Há 38 anos: segue o resgate dos heróis da Guerrilha do Araguaia

Em 12 de abril de 1972, o PCdoB começou a ocupação na região do Araguaia com o objetivo de criar condições para resistir e derrubar a ditadura militar instalada desde o golpe de 1.964. A Guerrilha do Araguaia foi brutamente reprimida e marca, até hoje, a maior operação já realizada pelas forças armadas para reprimir um movimento no país. No vídeo abaixo, você confere os esforços do Ministério da Justiça para recolher e identificar as ossadas dos guerrilheiros assassinados no período.

Mais de três mil homens foram mobilizados pelo exército para tentar deter cerca de 100 guerrilheiros que viviam embrenhados na mata. Apenas nove deles sobreviveram à tortura, perseguição e brutalidade do Exército. O apoio e a ajuda dos moradores da região foram imprescindíveis para a resistência heróica.

Embora a Guerrilha do Araguaia marque um dos episódios mais importantes da História do Brasil, ela ainda é uma desconhecida de grande parte da população. Um dos sintomas deste desconhecimento pode ser visto no vídeo acima: o PCdoB nunca pensou em criar uma província independente no interior do país, como fala, equivocadamente, a jornalista Vera Carpes sobre os objetivos do partido com a Guerrilha.

Ossadas

O governo ainda guarda em seus armários dez ossadas retiradas de cemitérios do sul do Pará e norte do Tocantins, região onde ocorreu a Guerrilha do Araguaia (1972-1975). A Secretaria de Direitos Humanos recentemente reconheceu oficialmente a ossada de Bergson Gurjão Farias, morto em 1972 num combate com o Exército. A ossada foi retirada em 1996 do cemitério de Xambioá.

A ex-guerrilheira e jornalista Regilena Carvalho disse que espera a identificação das demais ossadas guardadas no Ministério da Justiça, em Brasília, e a entrega às suas famílias. “Existem outras ossadas que não podem ser esquecidas em caixas de arquivo sob custódia da Comissão de Mortos e Desaparecidos.” Uma das sobreviventes da guerrilha, ela perdeu o marido, Jaime Petit, e os cunhados Lúcio e Maria Lúcia Petit.

Uma das ossadas guardadas no Ministério pode ser do economista gaúcho Paulo Mendes Rodrigues, morto no Natal de 1973. Em 2001, quando a ossada do chefe do Destacamento C da guerrilha foi retirada do cemitério de Xambioá, moradores da cidade disseram que se tratava de Rodrigues. Ele foi um dos mais conhecidos guerrilheiros da região de São Geraldo do Araguaia. O guerrilheiro tinha um sítio no povoado de Caianos.

Leia abaixo a poesia feita por guerrilheiros do Araguaia alusiva ao início dos combates no dia 12 de abril de 1972.

Abril no Araguaia

Nem tudo é ludo Quando abril nos desce Nem tudo é luto. Quando abril floresce Nem tudo é susto Quando abril se tece.

Nem tudo é ludo
Quando abril nos desce
Nem tudo é luto.

Quando abril floresce
Nem tudo é susto
Quando abril se tece.

1792:

A corda, o patíbulo
(A história tece o seu fio)
Tomba o valente alferes.

E abril?
E abril, o que nos traz então?
Lição.

1964:

Bandidos
Assaltam o sono e o
Sonho do povo:
O medo ruge nas praças.

E abril?
E abril, que nos traz então?
Prisão.

1972

Como toda noite funda
É esperança de manhã
No Araguaia raia a luta.

E abril?
E abril, que nos traz então?
Clarão.
 

Fonte: Produção de vídeo da TV Justiça, poema da Fundação Maurício Grabois, texto da redação, com agências

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