Siqueira: “O voto espontâneo, de opinião, não está acabando”

O resultado das eleições para o PCdoB, o voto de opinião, a eleição dos jovens herdeiros de políticos tradicionais, a disputa para a próxima Mesa Diretora da Assembleia Legislativa e as propostas de atuação na Alepe foram os principais temas da entrevista concedida nesta quinta-feira (18) pelo vereador e deputado estadual eleito Luciano Siqueira (PCdoB) ao programa Folha Política, da Rádio Folha FM.

Leia abaixo íntegra da entrevista:

Rádio Folha – Como o senhor avalia os resultados das eleições para o PCdoB aqui em Pernambuco. Houve perdas ou é o resultado foi normal dentro do processo eleitoral?

Luciano Siqueira – O resultado faz parte do processo. Evidentemente, nós gostaríamos muito de ter conquistado a reeleição de Luciano Moura. Não conseguimos eleger Moura, não elegemos Jorge Carrero, nosso candidato que tem base eleitoral em Paulista, mas os companheiros são todos maduros, experientes, entendem que a eleição para deputado estadual foi muito mais difícil do que para deputado federal, foi uma eleição muito dura, e nós disputamos um voto que é o voto espontâneo, conquistado no contato direto com as pessoas, mas comemoramos os resultados. Os companheiros que não foram bem-sucedidos estão bem, atuantes… eles entendem que o insucesso eleitoral faz parte do processo, faz da luta. O que vale para todos nós é a militância, não é uma carreira política.

Rádio Folha – Se o partido tivesse saído sozinho ou feito uma “chapinha” poderia ter elegido mais candidatos?

Luciano – Nosso projeto original era ter uma chapa própria, pois julgávamos que com a chapa que nós havíamos construído nós poderíamos não só manter duas vagas como talvez até uma terceira vaga. Porém, na reta final dos prazos estabelecidos pela legislação eleitoral para concluir esse processo alguns companheiros desistiram e isso nos colocou diante de uma situação em que dificilmente sem uma chapa mais completa nós poderíamos obter o resultado desejado. Por isso, refluímos e disputamos a Assembleia Legislativa com seis candidatos a deputado estadual e procuramos dividir as áreas de trabalho do partido, aqui e no interior, de tal forma que nós pudéssemos quem sabe eleger três deputados.

Rádio Folha – Houve o ganho da eleição de Luciana Santos e o partido está representado nas três Casas: municipal, estadual e federal, não é isso?

Luciano – Exatamente. Luciana se elegeu muito bem, minha eleição foi uma eleição muito satisfatória também e, infelizmente, o nosso projeto não foi plenamente bem-sucedido, embora nós estejamos comemorando essas duas vitórias.

Rádio Folha – O senhor falou a respeito desse voto de opinião. O senhor é então o último dos moicanos? Porque a maioria dos parlamentares com quem nós temos conversado aqui disse que o voto de opinião está acabando. O que está valendo é o voto de estrutura e o do DNA. Qual é, então, a fórmula para continuar recebendo esse voto de opinião?

Luciano – Eu avalio exatamente assim, embora vocês da imprensa tenham produzido boas reportagens examinando os 49 deputados eleitos para a Assembleia Legislativa e, de fato, há uma coincidência de apoios importantes de prefeitos de cidades médias e grandes, assim como há também o surgimento de novos quadros que eventualmente tem parentes na política, pai, mãe, tio, avô, etc.. Isso em si não é um mal uma vez que são companheiros e companheiros eleitos através do voto popular.

Agora, eu não diria que o chamado voto de opinião, espontâneo, está acabando. Eu penso que não. Eu acho que está sendo subestimado, talvez. Porque, se o nível de consciência política do nosso povo vem evoluindo, vem avançando, vem se elevando, não há razão para julgarmos que as pessoas não possam se eleger conquistando a vontade, a consciência, o entusiasmo, a emoção das pessoas. Eu acho que, às vezes, alguns subestimam esses aspectos, provavelmente muito desses que tem dito isso tem uma parcela de seus votos conquistados, votos espontâneos, que as pessoas dão por confiança, por acreditar que aquele candidato está empunhando bandeiras justas.

