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Renato Rabelo: O BC e as maiores taxas de juros do mundo

Não que esperássemos algo diferente. Mas a conjuntura internacional, sim, demandava o diferente. Mas não, o Banco Central contraria a tendência internacional mantendo a Taxa Selic na casa dos 10,75%. As maiores taxas de juros do mundo.

Por Renato Rabelo*

Para entendermos esse disparate temos de recorrer a análise de uma conjuntura diferenciada. A crise financeira internacional recobra novas conseqüências drásticas em matéria de comércio internacional sob a forma de uma chamada “guerra cambial” sem precedentes na história recente. E como toda guerra econômica, é evidente que está voltada contra os interesses dos países periféricos, sobretudo diante do aumento da liquidez global gerida por um dólar em processo de desvalorização. A China e sua taxa de câmbio são o alvo. A Argentina e sua postura soberana diante dos credores internacionais, idem. E o Brasil com seu câmbio denominado pelas forças de mercado acaba que se tornando um refúgio seguro para capitais em busca de baixo risco. E a taxa de juros é como um imã determinando a valorização cambial, o aumento da especulação e o já demonstrado recordes nos déficits em nossas contas correntes. Já se dizia que o poder do imperialismo em um determinado país é demonstrado – dentre outras coisas – pela desfaçatez da direita e os déficits nas contas correntes.

Se no mundo buscam-se bodes-expiatórios aos problemas criados pelo nível estratosférico de consumo dos EUA, no Brasil o que vem a tona nesta “guerra cambial” é uma disputa entre o Banco Central de um lado e do Ministério da Fazenda em outro. Como se espera em uma gestão macroeconômica séria, esses dois lados deveriam agir em consonância. Não é isso que tem acontecido, pois se de algumas semanas para cá a Fazenda tem feito esforços – sob a forma de aumento do IOF – para conter a entrada de dólares no país, o Banco Central age de forma oposta, com soberba, jogando por terra os esforços de conter a valorização do Real. Trata-se objetivamente de um trabalho que favorece explicitamente esta gente ligada ao capital rentista.

Qual o mínimo a se fazer diante de uma situação dessas? Evidente que temos de ter instinto de preservação, proteção. De que forma? Controlando a entrada de capitais de curto prazo no país, utilizando este mesmo instrumento do IOF como baliza. Mas não é suficiente, pois a ação deve ser coordenada de forma que o próprio BC seja impelido a agir dentre deste contexto de proteção da moeda nacional. O que não é fácil, pois os problemas não são de divergências técnicas e sim claramente políticas, pois é de natureza de classe o esquema que forma o conjunto de interesses defendidos pelo Banco Central.

*Presidente nacional do PCdoB