Novo presidente da Fetag-BA aponta desafios para os próximos anos
Recém-eleito presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Estado da Bahia – Fetag, uma das maiores entidades de trabalhadores do estado, com 404 sindicatos filiados, Cláudio Bastos conversou com o portal Vermelho e apontou o projeto alternativo de desenvolvimento rural sustentável e solidário como principal desafio para os próximos quatros anos, a partir da consolidação e fortalecimento da agricultura familiar.
Publicado 29/06/2010 18:58 | Editado 04/03/2020 16:20
“A agricultura familiar, hoje, é um setor que representa a maior parte dos alimentos que chegam à mesa dos trabalhadores e um importante distribuidor de renda em nosso país”, destacou Bastos, que já exercia o cargo de vice-presidente e diretor financeiro. A posse enquanto presidente será no dia 15 de setembro.
A eleição aconteceu no último dia 19, quando do encerramento do 7º Congresso Estadual da Fetag, sediado em Salvador, e que contou com a presença do governador Jaques Wagner (PT) e importantes lideranças políticas do PCdoB, a exemplo dos deputados federais Daniel Almeida e Alice Portugal, e dos estaduais Álvaro Gomes e Edson Pimenta (que presidiu a entidade por três mandatos).
Vermelho – Qual avaliação você faz do Congresso?
Cláudio Bastos – O Congresso reuniu mais de 1,5 mil lideranças ligadas aos trabalhadores e trabalhadoras rurais. Nós tivemos dois dias de concentração dos delegados e delegadas, nas diversas comissões temáticas, o que aprofundou o debate já conduzido pelas regionais e pelos sindicatos, e que a gente finalizou em um documento-base. Então, essa próxima gestão eleita tem o desafio de, junto com esse documento orientador e norteador, fortalecer cada vez mais a luta dos trabalhadores e trabalhadoras rurais, a pressão popular aos órgãos governamentais para garantir mais recursos para a Reforma Agrária, para fortalecer a agricultura familiar e as diversas políticas públicas que possam estar trazendo, efetivamente, a melhoria da qualidade de vida do homem e da mulher no campo. A Fetag, portanto, sai fortalecida com um debate que a gente conseguiu construir, porque o documento-base trouxe todas essas políticas para o Congresso. Em paralelo, também foi realizada a Feira Estadual da Agricultura Familiar, com exposição de produtos de diversos territórios do estado.
V – E quais são os principais pontos desse documento-base?
CB – O Congresso aconteceu pautado em um projeto alternativo de desenvolvimento rural sustentável e solidário, que é o marco político e organizativo da categoria. Nesse projeto, estão as principais políticas estruturantes da luta dos trabalhadores e trabalhadoras rurais, conduzidos pela Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura) e aprovados no seu 10º Congresso Nacional. O nosso Congresso Estadual foi realizado em cima das propostas do documento-base, amplamente debatida com os sindicatos dos trabalhadores e trabalhadoras rurais de cada município, com os pólos e delegacias sindicais em cada região, e que foi trazido pro Congresso nas principais comissões temáticas que abordaram a questão da consolidação de uma política agrária ampla e massiva; a participação efetiva dos companheiros da juventude do campo, que representou mais de 30% do Congresso; a participação das mulheres, que foi de aproximadamente 50%; o fortalecimento da agricultura familiar, que hoje é um setor que representa a maior parte dos alimentos que chegam à mesa dos trabalhadores e um importante distribuidor de renda em nosso país. Portanto, com a realização de uma ampla e massiva Reforma Agrária e o fortalecimento da agricultura familiar, com certeza a gente vai estar consolidando um desenvolvimento cada vez mais sustentável no campo.
V – E com relação às mulheres, que tiveram participação maciça no Congresso, a Fetag tem bandeiras luta específicas voltadas para a trabalhadora rural?
CB – O nosso estatuto já determina a obrigatoriedade de 30% de participação de mulheres em todos os principais fóruns do movimento sindical. Nesse Congresso, foi demonstrada a participação efetiva das companheiras, uma vitória das mulheres na construção e fortalecimento da luta dos trabalhadores e trabalhadoras rurais. Nós criamos, na Contag, a Coordenação Nacional de Mulheres, que trabalha de acordo com a orientação da Comissão Nacional de Mulheres, com representantes de cada estado. E, aqui na Bahia, construímos a Secretaria de Mulheres, que é estruturada com assessoria e com orçamento para garantir a organização da lutas das mulheres no campo. É uma secretaria tem o mesmo status das demais que conduzem as principais frentes de luta da entidade.
V – Quais são essas principais frentes de luta?
CB – Nós temos a Política de Formação e Organização Sindical; a Política Agrária; a Política de Meio Ambiente; a Política Agrícola, que conduz principalmente esse debate da organização da produção da agricultura familiar com acesso ao mercado e a ampliação dos recursos da assistência técnica. Temos a Secretaria da Juventude, a Secretaria das Políticas Sociais, que cuida da Previdência Social, da saúde, da educação, do lazer, da inclusão social como um todo; uma secretaria que faz a luta de enfrentamento ao grande capital do campo, que é a Secretaria dos Assalariados; e uma que cuida da Sustentabilidade, a auto-sustentação do movimento sindical, que é a Secretaria de Finanças. Então, são as diversas frentes de lutas que a gente conduz na Fetag.
V – A nova direção eleita conta com nomes da atual diretoria. O que representa, na prática, essa continuidade?
CB – A nova direção eleita tem uma renovação em torno de 40%, mas muitos companheiros da diretoria atual foram reeleitos. A continuidade representa, exatamente, o que está colocado como o lema da nossa chapa, que é continuar com uma entidade forte de luta, como sempre foi; que tem atuação nos diversos cantos da Bahia, com todas essas frentes de luta que já falei. Agora, essa nova gestão se consolidou como uma diretoria forte, renovada e de luta; que tem o desafio de, nos próximos quatro anos, dar continuidade a esse trabalho que já vem sendo construído pela entidade.
De Salvador,
Camila Jasmin