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Com 7,7 milhões de votos, Netinho se declara “realizado” no PCdoB

Ainda que não tenha conquistado nenhuma das vagas em disputa ao Senado por São Paulo, o vereador Netinho de Paula (PCdoB) sabe que foi longe nas eleições 2010. Nunca um candidato negro em todo o Brasil, seja do PCdoB ou de outro partido qualquer, havia recebido algo comparável aos mais de 7,7 milhões de votos alcançados por Netinho em 3 de outubro.

Por André Cintra

“Acho que foi uma votação expressiva”, declara ele ao Vermelho, reconhecendo que por pouco não se tornou o primeiro senador negro do estado. “Se faltou um pouco de gás no final, com os poucos recursos que a gente tinha, isso fez a diferença.

Nesta entrevista, Netinho revela ter ficado “muito surpreso” com a ofensiva da grande mídia contra sua candidatura. “Parecia que eu era o único Judas que estava ali para ser malhado”, ironiza.

Do alto de sua votação, ele também se diz motivado a ajudar a campanha de Dilma Rousseff no segundo turno da eleição presidencial, bem como em fortalecer o PCdoB. Declarando-se “completamente realizado”, “cada vez mais feliz” e “extremamente grato”, Netinho já fala em ampliar os “soldados” do partido. Confira.

Vermelho: A que você atribui a sua excepcional votação?
Netinho: Nós fizemos tudo o que foi possível. Andamos pelos quatro cantos do estado ao lado do nosso candidato a governador (o petista Aloizio Mercadante), levamos as nossas propostas e os nossos ideais. Acho que foi uma votação expressiva.

Vermelho: E o que faltou para ser eleito, para chegar lá?
Netinho: Se faltou um pouco de gás no final, com os poucos recursos que a gente tinha, isso fez a diferença. Foi uma luta contra a máquina – uma máquina partidária e também uma máquina midiática. Foi uma campanha muito difícil, em que a gente pôde ter a certeza de que a imprensa paulistana tem lado. Portanto, dentro das nossas condições, fizemos o possível.

Vermelho: Você – que é um homem da mídia – nunca esperou por uma campanha dessas contra sua candidatura? Ficou surpreso com os ataques?
Netinho: Eu fiquei muito surpreso, sim. A imprensa começou esse processo político falando em isenção, não foi? Mas, conforme o processo foi se desenvolvendo, a gente não viu nada dessa isenção. De notícias a meu respeito, só saiam fatos negativos.

Eu esperava que, se eles estavam falando daquele jeito sobre fim, falariam mal também dos outros candidatos. Mas não – parecia que eu era o único Judas que estava ali para ser malhado. Acho que eles cumpriram o papel que combinaram fazer.

Mas, como eu tive 7,7 milhões de votos, isso significa que meu povo não se abalou. Acho que é uma conquista. Um candidato negro no nosso país nunca teve essa expressão de votos. Agora, isso tem de ser bem tratado, para que a gente possa ampliar numa próxima eleição.

Vermelho: E o segundo turno? Não é uma chance de renovar esse laço com seus eleitores e intensificar a campanha da Dilma?
Netinho: Não tenha dúvida. Já estamos conversando para que o PCdoB tenha um papel protagonista neste embate que o segundo turno vai exigir. O partido, com sua militância e estratégia, com seus líderes, vai a campo para defender este que é o melhor patrimônio para o Brasil – que é a defesa da democracia através de Dilma.

Vermelho: Falando em partido, como anda sua relação com o PCdoB? Você ficou satisfeito com o apoio da militância às suas duas campanhas – a vereador, em 2008, e a senador, neste ano?
Netinho: Eu me sinto completamente realizado e cada vez mais feliz. Sou extremamente grato. Foi essa militância e foi esse partido que deram a oportunidade a um negro de representar a população do estado de São Paulo através do Senado. Foi mais uma ousadia – a primeira vez em que um negro pôde disputar esse cargo majoritário.

Se não fosse o PCdoB, eu não teria essa chance – isso não aconteceria. Acho que nossa militância fez tudo que pôde e, agora, nós vamos ampliar. Essa votação nossa significa pessoas que são simpatizantes das nossas ideias, do nosso campo, que virão conosco – e que podem se filiar para serem mais soldados do PCdoB.