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Trabalhadores denunciam tentativa de privatização dos Correios

A proposta de transformar a Empresa de Correios e Telégrafos (ECT) em uma sociedade anônima, defendida pelo presidente da empresa, Carlos Henrique Custódio, foi rechaçada pelos trabalhadores e por parlamentares da Frente Parlamentar em Defesa dos Correios. O assunto foi tema da audiência pública realizada nesta terça-feira (18), na Câmara. O coordenador da Frente, deputado Daniel Almeida (PCdoB-BA), manifestou preocupação em reunir sugestões para solucionar o problema da crise na empresa.

A administração e trabalhadores têm em comum o reconhecimento da crise na empresa e da necessidade de mudanças para superar as dificuldades. Mas, para alcançar esse objetivo, os líderes sindicais defendem união e transparência. Eles reclamam de não terem sido chamados pelo governo para discutir a Medida Provisória que está sendo elaborada na Casa Civil com medidas modernizadoras para a empresa.

Para Daniel Almeida, a audiência pública deve servir para reunir sugestões concretas, “não só medidas emergenciais, para ‘apagar incêndio’, mas medidas que dê segurança e estabilidade à empresa, de médio e longo prazo”, afirmou, acrescentando que o Brasil já reaprendeu a planejar, o que deve ser utilizado nessa situação.

E diz que a Frente Parlamentar deve servir como espaço para que se construa o amplo diálogo com a participação dos servidores. “É impossível fazer mudanças em empresa sem levar em conta a parceira com os trabalhadores”, afirmou.

“Eu quero colocar a Frente Parlamentar à disposição para estimular mais diálogo e entendimento”, afirmou. O parlamentar disse que a Medida Provisória (MP) pode ter um conteúdo razoável, mas sem diálogo, pode se perder a oportunidade de promover avanços na empresa.

Falta de pessoal

Para os líderes sindicais, a empresa precisa resolver seus problemas internos, principalmente com política de pessoal, para depois pensar em restruturação administrativa. Moysés Leme, presidente da CTB-DF, que participou da audiência, denunciou que a estrutura logística e a área administrativa da empresa estão terceirizadas.

E pediu ajuda à Frente Parlamentar para ajudar nas propostas de reformulação da empresa, que deve privilegiar a logística terrestre e a contratação de pessoal. Ele criticou o governo por não ter chamado os representantes da classe trabalhadora para discutir o projeto, acrescentando que “se quer fazer o embate no Parlamento, nós vamos fazer, mas podia ser anterior.”

Luiz Alberto Menezes Barreto, da Associação dos Profissionais de Níveis Superior, Técnico e Médio da ECT (ADCAP), pediu ao presidente da ECT para que reconhecesse a necessidade de atuação conjunta e convidasse os trabalhadores a participarem do debate.

José Rivaldo, secretário-geral da Federação dos Trabalhadores dos Correios (Fentect), também queixou-se da ausência de debate sobre o assunto com os trabalhadores. “Esse debate não foi feito com o movimento sindical para que tenhamos garantia para os trabalhadores, a sociedade e o serviço prestado. Nós sabemos que existe crise e queremos sair da crise, mas a preocupação nossa maior é com a garantia dos trabalhadores.”

Ele disse ainda que todos defendem a proposta de transformar os Correios em megaempresa, mas denunciou a tentativa de sucateamento da empresa para convencer a sociedade de que precisa de mudança e transformá-la em S/A.

Defesa da proposta

O Presidente dos Correios garantiu que “nunca passou pela cabeça de ninguém, nem do Presidente Lula, nem do ministro Hélio Costa (das Comunicações), nem na minha, de privatizar”, destacando que a proposta que está sendo elaborada não é um modelo definitivo.

Em defesa da proposta de transformação da ECT em sociedade anônima, o Presidente dos Correios lembrou a experiência da Petrobrás que se modernizou abrindo seu capital. Ele diz que o grande legado que pretende deixar é a modernização da empresa. A sociedade anônima representa a abertura de capital da empresa, que capta recursos junto ao público e é fiscalizada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

Ele disse ainda que não há sucateamento, o que foi rechaçado por um “ôôô” da platéia. Admitiu problemas, mas negou que haja processo nesse sentido. Admitiu também que o concurso para o qual estão inscritos mais de um milhão de candidatos, deve ser realizado o mais rápido possível para que seja sanado o problema da falta de pessoal, principal queixa dos líderes sindicais.

O deputado Luiz Couto (PT-PB) reforçou as palavras dos funcionários da empresa. Ele defendeu a ECT como empresa pública e 100% estatal. Segundo ele, a crise da empresa deve ser superada com melhoria nas condições para operar, destacando a necessidade de contratação de mais pessoal. “A crise que aqui se debate tem a ver com agências franqueadas, que prejudicam a imagem dos Correios”, disse o parlamentar, engrossando o coro dos trabalhadores que se posicionaram contra a terceirização dos serviços postais.

De Brasília
Márcia Xavier