George Câmara: Turma de Guamaré – 25 anos de Petrobrás e de Luta

Recentemente li o artigo no correio eletrônico de Rogério Rodrigues dos Santos, colega Operador da Petrobrás lotado na Unidade de Processamento de Gás Natural de Guamaré, no litoral norte do Estado (UPGN-GMR/RN).

George na Petrobras
Suas breves palavras, abordando os 25 anos de nossa turma, ecoam trazendo recordações ao mesmo tempo em que nos convidam a refletir sobre essa rica experiência daqueles jovens frente ao sonho do primeiro emprego e suas infinitas e imprevisíveis oportunidades. Como também nos remetem aos jovens de hoje diante de sonhos e desafios semelhantes.

Mesmo estando afastado das atividades profissionais dessa empresa em razão da licença para cumprimento de mandato eletivo na Câmara Municipal de Natal, nosso olhar não poderia ser outro, senão o de pertencimento. Por dois motivos: pela continuidade dos contatos diretos com a categoria petroleira na sua luta cotidiana em defesa da dignidade, aí incluídos os colegas de Guamaré; e pelos vínculos de afetividade dessas pessoas que juntas vivenciaram o chorar e o sorrir. As mesmas expectativas, angústias e vitórias. Permeados por conquistas inesquecíveis e perdas que nunca cicatrizam.

Parafraseando Rogério quero repetir: “Amigos, parece que foi ontem…” Éramos quatro turmas, encabeçadas pela simbologia de nossos chefes: a turma de Franklin, com Arnóbio, Luisinho, Renato, Valdeci e Walter; a de Miguel, formada por Arimatéa, Erivanildo, Hélio, Valcimar e Wilaci; a turma de José Marto, com Amauri, Creso, Flávio, Gleidson e José Carlos; e a de Sérgio, com Canindé, Fred, George, Rogério e Valdizar. Em dezembro de 1985, produzimos as primeiras gotas de Gás Liquefeito do Petróleo – GLP – no Rio Grande do Norte.

Com o advento da Assembléia Nacional Constituinte, a conquista do “Turno de 6 Horas”. Aí, o “Rei Midas” típico do capital manipulando o trabalho transformou as quatro em cinco turmas, sem contratar sequer “um pé de gente”. Foi o marco inicial da nossa dispersão do ponto de vista físico, sem perder, contudo, a afetividade que teve origem nessa relação. Laços que perduram até hoje, mesmo diante da distância imposta pela vida. Ou mesmo pela morte.

Em Aracaju, onde enfrentávamos todo o tipo de desafios, entre os 18 e os 25 anos, tínhamos o privilégio de sair da sala de aula nos corredores da Petrobrás, durante o dia, para participar à noite das atividades de rua da memorável campanha das “Diretas Já”, em 1984.

A Petrobrás, sob orientação do autoritarismo, não superara a cultura da autocracia. Eclodiam as contradições do novo diante do velho modelo. Nesse cenário, jovens operários que despertavam para o mundo numa sociedade permeada por contradições. Nossas primeiras greves, confrontos de ideias e de posições. Como dizia o poeta e cantor Taiguara, num show em Aracaju em 1985, no retorno do exílio: “vamos enfrentar grandes ambições e pequenas traições”.

Como hoje, aqueles jovens se deparavam com a manipulação grosseira patrocinada pelos chefes, com o objetivo de nos dividir, vendendo a ilusão de que a “Operação” é superior à “Manutenção” e ao “Apoio”. Pura mistificação. Ideias absolutamente alheias aos interesses dos trabalhadores. Ao longo de séculos e de milênios, nossa arma continua sendo a mesma: a união, a serviço da luta pela dignidade e pela emancipação social.

No seu breve artigo o colega nos convida para um encontro da Turma de Operadores de Processamento, no próximo mês de maio. Quero confirmar desde agora minha presença e a esperança de reencontrar esses colegas. No cardápio, além das recordações, poderemos reafirmar e atualizar os nossos sonhos. Agora, diante de uma nova quadra histórica, nossos planos vão além da resistência ao desmonte neoliberal. Em 2010 é possível avançar, para que outros jovens possam sonhar ainda mais alto.

 

George Câmara, petroleiro, advogado e vereador em Natal pelo PCdoB (25/03/10) www.georgecamara.com.br