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Ex-ditador argentino é condenado a 25 anos por crimes de tortura

O último ditador argentino, Reynaldo Bignone (1982-1983), de 82 anos, foi condenado nesta terça-feira (20/4) a 25 anos de prisão por torturas e sequestros. Bignone é acusado pelos crimes de privação ilegal de liberdade e de aplicação de torturas a prisioneiros políticos, entre outros delitos, cometidos no Campo de Mayo, principal centro de detenção clandestino do regime militar.

Outros seis ex-comandantes da ditadura militar (1976-1983), cúmplices de Bignone nos crimes cometidos no Campo de Mayo, receberam distintas penas de prisão. Os crimes ocorreram entre 1976 e 1978, quando Bignone chefiava a guarnição do local, cujas masmorras chegaram a manter 4.000 opositores ao regime, incluindo muitos desaparecidos.

O Campo de Mayo também abrigou uma maternidade clandestina que permitiu o roubo de bebês e a mudança de suas identidades para que as crianças fossem entregues a outras famílias.

Bignone assumiu o poder em 1982, após a derrota militar contra o Reino Unido nas Ilhas Malvinas, e entregou o governo em dezembro de 1983, a Raúl Alfonsín, primeiro presidente eleito após o retorno à democracia.

O Tribunal Federal de San Martín, nos arredores da capital argentina, iniciou em novembro passado o julgamento. Por falta de espaço, o processo foi realizado em um galpão de uma associação da cidade de Munro. Cem testemunhas foram ouvidas, entre elas Héctor Ratto, sobrevivente do centro de torturas e ex-trabalhador da montadora alemã Mercedes-Benz, que acusou a empresa de ser cúmplice do regime.

Em uma entrevista incluída no documentário "Esquadrões da Morte. A Escola Francesa", da jornalista francesa Marie-Monique Robin, Bignone admitiu que o regime é culpado pelo desaparecimento de milhares de pessoas, embora não tenha reconhecido os 30 mil desaparecimentos estimados pelas organizações de Direitos Humanos.

"Falam de 30 mil, mas apenas foram 8.000 (os desaparecidos)", disse Bignone naquela ocasião e revelou que a execução clandestina se inspirou em militares franceses durante a guerra da Argélia, a ponto de instrutores "franceses terem dado palestras e concedido consultas" na Argentina.

Fonte: UOL