Caxias: 12 de Fevereiro, um dia para não ser esquecido

Uma série de atividades realizadas pelo Sindicato dos Metalúrgicos nesta sexta-feira (12) serviram para lembrar a repressão policial que chocou Caxias e teve repercussão nacional no dia 12 de fevereiro, quando os trabalhadores da Randon e sindicalistas foram agredidos e presos ao fazerem uma assembleia na frente da empresa, na qual reivindicavam um acordo para revisão dos valores do PPR (Programa de Participação nos Lucros).

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Além da realização de uma exposição fotográfica itinerante, o Sindicato definiu por mudar o nome do jornal da entidade, que agora passou a se chamar "12 de Fevereiro – o jornal dos metalúrgicos", tudo isso para marcar a data, que tornou-se um símbolo da resistência dos trabalhadores de Caxias. "Este 12 de fevereiro de 2010 entrou para a história de lutas da categoria e os trabalhadores de Caxias. Já é um símbolo da resistência e da luta dos metalúrgicos por justiça e pela valorização que os trabalhadores merecem, também queremos que fatos como os deste dia não sejam esquecidos, para que não mais se repitam", salientou o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos e vereador do PCdoB, Assis Melo.

Na opinião do Sindicato os fatos lamentáveis ocorridos no dia 12 de fevereiro, além de demonstrarem a postura truculenta da Randon, revelaram mais uma vez a maneira com que a polícia do RS sob o comando da governadora Yeda Crusius (PSDB) age,  ao criminalizar os movimentos sociais.

Assembleias em porta de fábrica e ato de solidariedade

Desde a madrugada na sexta-feira os trabalhadores estavam mobilizados, e a primeira assembleia do dia foi justamente na Randon Implementos. O Sindicato apresentou o novo jornal para os trabalhadores, cuja edição resgata a história do movimento por justiça no PPR da Randon, e inaugurou a exposição: "12 de Fevereiro, um dia para não ser esquecido".

A assembleia em frente à Randon também serviu para informar os trabalhadores sobre os encaminhamentos realizados pela entidade na tentativa de fazer com que a empresa reconheça que deve rever os valores da participação nos lucros. O presidente do Sindicato, Assis Melo, lembrou os trabalhadores que o caso está sendo tratado na Justiça do Trabalho já que a empresa, desde o início mantém postura intransigente e não aceitou negociar.

À tarde as assembleias continuaram na Mundial, às 15h e novamente na Randon, com os trabalhadores que entravam para o turno da noite, às 17h.


Repúdio

No final do dia ocorreu o "ato de solidariedade aos trabalhadores da Randon e contra a criminalização dos movimentos sociais" na Câmara de Vereadores. O evento contou com a presença de diversas lideranças de trabalhadores do estado e políticos, como o deputado estadual Raul Carrion (PCdoB) e o deputado federal Pepe Vargas (PT).

O presidente da Federação dos Metalúrgicos do RS, Miltom Viário, condenou a repressão policial e a postura "feudal" da Randon. Já o vereador Elói Frizzo (PSB), lembrou de outros fatos semelhantes ocorridos na Randon, como em uma greve em 1985, também marcada pela repressão aos trabalhadores.

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Porto Alegre, Claudir Nespolo, chamou a atenção para o problema dos interditos proibitórios que acabam limitando o direito de greve dos trabalhadores. Citou o PL 513, de autoria do Senador Paulo Paim, que está em discussão no Congresso. "Queremos aprovar uma Lei que assegure o direito de manifestação dos trabalhadores e acabe com essa aberração dos interditos", disse.

Outro que compareceu para prestar solidariedade aos trabalhadores foi o vice-presidente nacional da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil), Nivaldo Santana. Para ele o que ocorreu em Caxias foi uma afronta à democracia. Santana também condenou os interditos e lamentou a postura da polícia militar gaúcha, que, segundo ele, lembra os períodos "mais tristes da ditadura". Para ele a governadora Yeda tem responsabilidade no que aconteceu. Assinalou que essa conduta de criminalizar os movimentos sociais tem marcado os governos do PSDB também em Minas Gerais e São Paulo.

O deputado Raul Carrion evocou toda a luta histórica contra a ditadura no Brasil para defender os direitos democráticos e de manifestação dos trabalhadores que, segundo ele, não podem ser simplesmente ignorados como ocorreu em Caxias. Carrion lembrou de outros fatos ocorridos na história recente do estado que revelam a postura truculenta do aparato policial que está serviço de um projeto que "não serve aos interesses do povo".

O presidente do PCdoB RS, Adalberto Frasson, disse que há um setor conservador que não admite que uma liderança operária como o Assis tenha projeção na política. Frasson também condenou a postura da polícia e reforçou a disposição dos comunistas de continuarem na luta pelo desenvolvimento com valorização do trabalho.

Pepe Vargas informou que nos próximos dias deve ocorrer uma audiência em Caxias com a comissão de direitos humanos da Câmara Federal. O deputado sugeriu ainda uma denúncia junto aos órgãos internacionais de direitos humanos, considerando a gravidade dos fatos ocorridos no dia 12.


Emoção e indignação

Na abertura do ato foram exibidas imagens do dia 12, com cenas da repressão protagonizada pela BM. Trabalhadores sendo espancados e presos, mulheres machucadas, bombas de gás, e pancadaria. O presidente da CTB RS, Guiomar Vidor, que coordenava o evento, com a voz embargada assinalou: "Não precisa dizer nada, após ver essas imagens".

O presidente do Sindicato, Assis Melo, fez um longo discurso, no qual denunciou a perseguição sofrida e a humilhação a qual foi submetido, ao ser preso, algemado e levado a um posto policial no qual ficou por horas sentado em um banquinho.

Melo resgatou todos os dias do movimento – os que precederam o 12 de fevereiro e os subsequentes. Desde o dia 8 de fevereiro quando a direção do Sindicato visitou a empresa na tentativa de se chegar a um acordo. As sucessivas negativas da Randon nos dias seguintes. A tensão e os horrores do dia 12. As determinações da Justiça do Trabalho local que praticamente determinavam o fim da greve e depois a vitória no TRT em Porto Alegre que reconhecia o direito de manifestação dos trabalhadores; e o momento da decisão pelo fim das paralisações, que o sindicato considera que se deu no momento certo, já que a empresa demonstrara em diversos momentos que não iria mesmo negociar. "Eles que fiquem com a marca da intransigência", comentou Leandro Velho, vice-presidente do Sindicato. "A Randon não cedeu, mas também não ganhou nada com isso, aliás só perdeu, pois mostrou a sua verdadeira face", complementa Velho.

Exposição itinerante

Para marcar um mês do dia 12 de fevereiro, quando a Brigada Militar agrediu trabalhadores e prendeu líderes sindicais que protestavam por justiça no PPR da Randon, o Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de Caxias do Sul e Região lançou uma exposição fotográfica. Chamada de "12 de Fevereiro: Um dia para não ser esquecido", a mostra reúne algumas das imagens mais marcantes flagradas durante os 14 dias de manifestações nas proximidades da Randon e principalmente do dia 12 de fevereiro.

A exposição, que conta com imagens feitas pelo fotógrafo Marcio Schenatto, será itinerante. Inicialmente será mostrada nas assembleias nas portas de fábrica, acompanhando a distribuição do jornal, depois será colocada em alguns locais públicos da cidade.

Clomar Porto