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Batista Lemos: A organização dos trabalhadores pelo PC da Grécia

Estive entre os dias 15 e 20 de novembro, em Atenas, Grécia, onde fica a sede da Federação Sindical Mundial (FSM). Lá fui cumprir missão de caráter internacional relacionada a tarefas partidárias. Estando nesse país, o secretário-geral da FSM, George Mavrikos, convidou-me para uma conversa sobre a federação, visando o debate sobre o 16º Congresso Mundial, que ocorrerá em Atenas entre os dias 6 a 10 de abril de 2011.

Por João Batista Lemos*

Aproveitei para fazer uma vista de cortesia ao Partido co-irmão do PCdoB, o Partido Comunista da Grécia, cuja sigla em grego é KKE. Mantive conversações com o responsável sobre o trabalho operário do partido, o camarada Skiadiots George, também como eu, de origem metalúrgica e que trabalha em uma empresa de armamentos. O camarada é membro do Comitê Central do partido.

Fiz uma exposição inicial do nosso trabalho de construção do PCdoB no interior das empresas, das dificuldades que vivemos para nos enraizarmos nos locais de trabalho, em especial nas empresas privadas, como a montadora de automóveis Fiat na cidade de Betim, aqui no Brasil, por exemplo. Levantei três questões para que George pudesse discorrer sobre a experiência do Partido da Grécia: Como tem sido o trabalho do partido nas empresas? Como desenvolver a relação do partido e Sindicato? E como o partido tem enfrentado a crise?

Skiadiots George, com seus 30 anos de experiência, discorreu sobre o trabalho do KKE, e nos explicou que na Grécia o partido tem sofrido muitas dificuldades, até porque teve dezenas de militantes que foram despedidos por razão de sua participação nas greves gerais e em função da grave crise que se abateu sobre o país.

Os métodos de intimidação são variados, desde as chantagens abertas, as ameaças de demissão, até a tentativa de compra de diretores dos sindicatos. Ele relatou um caso concreto em que numa empresa os patrões ofereceram 50 mil euros para que um diretor do sindicato aceitasse ser demitido e, com orgulho, George confirmou que o militante comunista de origem operária não aceitou o suborno. Tomando em conta essas dificuldades, o partido coloca como prioridade a formação dos trabalhadores, a elevação de suas consciências. Ele nos disse que formar estudantes é muito mais fácil. O difícil mesmo é formar operários. Os resultados, porém, são muito mais sólidos.

Sobre a organização no interior das empresas, George nos relatou que o Partido se utiliza de diversas formas, desde a ação clandestina até construir uma base mais sólida, para depois desenvolver uma ação aberta. Eles priorizam aglutinações amplas de massas e não isoladas.

Mesmo assim o nosso camarada George conclui que o problema de organização do trabalho operário não está resolvido, mas o Partido está muito satisfeito. A maioria de seus membros tem um trabalho exemplar no local de trabalho, em cada empresa e também no Pame – Frente Militante dos Trabalhadores –, que funciona como uma central sindical e teve destacado papel na recente luta contra a crise que se abateu sobre a Grécia, mobilizando amplas massas.

Relata que em grandes indústrias e nas principais zonas industriais o Comitê Central tem constituído comissões especiais cuja tarefa é construir o partido nas empresas da região. E sobre a organização sindical dentro do local de trabalho, iniciam com a formação de uma comissão de luta e orientam a organização sindical por ramos de atividade.

Falou também sobre a experiência de uma comissão de luta no interior da Coca-Cola quando foram demitidos três camaradas. As lideranças operárias vinculadas ao partido conseguiram parar a fábrica e a readmissão de um companheiro.

Hoje na Grécia o índice oficial de desemprego é de 11% da população ativa, mas o desemprego real é mais de 20%, pois não contam os que trabalham um dia, ou fazem “bico” como falamos aqui no Brasil. Com a crise, o governo socialista do PASOK procura salvar os banqueiros com ajustes fiscais e joga a crise para os trabalhadores.

O camarada George expôs que a base objetiva para a revolta dos trabalhadores tem origem no desemprego elevado, na redução dos direitos, no elevado custo de vida. A cada dia que passa, os trabalhadores têm que pagar mais pelos serviços públicos. É visível a degradação do nível de vida. Estima-se que até um terço da população esteja vivendo no limiar da pobreza. Ao caminharmos nas ruas do centro de Atenas foi possível constatar essa afirmação. Vimos muitos pobres e jovens desempregados e muitas crianças pedindo esmola.

Mas George levanta um elemento fundamental no que toca questões subjetivas: há grandes locais de trabalhos onde se constatam problemas muitos sérios e os trabalhadores não reagem. Há uma tendência à retração, ocasionado muitas vezes pela falta de termos o partido presente ou pela ausência do Pame. É muito maior e mais forte a participação dos trabalhadores quando o KKE e o Pame estão nesses locais.

