova instituição deve fiscalizar e apoiar financeiramente os países onde circula a moeda europeia em caso de necessidade. A pretensão é criar regras e instrumentos para prevenir novas situações de instabilidade.

A Grécia cogitou recorrer ao Fundo Monetário Internacional, uma hipótese rejeitada pela Cúpula da União Europeia, que não quer o FMI palpitando na região, talvez por considerar que seria “coisa de pobre”. Daí a discussão de uma "solução europeia".

O problema é o nome

O ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, declarou, em entrevista ao jornal "Die Welt am Sonntag" no domingo, que os detalhes sobre o Fundo Monetário Europeu (FME, como vem sendo chamado) serão revelados em breve e que ele teria poderes comparáveis ao FMI.

"Não pensamos em um órgão que faria concorrência ao FMI. Mas, para a estabilidade da zona do euro, nós precisamos de uma instituição que tenha a experiência do FMI e poderes de intervenção semelhantes", afirmou Schäuble.

A julgar pelo pacote grego, recomendado (ou seria mais justo dizer imposto?) pelos ministros da União Europeia, a receita do novo fundo terá o mesmo conteúdo neoliberal das receitas do FMI. Vai mudar apenas o nome.

A este respeito, o ministro alemão afirmou que se a Grécia aceitar uma ajuda financeira do FMI "seria uma confissão de que os países da zona euro não conseguem resolver seus problemas sozinhos". A Alemanha, por seu turno, não parece disposta a ajudar a Grécia com novos empréstimos.

Rigor neoliberal

O governo alemão estima que o FME permitiria impor aos países com políticas orçamentárias menos controladas todo o rigor neoliberal. O fundo europeu poderia prever penalidades para os países que não controlarem suas finanças, escreve o jornal britânico Financial Times desta segunda-feira. Obviamente isto só vai valer para os primos pobres da Europa, como Grécia, Portugal, provavelmente a Espanha e os países do leste europeu.

A Comissão Europeia, órgão executivo do bloco, já declarou seu apoio à iniciativa e poderá discutir o assunto na próxima terça-feira.

Segundo o comissário europeu para assuntos econômicos e monetários, o finlandês Olli Rehn, "a comissão está disposta a propor esse instrumento que tem o apoio dos membros da zona euro".

"Trabalhamos sobre essa questão com a França, a Alemanha, e outros países da União Europeia", afirmou o comissário ao jornal Financial Times Deutschland.

Futuro da Europa e do euro

O presidente italiano, Giorgio Napolitano, também já declarou ser favorável à criação de um fundo europeu. Outros países lançaram outras ideias para enfrentar o problema. A Bélgica propôs a criação de uma "agência europeia da dívida", que poderia emitir títulos governamentais e administrar a dívida dos países membros.

O presidente francês, Nicolas Sarkozy, declarou durante encontro em Paris, no domingo, com o primeiro-ministro grego, Georges Papandreou, o "apoio total da França" à Grécia. "Não é o futuro da Grécia que está em jogo, mas sim o da Europa. O euro é nossa moeda, ela é nossa responsabilidade", afirmou Sarkozy, que anunciou também que os países da zona vão adotar medidas para lutar contra a especulação do euro, sem dar maiores detalhes.

Após sair de mãos abanando dos encontros com a chanceler alemã, Angela Merkel, na última sexta-feira, e com o líder francês, no domingo, o primeiro-ministro grego, George Papandreou, se reúne terça-feira com o presidente americano, Barack Obama. Em casa, ele enfrenta a forte oposição da classe trabalhadora ao indigesto pacote econômico que impôs ao país, capitulando à pressão da União Europeia, com a desculpa de combater a crise fiscal.

Da redação, com agências