Alexandre Lucas – Quando a arte humaniza?

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A arte nos possibilita enxergar o mundo de uma forma mais sensível e crítica. No entanto ela também pode adormecer o olhar para a realidade. Essa dualidade é algo presente e manifesta-se na contemporaneidade o que aponta para dois caminhos distintos: um que comunga com uma arte contextualizada como o seu tempo e os seus dilemas e outro que avança para supremacia da forma em detrimento do conteúdo.

A insistência em defesa de uma arte que esteja ligada à vida, aos acontecimentos do mundo, que tenha um compromisso social e reconheça a capacidade e a potencialidade do outro, que seja colaborativa, ativa e minada de liberdade é uma das formas de restabelecer caminhos de envolvimento e pertencimento das pessoas aos pensares e fazeres artísticos. É um dos mecanismos de apoderamento crítico e sensível para a realidade. É nesta arte provocativa, que vai além de mostrar as realidades, mas estimula a participação, a reflexão e a resoluções das questões postas pela atualidade que desconstruiremos antigos muros que separam e alargam a distância entre a arte e o grande público.

Por outro lado, quando ela se desvincula dos conteúdos e elege as formas como elementos primordiais, potencializa-se uma arte do vazio, ou preenchida de insignificâncias para a vida das pessoas. Estamos numa época das formas e dos discursos de verdades subjetivas que têm levado e elevado o mercado da arte para os restritos grupos das elites econômicas. Esse tipo de arte será que interessa ou faz sentido para a maioria da população? Certamente não. Pois a arte é um diálogo constante entre o eu e a sua coletividade que acarreta relações e necessidades humanas de atrelar o indivíduo ao seu todo social.

A arte só humaniza quando mantém uma vinculação com a história e os acontecimentos atuais e gera significados sociais e fraternos. Desta maneira é possível desenhar a viabilidade em juntar a vida e a arte, o divertimento e a preocupação com a realidade social do nosso povo.

Quando a arte serve para humanizar, ela serve para reconstruir um novo homem/ uma nova mulher, forjar novos valores e ampliar o acesso da arte historicamente negada e distanciada das camadas populares. Como diria o cineasta Rosemberg Cariry “De que vale a arte que não transforma o homem?”.

Alexandre Lucas é Coordenador do Coletivo Camaradas, pedagogo e artista/educador.

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