Rádio Folha – Os que subestimam o voto de opinião talvez não busquem mais esse tipo de voto e concentre suas forças, sua campanha, novo de estrutura porque acham que é o voto mais fácil de conseguir?

Luciano – Eu, sinceramente, não sei dizer exatamente, talvez conversando mais com companheiros que acreditam nisso eu possa ter uma ideia mais clara. Agora, eu também acho que, se o prefeito de uma cidade importante considera que a população da região merece ter representantes na Assembleia Legislativa, na Câmara dos Deputados, e pode fazer um esforço, jogar seu prestígio político no sentido de dar apoio a candidatos que merecem a confiança do povo da região e isso concorra para a eleição daquele candidato, acho que isso também não é um mal em si.

Rádio Folha – Mas, a questão é que não se forma uma liderança.

Luciano – Às vezes sim, às vezes não. Eu não quero aqui nominar ninguém, mas eu vejo nessa turma jovem que está chegando à Assembleia Legislativa gente com talento, gente que pode crescer na vida política e dar grandes contribuições. É o que me parece à primeira vista. O ruim é se governador, prefeito ou que seja detentor de cargo executivo utilize a chamada “máquina” de maneira incorreta, aí é que é errado. Mas empenhar o prestígio político no sentido de apoiar candidatos que representem a população da região comprometidos com bandeiras de luta que favoreçam o progresso da região, que beneficiem a população, é natural, é aceitável, e até positivo em certas circunstâncias e em determinados lugares.

Rádio Folha – O senhor está chegando agora na Assembleia. Como o senhor vê essa celeuma que se criou em torno da composição da Mesa Diretora da Casa?

Luciano – Eu acho que sejam quais forem os escolhidos para compor a Mesa Diretora, que é um assunto muito importante, porque o Poder Legislativo há de ser sempre fortalecido, deve guardar boas relações com o Poder Executivo sem abrir mão, contudo, de sua autonomia, de sua independência, conforme a Constituição do País e estadual estabelecem. Portanto, é um assunto que diz respeito a todos os deputados e quero crer que seja possível encontrar uma solução.

Rádio Folha – O senhor está participando das negociações?

Luciano – Eu conversei informalmente com o atual presidente, deputado Guilherme Uchoa, que manifestou o desejo de permanecer na presidência, e numa conversa basicamente administrativa com o primeiro secretário da Casa, deputado João Fernando Coutinho, ele me comunicou que a bancada do PSB teria deliberado pela apresentação do nome dele à reeleição para função que ele exerce aos demais parlamentares. É verdade que, em função de minha agenda pesadíssima – a eleição do primeiro turno foi no dia 3 de outubro e no dia seguinte eu estava já cumprindo as minhas tarefas de vereador e de dirigente do PCdoB – eu não tinha me colocado a disposição dos deputados para participar dessa discussão. Agora, a partir da próxima semana vou procurar me entrosar mais e naquilo que eu puder ajudar eu ajudarei no sentido de uma solução de consenso e que haja um debate mínimo em torno do papel da Assembleia Legislativa.

Rádio Folha – Essa é uma questão que diz respeito apenas aos deputados ou cabe interferência externa?

Luciano – Eu prefiro não usar o termo “interferência externa” porque é óbvio que, se você tem um governador de Estado, seja ele de que partido for, e que tem o seu partido representado, e não só o seu partido, deputados eleitos por legendas que o apoiaram, ouvir a opinião do governador, trocar opiniões, ideias, não rompe com a autonomia do Poder Legislativo e é até benéfico. No entanto, a decisão final cabe exclusivamente aos deputados.

Quanto ao pronunciamento do deputado André Campos, que eu considero competente e apto a desempenhar qualquer função da Assembleia Legislativa, seja na Mesa Diretora, seja presidindo Comissões Técnicas, eu só soube pelos jornais. É evidente que ele expressou uma insatisfação com, segundo vocês noticiaram, a participação nas gestões do ex-deputado e atual prefeito de São Lourenço da Mata, Etore Labanca. Na medida em que eu participar dos diálogos que a partir de agora, na minha expectativa, vão se intensificar, a minha contribuição será no sentido de que nós encontremos primeiro, solução de consenso; segundo, que na discussão venha à tona com clareza o papel da Assembleia Legislativa na atual situação política, econômica e social de Pernambuco e nas relações do Poder Legislativo com o Poder Executivo. É o mínimo que cada um dos deputados deve tratar até para que nós possamos prestar contas dessa discussão á população.

