Capistrano: José Andrade do Nascimento (Zé Gago) 01/10/1927 – 25/11/2010

Faleceu o camarada José Andrade do Nascimento, mais conhecido por Zé Gago, ele estava com 83 anos, nasceu em um povoado no município de Assú em 01 de outubro de 1927. Ainda jovem foi morar na sede do município, na casa de um tio de Monsenhor Américo Simonetti. Zé Gago estudou no Grupo Escolar Coronel Correia e fez parte do grupo de escoteiro da cidade. Aos 18 anos, portando, em 1945, no final da segunda guerra mundial, com o objetivo de trabalhar, muda-se para Natal.

Seu primeiro emprego, na capital do estado, foi na oficina da Ford, empresa, a época, localizada no bairro da Ribeira. Zé Gago fica em Natal até 1947, no final deste mesmo ano vem morar em Mossoró, onde trabalha com o prefeito Dix-Sept Rosado.

Em 1950 ele participa da campanha de Dix-Sept para o governo do Estado, ele e toda a esquerda mossoroense. Era o seu despertar político.

No final dos anos 50 se transfere para Brasília, era mais um candango na construção da nova capital do país. Retorna a Mossoró no inicio dos anos 60, aqui se associa ao sindicato da sua categoria e passa a ser um militante na luta dos trabalhadores da construção civil ao lado de Zé Moreira, Posidônio e outros combatentes da classe trabalhadora que atuavam no bravo sindicato da construção civil de Mossoró.

Nesse período, Zé Gago liga-se a figuras como Chico Guilherme, Lourival de Góis, Zé Moreira, Canário, Vivaldo Dantas, Posidônio, Joel Paulista, José Barbalho, Cesário Clementino, Antonio Tenório, os Reginaldos e tantos outros que lutavam aqui na nossa cidade em prol de um mundo justo, todos eles sob a influência do PCB.

Até o final da sua longa vida, Zé Gago foi um militante da política no município de Mossoró, com os seus erros e equívocos, mas, dentro das suas limitações, ele era um idealista, um homem que sempre teve como objetivo o bem comum, era uma figura querida e muito estimada pelos seus amigos, deixou uma história que precisa ser registrada e contada. Era brizolista, foi um dos fundadores do PDT em Mossoró.

Nossos historiadores, cientistas políticos, sociólogos e jornalistas precisam cada vez mais aprofundar os estudos e pesquisas sobre a classe operária da nossa região, ela é riquíssima em acontecimentos que demonstram a importância da organização e da mobilização dos trabalhadores pelos seus direitos, o Sindicato do Garrancho é um bom exemplo Eles foram pioneiros, aqui na região, na luta pelos direitos trabalhistas e por uma sociedade justa. Com a orientação do Partido Comunista do Brasil o Sindicado do Garrancho marcou um momento histórico importante nas lutas dos trabalhadores aqui no estado. Não foi fácil, andar com a carteira de trabalho era coisa de subversivo, querer regulamentar a jornada de trabalho em 8 horas, ter direito a descanso semanal remunerado, aposentadoria por tempo de serviço e férias, era coisa de comunista.

Por esse motivo, homens e mulheres foram perseguidos, presos, torturados, muitos assassinados. Quando os trabalhadores não tinham nenhum direito trabalhista, foi preciso a existência de homens e mulheres de coragem para enfrentar as forças reacionárias, o capitalismo voraz, sistema insaciável por mais lucro que reluta em abrir mão de parte dos lucros obtidos através da mais-valia, da exploração dos trabalhadores.

Zé Gago, após o golpe militar de 1964, foi preso, no mesmo período esteve preso um grupo de homens e mulheres que honram a história do nosso estado e do nosso país, a maioria meus amigos, companheiros de velhas lutas, tais como: Hélio Vasconcelos, Tereza Braga, Carlos Lima, Lali Carneira, Margarida Cortez, Mailde Pinto Galvão, Berenice Freitas, Josemá Azevedo, Paulo Oliveira, Mery Medeiros, Albimar Furtado, Ubirajara Macedo, Omar Pimenta, Luiz Maranhão, Moacyr de Góes, Jose F. Machado, José Arruda Fialho, Geniberto Campos, Irma Chaves e Carlos lima.

Hélio Vasconcelos, meu estimado amigo, sempre foi um bom contador de estórias e histórias. Todas as vezes que me encontrava, Hélio tinha um caso de Zé Gago para contar, era acontecimentos pitorescos, hilariantes que entraram para o anedotário dos que estiveram presos naquele período junto com Zé Gago. Algumas dessas histórias o professor Wilson Bezerra registrou no livro sobre José Barbalho, colega de prisão de Zé Gago. São episódios engraçados, demonstração da personalidade espirituosa que caracterizou esse camarada que partiu nessa quinta-feira 25 de novembro. Camarada Zé Gago, Mossoró lhe agradece pela sua contribuição na luta da classe trabalhadora, sempre em defesa de um mundo justo e de paz. Até sempre camarada.

 

Antonio Capistrano – ex-reitor da UERN é filiado ao PCdoB