Iran Soares: A saga de Nacir Pinheiro de Barros, Dona Maroca

No dia 10 de maio faleceu em Fortaleza a líder comunitária Nacir Pinheiro de Barros, mais conhecida como Dona Maroca. Uma organizadoras da luta dos moradores da comunidade da Penha, na Bela Vista, em Fortaleza, participou dos Congressos da Federação de Bairros e Favelas de Fortaleza desde a sua fundação. Através do versos em literatura de cordel do jornalista Iran Soares, o Vermelho/CE homenageia Dona Maroca, mulher que deixou exemplo na luta do povo da capital cearense.

Maroca edita

Peço a inspiração divina
Pra essa história contar
História de uma menina
Que nasceu para lutar
Cumprindo com sua sina
E todos os filhos criar.

De coração agradeço
Rita de Cássia Lisboa
Pelo carinho e apreço
Como sempre gente boa
Feito açúcar no mel
Revisando este cordel.

A história de Maroca
Tenho prazer em narrar
Porque ela não é triste
Mas se faz arrepiar
É porque de tão bonita
Mostra a glória de lutar.

Nascida em Poço Verde
Município de Caucaia
Sempre trabalhou até tarde
Sem ter medo de tocaia
Corria pelos caminhos
Ouvindo canto da jandaia

Quando Maroca queria
Com seus filhos passear
Pegava jumenta Morena
Com um jogo de caçuá
Botava dentro as crianças
Ia na frente a puxar.

Foi jovem e destemida
Não sofreu desilusão
Enfrentou a realidade
Com muita disposição
Todos da comunidade
Tem por ela estimação.

Com sua “reca” de filhos
Veio para Fortaleza
Queria todos nos trilhos
Trabalhando com firmeza
Com saúde e educação
E uma família beleza.

Para morar na Capital
Ela vendeu o que tinha
Alguns bodes e a jumenta
Que chamava moreninha
Para juntar os recursos
E comprar sua casinha.

Foi no bairro Bela Vista
Que Maroca foi morar
Encontrou padre Eduardo
Lutador desse lugar
Que a todos confortava
Sempre pronto a ajudar.

Com Maroca e os filhos
Seus vizinhos e parentes
Fez com eles parceria
Todos ficaram contentes
E uma casa de tijolos
Levantou-se de repente.

Pouco tempo estudou
Mas teve compreensão
De que só o povo unido
Promove transformação
Para uma vida digna
E uma forte Nação.

Pra construir a Penha
Com dinheiro aos pingos
Engajou-se nos leilões
Rifas, reisados e bingos
Chamava a comunidade
Para missa aos domingos.

Da Associação da Penha
Foi a primeira a lutar
Fazia abaixo-assinados
Pra melhorar o lugar
Com esgoto e água boa
Bom local para habitar.

Se o corrente enchia
E invadia as casas
Maroca é quem socorria
A família desprezada
Com apoio da Paróquia
De dia, de madrugada.

Lutou contra a carestia
Organizou caminhada
Contra a “panela vazia”
Muito entusiasmada
Queria escola e creche
Para toda a meninada.

Fez parte do Interbairros
E depois da Federação
Lá estava Dona Maroca
Em grande manifestação
Lutando por seu Brasil
Protestando com razão.

Pedia o saneamento
Ônibus bom e barato
Era esse o pensamento
Na Prefeitura fez trato
Por asfalto e calçamento
Sem precisar de contrato.

Ao lado de Inácio Arruda
Chico Lopes e Terezinha
Do Iran, Sônia e Assis
Formava uma “turminha”
Para discutir a política
De enfrentar a burguesia.

Maroca se indignou
Lá na Praça da Bandeira
Quando Inácio foi preso
Pela polícia bandoleira
Por ser contra a Ditadura
Sofria a Nação inteira.

O “Reino da Luminura,
A Maldição da Besta-Fera”
Um teatro do Osvaldo
Que mostrava aquela era
Foi apresentado e discutido
Pelo povo da favela.

Representando o Ceará
No Congresso da Conam
Discutia as questões
Como guerreira Titã
Apontando soluções
Para os dias de amanhã.

Em tudo que ela fazia
Foi séria, sem brincadeira
Para as mulheres paridas
Tornou-se melhor parteira
Com amor dava guarida
Aos filhos de mãe solteira.

Zemilton, primeiro filho
Foi sobrinho e seu irmão
Um apoiador de Maroca
Nas horas de precisão
Desde pequeno sentia
Por ela admiração.

Cumpade Chico Pessoa
Foi um amigo de verdade
Ajudando a Maroquinha
A superar dificuldade
Agora o filho Eduardo
Tem a mesma lealdade.

A pedido de Maroca
O Eduardo ajudou
Fazer casa pra Ofélia
Que a chuva derrubou
Que Deus te pague filho
Maroquinha desejou.

Maroca gente de paz
As intrigas desfazia
Um abraçando o outro
Com tamanha alegria
Que ela sozinha à noite
Pensando sempre sorria.

Destaco amigo Gonzaga
Meu bom senhor Damião
A brava dona Zefinha
Com terço sempre na mão
Junto com Dona Maroca
Chamando pra reunião.

Dona Neusa, seu Raimundo
Tinha Baica, Graça e Cecy
A Maria do Ó e Amélia
Dona Noeme e a Juracy
Beto Cabral, a Carmelita
Célia, a Fátima e Iracy.

Herculano, Dona Zózima,
Dona Antônia, a Cesarina
Seu Luís, seu Expedito
A grande amiga Marina
Todos em uma ciranda
Homem, mulher e menina.

Tinha Gerardo e o Freitas
A Gracinha e a Germana
Juntos com Helena e Ana
E o Ruberval professor
Os parceiros de Maroca
Eram gente de valor.

A casa de Maroquinha
Todo ano de eleição
Era como um comitê
Pra toda população
Que buscava chapinha
Pra fazer boa opção.

Logo Maroca levantou
Com coragem e altivez
A bandeira do Partido
Por uma dezena de vez
E criticando a ditadura
Lutou por duas e três.

Do Comitê Municipal
Recebe justa homenagem
Uma distinção sem igual
Da luta pelo socialismo
Cavalgando com coragem
Batalhando com heroísmo.

Passado o Dia das Mães
Meia hora era marcada
Maroca partiu tranqüila
No início da madrugada
Agora noutra dimensão
Constrói a nova morada.

Maroquinha não descansa
De lutar contra a opressão
Lá no céu já formou Base
Com todo povo cristão
A Deus ela está pedindo
Pra todos nós proteção.

Iran Soares é jornalista profissional, formado em Comunicação Social pela UFC, e professor com diploma da Universidade Estadual do Ceará (UECE).