Acho que o povo de Pernambuco, em certa medida, acompanha essa discussão e deve se perguntar, por exemplo, o presidente Guilherme Uchoa permanece? E se permanece por que permanece. Acho até que tem sido um presidente muito capaz, muito competente até onde eu posso observar à distância, agora vou conviver com o deputado Guilherme Uchoa como um de seus pares. Então, nós precisamos, ao chegar a uma chapa de consenso, se for possível, também dizer à opinião pública porque é que nós chegamos. Todos nós os 49 deputados e a Assembleia Legislativa como instituição devemos satisfação à opinião pública e acredito que deva ser esse o procedimento dos outros 48 deputados que vão formar a próxima legislatura.

Rádio Folha – Este é o momento oportuno para essa discussão, quando os novos deputados não estão entrosados com o assunto?

Luciano – Eu penso que quando você tem algo a resolver e há ambiente, há clima favorável quanto mais rápido se possa resolver melhor até porque se você começa a discutir logo e surgem contradições, conflitos, haverá tempo suficiente para superá-los e encontrar soluções de consenso, eu sempre sou a favor de soluções de consenso, respeitando a bancada de oposição, respeitando a minoria, que tem um papel a cumprir e que tem – ao que eu vejo, tem um quantitativo de deputados que credencia a oposição a ter um lugar na Mesa e também a presidir comissões técnicas.

Rádio Folha – Na Câmara de Deputados já está se falando na formação de blocos. Na Assembleia Legislativa há a possibilidade de o PCdoB formar bloco com alguns partidos já que terá só um representante?

Luciano – Eu quero crer que não. Acho que a formação ou não de blocos faz parte da tradição do Legislativo do mundo inteiro e no Brasil sempre foi assim. Na Câmara dos Deputados, tanto há a discussão da formação de um bloco menor, mais à esquerda formado pelo PCdoB, PSB, PDT e PR, como também se noticiou a hipótese de formação de um bloco de grandes partidos capitaneado pelo PMDB. Eu acho legítimo que se formem blocos e tenho a impressão que a conduta do PT será decisiva para que se mantenha ou não esse grande bloco. O bloco dos partidos menores eu considero uma necessidade até porque, segundo o regimento da Câmara dos Deputados, se formalizam blocos os partidos menores, de bancadas menores, se credenciam a assumir presidências de comissões, relatorias importantes que eles não poderiam alcançar se atuarem isoladamente.

Rádio Folha – Quais são suas propostas de atuação na Assembleia Legislativa, as audiências públicas que vem realizando na Câmara do Recife?


Luciano
– As audiências públicas são um modo de trabalhar. Na verdade, do ponto de vista de conteúdos nos vamos dar sequência do que nós já fazíamos na Câmara do Recife agora em uma dimensão estadual. Mas, assim rapidamente me parece que um deputado estadual com o meu perfil e pertencendo a um partido como o que eu pertenço ele tem basicamente quatro linhas permanentes de ação: a atividade parlamentar propriamente dita no âmbito da Assembleia, das comissões técnicas, do plenário, da relação com o Executivo; a relação com o movimento social – eu já abordei o deputado Manoel Serra, deputado eleito representando os trabalhadores rurais, dizendo que vou apresentar à Fetape – Federação dos Trabalhadores na Agricultura, como fiz quando fui deputado há alguns anos atrás, me colocar à disposição para apoiar a luta dos trabalhadores rurais. Já conversei com Jaime Amorim, do MST, na mesma direção, vou visitar todas as centrais sindicais, vou continuar participando dos fóruns de debates que existem, sobretudo, no Recife e vou dar minha contribuição como parlamentar dublê de dirigente de partido para melhor estruturar e fortalecer o PCdoB no conjunto do Estado.

Fonte: Site de Luciano Siqueira