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Sigilo não afetará cenário de vitória de Dilma, dizem analistas

As revelações são diárias e ocupam as manchetes dos principais jornais do país. Mesmo assim, analistas preveem que as denúncias envolvendo quebra de sigilo fiscal de pessoas próximas ao presidenciável José Serra (PSDB) terão pouco — ou até nenhum — impacto no rumo da eleição, que tende à vitória em primeiro turno de Dilma Rousseff (PT).

Os argumentos de especialistas convergem. A 24 dias do primeiro turno, o tema é pessoal, de difícil entendimento, sem nenhuma materialização e sem força para alterar o quadro eleitoral. "Esse escândalo é fraco e não tem impressão digital clara", comenta Carlos Ranulfo, cientista político e professor da Universidade Federal de Minas Gerais.

O reflexo nas pesquisas de intenção de voto não se fez sentir. O caso teve início em junho, com um pico há dez dias, quando a filha de Serra também foi envolvida nas denúncias. Levantamentos do Ibope e do Datafolha passaram incólume. Realizado entre 31 de agosto e 2 de setembro, o Ibope manteve o quadro em que Dilma alcança 51% das intenções de voto e Serra, 27%.

O resultado é idêntico ao da sondagem realizada no período anterior, de 24 a 28 de agosto. No Datafolha, a petista foi de 49% para 50% e o tucano passou de 29% para 28%. O levantamento dos dias 2 e 3 de setembro aponta que as oscilações ficaram dentro da margem de erro.

Já na medição do tracking do Vox Populi realizada na terça-feira, Dilma variou de 56% para 54% em relação à véspera, dentro da margem de erro, enquanto Serra manteve os mesmos 21%. A pesquisa, publicada diariamente pelo portal iG, ouve 500 eleitores a cada dia. A amostra é totalmente renovada a cada quatro dias, quando são totalizados 2 mil entrevistados.

"Não mudou nada. O assunto é complicado para a maioria do eleitorado — e muita gente nem declaração de Imposto de Renda faz", disse Marcia Cavallari, diretora-executiva do Ibope, justificando a falta de compreensão do eleitorado em relação ao vazamento de dados fiscais. "As pessoas podem achar que faz parte do desespero (dos tucanos)", agrega Marcia.

A executiva acredita que poderá haver algum impacto no eleitor de alta renda e com instrução superior, que pode se sentir desprotegido em relação a seus dados na Receita Federal. Mas, por enquanto, os dois candidatos estão próximos nestes segmentos. As próximas pesquisas devem atestar o que preveem os analistas. O Ibope, por exemplo, vai produzir três pesquisas eleitorais para presidente antes do primeiro turno — uma por semana.

Sem paralelo com 2006

Na opinião do cientista político Alberto Carlos Almeida, autor do livro A Cabeça do Eleitor, as denúncias são marginais ao cenário nacional. "Não vai afetar, não vai virar nada." Em 2006, conta ele, o escândalo dos aloprados, com visibilidade bem maior, não fez o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva cair nas pesquisas. Alckmin é que subiu, atraindo os votos em branco e de indecisos, analisou. E no final Lula levou.

Para Almeida, a alta aprovação do governo Lula, o entendimento do eleitor de que Dilma vai lhe dar maior capacidade de consumo e o crescimento da economia de 7% neste ano vão eleger a candidata do governo. "É isso — o eleitor quer uma sensação de bem-estar."

Carlos Ranulfo lembra que, no caso da tentativa de compra de um dossiê em 2006, houve prisões. Agora, essa quebra de sigilo não aparenta ter sido usada para nada. "Não tem consequência nenhuma." Há quatro anos, dado o espectro do escândalo dos aloprados, a eleição, prevista para terminar no primeiro, foi ao segundo turno. Se os analistas estiverem certos, Dilma se tornará, em 3 de outubro, a primeira mulher a chegar à Presidência da República.

Da Redação, com informações da Reuters