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Jefferson plagia ultradireitista para desqualificar o PT na Folha

O artigo assinado pelo presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, e publicado na Folha de S.Paulo em 19 de março passado é uma fraude sem precedentes. Para defender a tese ardilosa de que os petistas “não são apenas corruptos, são ideológicos e, por isso, corrompem”, Jefferson foi longe: plagiou ninguém menos que o autoproclamado “filósofo” Olavo de Carvalho, ícone do pensamento ultradireitista no Brasil.

Por André Cintra

jefferson

A Folha tratou de divulgar o estelionato opinativo no “Painel do Leitor” — sua seção de cartas ridiculamente dominada por personalidades noticiadas no próprio jornal. Lá, isentou-se de qualquer responsabilidade, abrindo espaço para a acusação de Olavo de Carvalho e, em seguida, para uma vergonhosa retratação de Jefferson.

Minhas ideias
"Se alguma vez concordei em gênero, número e grau com alguma opinião do senhor Roberto Jefferson (presidente nacional do PTB), foi no último dia 19, ao ler nesta Folha o seu artigo "São ideológicos, por isso corrompem" ("Tendências/Debates").
Nada tenho a acrescentar ou a modificar nesse texto, pela simples razão de que é um plágio do meu artigo "Pensem nisso", publicado pelo
Diário do Comércio de 5/1 e reproduzido desde então no meu site (www.olavodecarvalho.org/semana/100105dc.html). Confiram e verão."
OLAVO DE CARVALHO (Curitiba, PR)

"Fui induzido ao erro por um antigo colaborador que me enviou o texto como seu. Subscrevi as ideias, porque comungava com elas (quem leu o texto na íntegra verá que não são absolutamente iguais). Mesmo assim, peço desculpas ao professor e à Folha pelo lamentável equívoco."
ROBERTO JEFFERSON, presidente nacional do PTB (Brasília, DF)

 

Do alto de sua arrogância, Jefferson “ensina” que textos plagiados podem não ser “absolutamente iguais”. Basta ler, no entanto, o primeiro parágrafo de cada texto para perceber que o embuste é total.

Olavo pragueja: “Um dos traços constantes da vida brasileira é a coexistência de dois tipos de política heterogêneos e incomunicáveis: de um lado, a política ‘profissional’ cuja única finalidade é o acesso a cargos públicos, compreendidos como posições privilegiadas para a conquista de benefícios pessoais ou grupais (acompanhados ou não de boas intenções de governo); de outro, a política revolucionária, empenhada na conquista do poder total sobre a sociedade e na introdução de mudanças estruturais irreversíveis”.

Jefferson, por sua vez, trata das mesmas ideias — só que em tom pouco menos empolado e com uma citação a FHC: “Um dos traços constantes da vida brasileira é a coexistência de dois tipos heterogêneos e incomunicáveis de política: a ‘profissional’, cuja única finalidade é o acesso a cargos públicos para a conquista de benefícios pessoais ou grupais, e a socialista (ou ‘capitalismo burocrático-corporativo’, como define o sociólogo Fernando Henrique Cardoso), empenhada na conquista do poder total sobre a sociedade”.

Em tempos nos quais se aventa até a fusão do moribundo DEM (ex-PFL) com o PSDB, a maior surpresa do artigo de Jefferson não é apenas o recurso deslavado da cópia. Seu texto mostra como a polarização política entre PT e PSDB — uma disputa essencialmente de classe — jogou tucanos e seus aliados para um dos flancos mais reacionários da direita nacional.

Menos reveladora e surpreendente é a imundícia da Folha. Os jornais mais tradicionais do mundo justificam o rótulo pomposo de “quality papers” por meio de um esmerado controle de qualidade editorial, que não poupa nem textos opinativos. O americano The New York Times escala jornalistas para checar e, se preciso, até corrigir eventuais erros publicados em artigos. Hubert Beuve-Méry (1902-1989), o célebre diretor do francês Le Monde, fazia valer à risca sua máxima de que “a objetividade não existe, mas a honestidade, sim”.

São preceitos e práticas diametralmente opostos aos da Folha de S.Paulo, ainda mais em sua desabalada campanha antipetista e pró-Serra. Em dois casos antológicos de “Erramos” sobre textos opinativos, o jornal da família Frias se penitenciou pelo articulista que “enforcou” Jesus Cristo e pelo jornalista que reescreveu a história e pôs o rabino Henry Sobel no enterro do Vladimir Herzog. Não é preferível duvidar antes de um Roberto Jefferson a ter de passar depois por outro vexame desses?