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Tropa de Elite 2 foca corrupção política e violência urbana

A sequência de "Tropa de Elite", agraciado com o Urso de Ouro no Festival de Berlim de 2008, estreia amanhã no circuito brasileiro com a vontade incendiária de mostrar de forma nua e crua a corrupção política e a violência urbana que sacode o país.

"Se contribuirmos para inserir a segurança pública em debate, não vou dizer que me entristecerá", disse o cineasta José Padilha, em entrevista coletiva realizada após a pré-estreia dessa quinta.

O longa que inaugurou a saga abordou a violência nas favelas do Rio de Janeiro da perspectiva do corpo especial da Polícia Militar, o BOPE. Na segunda parte, a trama avança 15 anos e remete à atualidade para mostrar a evolução de um crime organizado que se sofisticou, ramificado e internalizado até o osso não só na Polícia, mas também no Governo e no Legislativo carioca.

Consciente do impacto que poderia ter nos meios políticos por sua acidez, Padilha disse que o filme "é fiel à realidade", mas que "também tem ficção". Segundo ele, a violência urbana no Rio e a corrupção da engrenagem brasileira "são piores na realidade" do que aparece no filme, que mostra disputa de forças e tem a estética de um documentário.

Este gênero foi o que Padilha adotou em "Ônibus 174" para se aventurar pela primeira vez no submundo em que se misturam a pobreza, a corrupção da Polícia brasileira, a injustiça e a desigualdade social, para produzir um coquetel explosivo de violência evidente nas notícias diárias.

"Parte do sucesso de 'Tropa de Elite' está em seu forte coeficiente de realidade, que faz com que as pessoas se identifiquem. Padilha é um documentalista", assegurou o protagonista, Wagner Moura, na entrevista coletiva.

À margem de seus tons políticos, "Tropa de Elite 2" é um vibrante filme de ação, cheio de perseguições e tiroteios, gravado com um ritmo acelerado e encantador, que se não tivesse o apoio da voz do narrador, os espectadores que não estão familiarizados com as regras brasileiras poderiam se perder em algum momento.

Para defender este enfoque particular, Padilha citou o cineasta alemão Wim Wenders – para quem um filme "não tem alma" se não está vinculado a um lugar – e argumentou que os dilemas emocionais do protagonista, o capitão Nascimento, "são muito universais".

Nascimento, que nesta segunda parte se tornou subsecretário de Segurança do Governo do Rio, se vê no drama de se relacionar com o filho adolescente, que o rejeita e prefere o modelo paterno convencional. "É um personagem trágico no sentido clássico (…) que caminha inexoravelmente para um destino trágico", explicou Wagner Moura sobre seu personagem.

A estreia de "Tropa de Elite 2" despertou uma grande expectativa no país, por isso os produtores o exibirão amanhã em 661 salas, um número superior inclusive ao de algumas superproduções americanas.

Todo o processo de montagem e edição foi cercado de medidas de segurança para evitar o que aconteceu em 2007 com a primeira parte, que foi pirateada quando ainda estava em fase de pós-produção, forçando a produtora a antecipar em dois meses sua estreia.

Os produtores calculam que 11 milhões de brasileiros viram a cópia pirateada, frente aos 2,5 milhões que foram realmente às salas de cinema, uma bilheteria boa para um filme nacional.

Com EFE