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Rússia, a segurança e o escudo anti-mísseis

A cúpula do Conselho Rússia – Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) apresentou um consenso de mútuo acordo para os 29 países reunidos em Lisboa, onde o pacto militar aprovou uma doutrina que ameaça todo o planeta.

Por Antonio Rondón García, na Prensa Latina

Em outras palavras, Moscou e Bruxelas pareceram deixar para trás o período de relações congeladas após a resposta bélica de Moscou à agressão georgiana contra a Ossétia do Sul, em agosto de 2008, para centrar-se em dois pontos: o escudo anti-mísseis e o Afeganistão.

Da iniciativa apresentada há um ano pelo presidente russo, Dmitri Medviédev, para a assinatura de um acordo de segurança europeu juridicamente vinculante, se falou pouco em Portugal, e conversou-se mais sobre o desenvolvimento da formação de um escudo anti-mísseis comum na Europa.

A Rússia o posiciona como um sistema de Defesa Anti-mísseis Europeu, enquanto nos documentos da Otan ele surge sem circunscrever-se ao velho continente.

Porém Medviédev esboçou em poucas palavras o que a Rússia propõe a partir de seu ponto de vista: um esquema setorial de defesa anti-mísseis regional.

Funcionários do governo explicaram ao diário russo Kommersant no que consistiria a proposta.

Os estados do Pacto do Atlântico, com seus sistemas nacionais de localização distante e de pronto aviso, assim como sistemas antiaéreos, se comprometeriam a neutralizar qualquer ataque de mísseis contra a Rússia que provenham de sua zona de responsabilidade.

Moscou se comprometeria, por sua vez, a garantir a interceptação de qualquer disparo de foguetes contra a Europa a partir de sua área de vigilância.

Não obstante, a mesma publicação considera que tal proposta denota a pouca disposição de ambas as partes a aceitar a intromissão de estranhos em seus respectivos esquemas de defesa.

Após a euforia em Lisboa virão análises mais sustentandas para avaliar a verdadeira dimensão do que aconteceu ali, embora persistam as diferenças sobre a razão para justificar a formação de um escudo anti-mísseis. O Ocidente fala do Irã, a Rússia põe em dúvida.

Medviédev reconheceu em uma coletiva de imprensa dada na capital portuguesa que existem diferenças de fundo, como no caso do status que uma e outra parte concedem às repúblicas autônomas da Ossétia do Sul e Abkhásia ou dos elementos para definir as ameaças de mísseis.

Mesmo assim, como afirma o ex-chefe do Estado Maior Geral russo, o coronel-general Viktor Yesin, a Rússia deverá participar em um escudo anti-mísseis toda a região europeia e não especificamente da Otan.

Yesin considera que Moscou deverá eleger os princípios de igualdade para determinar a forma, infraestrutura, as tarefas e as responsabilidades do novo sistema anti-mísseis.

Uma declaração conjunta do Conselho Rússia/Otan assinala que seus estados membros evitarão a ameaça da força ou o emprego da força tanto de uns contra outros, como contra qualquer outro país.

A nova doutrina da Otan, entretanto, amplia seu raio de ação tanto no tempo como na forma, isto é, se arroga o direito a intervenções preventivas e a fazê-lo por qualquer causa, seja para garantir a "segurança" energética, econômica… por fim, tudo.

No Conselho Rússia/Otan se falou de como ampliar a participação de Moscou na preparação de pilotos, militares, agentes antidrogas e antiterroristas afegãos e de como fornecer helicópteros russos ao país asiático, atacado pelos Estados Unidos.

A Rússia também abriu a possibilidade do chamado movimento inverso de logística, ou seja, por meio de seu território e espaço aéreo desde o Afeganistão, donde já morreram 2.200 militares da Força Internacional para a Assistência para a Segurança no país (ISAF)

A mídia local estima que Medviédev se apresentou no Ocidente como um presidente russo capaz de chegar a acordos importantes em matéria de segurança regionla e com o qual pôde ser definido uma lista de ameaças e desafios comuns no século 21, uma grande diferença em relação a anos anteriores.

Nesse sentido, a declaração conjunta do Conselho Rússia/Otan se refere à necessidade de estabelecer o trabalho para esse orgão "sob qualquer clima político", em alusão ao recente período de esfriamento após os referidos acontecimentos de 2008.

A mídia russa destaca, por outro lado, quem uma fez rascunhado, ao menos em papeis, o conceito da Rússia como inimigo, a razão de ser do pacto atlântico parece ser converter-se em força gendarme de caráter mundial, para "resolver" ou "evitar" qualquer problema no mundo.

Enquanto isso, surgem novas interrogações de até onde o escudo anti-mísseis europeu poderá prejudicar a capacidade de contenção estratégica de Moscou.