Sem categoria

Novo indicador do Pnud vai medir pobreza humana

O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, Pnud, e a Universidade de Oxford, na Inglaterra, divulgaram na quarta-feira (14) um novo índice para medir níveis de pobreza. Segundo afirmam, o novo indicador fornece um retrato multidimensional de pessoas que vivem com dificuldades e pode ajudar a canalizar os recursos para o desenvolvimento de forma mais eficaz.

O novo instrumento de medida, conhecido por Índice Multidimensional de Pobreza (MPI, na sigla em inglês), será usado na edição que marcará o 20º aniversário do Relatório de Desenvolvimento Humano do Pnud, e substitui o Índice de Pobreza Humana, utilizado em todos os relatórios da agência desde 1997.

O MPI avalia uma série de fatores críticos ou restrições a nível familiar, da educação à saúde passando pelo acesso a serviços que, juntos, fornecem um retrato mais completo e exato da pobreza.

O índice revela, de acordo com o Pnud, a natureza e a extensão da pobreza, em vários níveis: familiar, regional, nacional e internacional.

A abordagem multidimensional foi adotada pelo México e está sendo considerada pelo Chile e pela Colômbia.

Segundo o novo instrumento de medida, metade dos pobres no mundo vive na Ásia, cerca de 844 milhões, e ¼ no continente africano.

A expectativa de que o novo Índice será uma ferramenta efetiva na guerra contra a miséria é grande.

Tradicionalmente, a pobreza é medida focando primeiramente a renda média de um país e sua população (o chamado Índice de Desenvolvimento Humano). É estabelecido um padrão e todos que vivem abaixo dele são considerados pobres.

Sabina Alkire, diretora da unidade de pesquisa da Universidade de Oxford, diz que este método tradicional é muito simplista para o mundo moderno.

Sobreposição

O novo método observa uma combinação de dez fatores, incluindo saúde, educação e padrão de vida, e procura identificar onde estes fatores se sobrepõem em nível doméstico, explica Alkire.

”Uma criança não vai à escola, mas esta criança pode também estar mal nutrida e seus pais talvez nunca tenham frequentado a escola. E existe uma escola? Então, as barreiras para que ela entre na escola são: um, há uma escola? Dois, os pais desta criança sabem o valor da educação escolar e de ajudar com os deveres de casa? E três, quando a criança está na escola, ela pode se concentrar e aprender? Porque ela pode estar mal nutrida e não ter capacidade de concentração. Por isso observamos como estas coisas acontecem simultaneamente em nível doméstico.”

É uma combinação de fatores que até hoje não vinha sendo considerada, dizem os pesquisadores de Oxford. O uso do novo método pode resultar em uma maneira nova de olhar o mapa global da pobreza no mundo.

Índia x África

Segundo o novo método, existem 1,7 bilhão de pobres no mundo, 400 milhões a mais que o atual cálculo da ONU. E há mais pobres na Índia do que na África – mais de 50% da população da Índia é pobre de acordo com a nova medida, contra 42% na antiga. Estas pessoas estão concentradas nos oito estados mais pobres da Índia e ultrapassam em número os países subsaarianos mais pobres, embora nestes a concentração de pobreza seja pior.

O novo método permite medir a intensidade da pobreza, o que significa que bolsões de miséria ao redor do mundo podem ser diretamente comparados e, de acordo com os pesquisadores, também as melhores maneiras de combater a pobreza.

Duvidoso

Mas nem todos estão convencidos com o novo índice. Paul Hoebink, especialista holandês em cooperação para o desenvolvimento, concorda que considerar apenas a renda não é o suficiente, porque depende de cada ambiente.

Um pobre nos Estados Unidos, por exemplo, não é pobre na África. Mas Hoebink diz que o novo modelo na verdade não é tão novo. Esta maneira de pensar já é utilizada há anos, ele argumenta, e que a divulgação de modelos assim é visto por ele como uma espécie de competição entre cientistas sociais.

Hoebink não se convenceu com o novo modelo, especificamente, porque as diferentes causas de pobreza que o método enfoca são muito difíceis de serem mensuradas.

”Isso faz com que este modelo seja um pouco duvidoso. Claro que você pode medir um pouco. Você pode medir áreas que estão ameaçadas de enchente ou que parte do país é mais vulnerável a um terremoto ou tempestade tropical. Mas em geral estas medidas dependem do momento em que são feitas. Portanto, por um lado são cientistas competindo com ideias, por outro muitos destes aspectos multidimensionais são simplesmente muito difíceis de mensurar.”

O novo índice multidimensional aparecerá como principal ferramenta de medição no Relatório de Desenvolvimento Humano da ONU, que será lançado em outubro.

Fonte: Radio Netherlands Worldwide