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Comunicadores formam rede de apoio à reforma agrária

Nesta quinta-feira (11/3), blogueiros, midialivristas e comunicadores dos mais diversos ramos participam de uma reunião convocada para montar uma “rede de comunicadores populares em apoio à reforma agrária e contra a criminalização dos movimentos sociais”. A reunião será às 19 horas, na sede do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo. João Pedro Stedile, membro da coordenação nacional do MST, e o jornalista Paulo Henrique Amorim farão as exposições de abertura.

Enquanto os setores ligados ao latifúndio atacam o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) por meio de matérias que rotulam este movimento nos grandes veículos de comunicação e com uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que pretende asfixiá-lo financeiramente ao questionar convênios e patrocínios públicos, comunicadores progressistas organizam uma reunião para formar a “rede de comunicadores populares em apoio à reforma agrária e contra a criminalização dos movimentos sociais”, nesta quinta-feira (11/3), em São Paulo.

O evento tem por objetivo definir formas de atuação dos comunicadores das chamadas mídias alternativas, incluindo blogueiros famosos, como o jornalista Paulo Henrique Amorim, para se contrapor às ofensivas dos ruralistas e a influência destes sobre os grandes veículos de comunicação, que cumprem o papel de estereotipar e criminalizar os movimentos sociais, sobretudo os de luta pela terra.

Observação divulgada ao final do manifesto que convoca a reunião esclarece que a atividade em São Paulo é apenas um lançamento, visto que a rede pretende ter caráter nacional. O texto provoca, ainda, ativistas dos outros estados a realizarem atividades similares.

Confira abaixo o manifesto que convoca a reunião:

"Está em curso uma ofensiva conservadora no Brasil contra a reforma agrária, e contra qualquer movimento que combata a desigualdade e a concentração de terra e renda. E você não precisa concordar com tudo que o MST faz para compreender o que está em jogo.

Uma campanha orquestrada foi iniciada por setores da chamada “grande imprensa brasileira” – associados a interesses de latifundiários, grileiros – e parcelas do Poder Judiciário. E chegou rapidamente ao Congresso Nacional, onde uma CPMI foi aberta com o objetivo de constranger aqueles que lutam pela reforma agrária.

A imagem de um trator a derrubar laranjais no interior paulista, numa fazenda grilada, roubada da União, correu o país no fim do ano passado, numa ofensiva organizada. Agricultores miseráveis foram presos, humilhados. Seriam os responsáveis pelo "grave atentado". A polícia trabalhou rápido, produzindo um espetáculo que foi parar nas telas da TV e nas páginas dos jornais. O recado parece ser: quem defende reforma agrária é "bandido", é "marginal". Exemplo claro de “criminalização” dos movimentos sociais.

Quem comanda essa campanha tem dois objetivos: impedir que o governo federal estabeleça novos parâmetros para a reforma agrária (depois de três décadas, o governo planeja rever os “índices de produtividade” que ajudam a determinar quando uma fazenda pode ser desapropriada); e “provar” que os que derrubaram pés de laranja são responsáveis pela “violência no campo”.

Trata-se de grave distorção.

Comparando, seria como se, na África do Sul do Apartheid, um manifestante negro atirasse uma pedra contra a vitrine de uma loja onde só brancos podiam entrar. A mídia sul-africana iniciaria então uma campanha para provar que a fonte de toda a violência não era o regime racista, mas o pobre manifestante que atirou a pedra.

No Brasil, é nesse pé que estamos: a violência no campo não é resultado de injustiças históricas que fortaleceram o latifúndio, mas é causada por quem luta para reduzir essas injustiças. Não faz o menor sentido…

A violência no campo tem um nome: latifúndio. Mas isso você dificilmente vai ver na TV. A violência e a impunidade no campo podem ser traduzidas em números: mais de 1500 agricultores foram assassinados nos últimos 25 anos. Detalhe: levantamento da Comissão Pastoral da Terra (CPT) mostra que dois terços dos homicídios no campo nem chegam a ser investigados. Mandantes (normalmente grandes fazendeiros) e seus pistoleiros permanecem impunes.

Uma coisa é certa: a reforma agrária interessa ao Brasil. Interessa a todo o povo brasileiro, aos movimentos sociais do campo, aos trabalhadores rurais e ao MST. A reforma agrária interessa também aos que se envergonham com os acampamentos de lona na beira das estradas brasileiras: ali, vive gente expulsa da terra, sem um canto para plantar – nesse país imenso e rico, mas ainda dominado pelo latifúndio.

A reforma agrária interessa, ainda, a quem percebe que a violência urbana se explica – em parte – pelo deslocamento desorganizado de populações que são expulsas da terra e obrigadas a viver em condições medievais, nas periferias das grandes cidades.

Por isso, repetimos: independente de concordarmos ou não com determinadas ações daqueles que vivem anos e anos embaixo da lona preta na beira de estradas, estamos em um momento decisivo e precisamos defender a reforma agrária.

Se você é um democrata, talvez já tenha percebido que os ataques coordenados contra o MST fazem parte de uma ofensiva maior contra qualquer entidade ou cidadão que lutem por democracia e por um Brasil mais justo.

Se você pensa assim, compareça ao Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, no próximo dia 11 de março, e venha refletir com a gente:

– por que tanto ódio contra quem pede, simplesmente, que a terra seja dividida?

– como reagir a essa campanha infame no Congresso e na mídia?

– como travar a batalha da comunicação, para defender a reforma agrária no Brasil?

É o convite que fazemos a você.

Assinam: 

Alcimir do Carmo
Altamiro Borges
Ana Facundes
André Freire
Antonio Biondi
Antonio Martins
Bia Barbosa
Breno Altman
Conceição Lemes
Cristina Charão
Cristovão Feil
Danilo Cerqueira César
Dênis de Moraes
Emir Sader
Gilberto Maringoni
Giuseppe Cocco
Hamilton Octavio de Souza
Henrique Cortez
Igor Fuser
Jerry Alexandre de Oliveira
Joaquim Palhares
João Brant
João Franzin
Jonas Valente
Jorge Pereira Filho
José Arbex Jr.
José Augusto Camargo
José Carlos Torves
José Reinaldo Carvalho
Ladislau Dowbor
Laurindo Lalo Leal Filho
Leonardo Sakamoto
Lilian Parise
Lúcia Rodrigues
Luiz Carlos Azenha
Marcia Quintanilha
Otávio Nagoya
Paulo Lima
 
Paulo Zocchi
Raul Pont
Renata Mielli
Renato Rovai
Rita Casaro
Rita Freire
Rodrigo Savazoni
Rodrigo Vianna
Rose Nogueira
Sandra Mariano
Sérgio Gomes
Sérgio Murilo de Andrade
Soraya Misleh
Tatiana Merlino
Terezinha Vicente
Vânia Alves
Venício A. de Lima
Verena Glass
Vito Giannotti
Wagner Nabuco


Importante:
A proposta é que a rede de comunicadores em apoio à reforma agrária tenha caráter nacional. Esse evento de São Paulo é apenas o início deste processo. Promova lançamentos também em seu estado, participe e convide outros comunicadores para aderirem à rede."

Serviço:
Reunião da rede de comunicadores populares em apoio à reforma agrária e contra a criminalização dos movimentos sociais
Quinta-feira,11 de março, às 19h
No Sindicato dos Jornalistas de São Paulo
Rua Rego Freitas, 530, sobreloja, próximo ao Metrô República

De São Paulo, Luana Bonone, com informações do Blog do Miro