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Primeiro condenado pela morte de Celso Daniel está foragido

Oito anos depois do assassinato do prefeito de Santo André (SP) Celso Daniel, a Justiça condenou ontem o primeiro dos sete acusados de envolvimento no crime. Marcos Roberto Bispo dos Santos foi condenado a 18 anos de prisão pelo juiz Antonio Augusto Galvão de França Hristov, do Fórum de Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo. Marcos, entretanto, não compareceu ao julgamento e é considerado foragido. 

- Agência Estado

A sentença foi lida após cinco horas de debates entre defesa e acusação. O juri foi composto por cinco mulheres e dois homens. Santos está foragido e não compareceu ao julgamento. A Justiça decretou sua prisão preventiva porque ele não foi localizado.

O juiz destacou a proximidade entre o Celso Daniel (PT) e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante a campanha presidencial de 2002. Hristov disse que o assassinato teve "grande repercussão" e gerou "severo impacto social". Celso Daniel, lembrou o juiz, era cotado para assumir a coordenação de campanha de Lula.

Marcos Roberto Bispo dos Santos confessou o crime à Polícia Civil, em depoimentos anteriores ao julgamento, mas depois, em juízo, negou essa versão e disse que havia sido torturado para confessar um crime que não cometeu.

O advogado de defesa, Adriano Marreiro dos Santos, disse que vai recorrer da decisão e alegou que não há prova, nem testemunhas de que Marcos Roberto tenha participado do crime. Segundo o advogado, seu cliente apenas foi citado por outros réus do processo e alegou que Marcos foi "barbaramente torturado" pela polícia para confessar a participação no crime.

“A Polícia Civil, na época do inquérito, precisava achar um culpado para o crime. Por isso, obrigou o acusado a confessar participação no episódio”, disse Marreiro. Esse foi o principal argumento usado pelo advogado durante sua explanação na primeira parte do júri que acontece em Itapecerica da Serra (SP).

Crime encomendado

O promotor de Justiça Francisco Cembranelli, responsável pela acusação, acusou o advogado de defesa de não apresentar provas da acusação de tortura e disse que o crime foi executado por um grupo criminoso que agiu "por encomenda" de corruptos que desviavam recursos da prefeitura. De acordo com o promotor, Celso Daniel se insurgiu contra o esquema ao ver que o grupo que o cercava não tinha "ideologia partidária" e quando percebeu que "os recursos desviados iam para os bolsos daquelas pessoas capitaneadas por Sérgio Sombra, o mandante da morte do prefeito". "Por isso, porque resolveu se tornar um obstáculo às pretensões da máfia, Celso Daniel foi varrido, vítima de uma trama macabra."

O promotor também disse que o petista foi torturado no cativeiro para revelar onde estava guardado um dossiê com informações contra integrantes do PT que estariam envolvidos no esquema de propinas da cidade. O documento estaria guardado na residência de Daniel, na época, segundo o promotor.

Segundo Cembranelli, Celso Daniel foi vítima de "um plano macabro" e a administração do PT em Santo André era "uma verdadeira máfia e o chefe da organização era o empresário Sérgio Sombra, amigo de Celso Daniel".

Foragido

O julgamento do caso Celso Daniel ainda nem havia começado e a acusação já estava ganhando. O promotor Francisco Cembranelli pediu a prisão preventiva de Roberto Bispo dos Santos por não comparecer ao julgamento, e o juiz Antonio Augusto Galvão de França Hristov atendeu.

A acusação usou como argumento uma declaração do advogado de defesa, Roberto Podval, na qual sustenta que iria pedir o adiamento do júri porque seu cliente não havia sido notificado oficialmente para comparecer ao fórum de Itapecerica da Serra, na grande São Paulo. Os oficiais de Justiça confirmaram ao juiz que não haviam localizado o réu e, imediatamente, foi decretada a prisão de Roberto Bispo dos Santos.

“Ele não foi encontrado no endereço que ele indicou. Vizinhos disseram que ele não está na casa desde março, quando saiu da cadeia. Determinei a prisão preventiva à revelia dele. Se ele aparecer no júri, será por conta própria. Por isso, ele é foragido da Justiça agora”, disse Antonio Hristov. Segundo os advogados do réu, nem eles conseguem fazer contato com Bispo dos Santos.

Apenas uma prova

Além da ausência do réu, o júri não teve testemunhas para serem ouvidas. O advogado Adriano Marreiro dos Santos e outros dois advogados, defensores de Marcos Roberto Bispo dos Santos, sustentaram que a única prova da participação de seu cliente no crime fora uma confissão sob tortura.

Outros seis acusados deverão ser julgados, mas ainda não há data marcada porque todos recorreram ao Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP).

Da redação, com agências