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Pedro Oliver (1924-2010), um exemplar líder operário comunista

Aos 85 anos, a memória ainda estava intacta, e as lembranças, repletas de detalhes de uma vida militante. “Conheci o partido quando trabalhava numa fábrica. A turma do partido ia à fábrica para ganhar os operários. Quem entrou em contato comigo foi uma companheira chamada Rosária. Ela me convidou a ingressar no partido.”

Por André Cintra e Everaldo Augusto

Diante do convite para entrar no PCdoB, o jovem operário parou para refletir. “Eu disse que gostaria de saber como era, pois não gosto de ser enganado. Além de me explicar tudo como era, ela me orientou a fazer uma pesquisa, desafiando: ‘Se você descobrir que é um engano, você não precisa ingressar ao partido’. Descobri, então, que o partido era uma coisa séria. Em 1947, ingressei ao partido.”

O batismo de fogo ocorreu anos depois, numa das mais célebres paralisações da história do Brasil. Iniciada por cerca de 60 mil trabalhadores, em São Paulo, no dia 18 de março de 1953, a greve aglutinou cinco categorias — gráficos, marceneiros, metalúrgicos, têxteis e vidraceiros. Em 25 de março, no auge da mobilização, 300 mil saíram às ruas do centro paulistano e exigiram salários mais dignos. Era a histórica e vitoriosa “greve dos 300 mil”, que durou cerca de um mês.

“Em 1953, houve uma greve que eu considero a mais importante de todas até hoje. O dirigente do sindicato fazia reunião com os operários, e o sindicato era unido em torno do nosso partido. Quando o dirigente convidava a turma para formar piquete, eles avisavam que quem tivesse medo não precisava se apresentar porque era necessário enfrentar a polícia. Eu era sempre o primeiro a me apresentar como voluntário.”

Este testemunho de Pedro Oliver, colhido em novembro de 2009 para uma pesquisa sobre movimento operário e resistência, é uma pequena mostra do que foi a vida deste militante, que nasceu em Tabapuã (SP), em 5 de dezembro de 1924, e dedicou toda a sua vida à luta pelo socialismo. Pedro se tornou quadro destacado do movimento operário, reunindo as qualidades de orador e organizador dos trabalhadores da capital paulista — até ser deslocado pelo PCdoB para se integrar à resistência contra a ditadura no interior do país.

Junto a outros camaradas, viveu muitos anos no sertão da Bahia, na região do Rio Corrente, onde participou de diversas ações de organização dos camponeses nas décadas de 1960 e 1970. Quando saiu da região, Pedro retornou a São Paulo e se integrou mais uma vez às fileiras partidárias, residindo na região de Sapopemba, com sua esposa e dois filhos.

Pedro Oliver faleceu nesta terça-feira (18), no Hospital das Clínicas, de falência múltipla de órgãos causada por complicações renais e por uma pneumonia. Tinha 86 anos. Seu legado é o exemplo de extrema dedicação à luta pela libertação da classe operária e de rigor na defesa da teoria marxista, como método de análise e guia para a ação revolucionária.