A intervenção do partido e do Pame tem sido força determinante nas mobilizações das últimas greves na Grécia e isso se explica por dois fatos: “temos ampla representatividade de massa e linha política de classe que adotamos no partido e no Pame sob influência dos comunistas gregos”, diz George.

O camarada reafirmou que não basta ter representatividade de massa. A IG Metal da Alemanha, por exemplo, tem forte representatividade nos metalúrgicos, mas não consegue imprimir uma linha de classe na orientação do movimento sindical. Sabemos que seu grau de mobilização não tem correspondido às necessidades.

Sobre o Pame, o partido há 11 anos tomou a decisão de demarcar com os sindicatos influenciados pela social-democracia, que propunham melhorar o capitalismo e não derrotá-lo ou superá-lo. Para isso, fundou o Pame, que é uma aglutinação de entidades sindicais de diferentes níveis, desde comitês de empresas até de federações, confederações e organizações regionais, que entendem o caráter classista e anticapitalista da luta, bem como avaliam que o sindicato não pode ser instrumento do capital, de um governo e mesmo do Partido. O Pame tem vida própria independente do Partido e mantém sua independência da Confederação Geral dos Trabalhadores da Grécia.

Neste ano, muita luta foi desencadeada pelo Pame e tornaram-se referência na Europa. O Pame tem iniciativa própria, convoca greves. O objetivo do Partido na Grécia é que os trabalhadores tenham nessa central uma referência de luta. Nestes últimos anos o prestígio do Pame tem crescido e o prestigio da Confederação Geral dos Trabalhadores da Grécia, de orientação social-democrata tem diminuído. A pressão maior tem vindo pelos trotskistas e setores anarquistas do movimento sindical, com seu discurso pseudo esquerdista e radicalizado.

O camarada George, do KKE, definiu a linha política de classe do KKE sob três aspectos: “a) A partir da caracterização da crise e da política que defende o governo, demarcamos com os social-democratas; b) A ação nos locais de trabalho e c) O desenvolvimento da crítica do capitalismo. Devemos explicar aos trabalhadores que este sistema vai ser sempre acompanhado por crises e que a saída para os trabalhadores, para solucionar seus problemas, é só o socialismo”, disse George.

“Hoje em dia as linhas dos liberais e sindicalistas social-democratas são quase a mesma dos capitalistas que pregam o entendimento para sair da crise. E nos diferenciamos quando dizemos: nenhuma redução dos salários e dos direitos; quem deve pagar pela crise são os que a criaram, os banqueiros e os grandes capitalistas”, colocou.

Diante desta situação o Partido Comunista da Grécia definiu duas orientações: 1. Construir um movimento massivo contra as consequências da crise, desde as pequenas lutas, como o não corte da energia elétrica e água dos desempregados por não poderem pagar as tarifas até as greves gerais, para que os trabalhadores não paguem pela crise e 2. Promover uma aliança social e formas de lutas entre os operários e outras camadas sociais, como os pequenos empresários, pequenos camponeses, aglutinação de mulheres, jovens, trabalhadores autônomos. Promover alianças sociais e concentração de forças políticas, que terá no horizonte a luta pelo poder político.

Esta política, de um Partido Comunista autêntico e revolucionário, tem dado resultados, de acordo com as características próprias da pequena e histórica Grécia, com seus 11 milhões de habitantes. Mesmo com o defensismo histórico que os partidos comunistas se encontram, obteve 11% dos votos nas últimas eleições, elegeu 22 deputados, possui um jornal diário, público e de massas, mais uma rádio FM, uma TV aberta, que agora vai transmitir em formato digital.

O partido grego tem demonstrado uma imensa capacidade de mobilização. Tive a honra de testemunhar isso no dia 17 de novembro, em um primeiro dia de reunião que participei com George Mavrikos, secretário-geral da Federação Sindical Mundial (FSM), que me convidou para participar de uma marcha em comemoração ao dia de luta que deflagrou o fim da ditadura na Grécia. O centro de Atenas estava sitiado, ruas bloqueadas, com tropas de choque que protegiam a monumental sede da Embaixada dos Estados Unidos, em frente da qual a marcha passou, convocada pelo Pame. Mobilizaram nesta manifestação política pelo menos 15 mil trabalhadores e trabalhadoras que contou com a presença de muitos jovens e mulheres, onde gritavam: “o futuro não é o capitalismo, o novo mundo é o socialismo”. Ali, na linha de frente da marcha, fui apresentado a Aleka Papariga, secretária-geral do partido e a Gendicas Dimitris a secretária sindical e membro do birô político do partido.

Faço esse relato para socializar com os camaradas do PCdoB e sindicalistas classistas da CTB essa viagem internacional que realizei e deixo público os parabéns ao nosso Partido irmão na Grécia e à central sindical classista desse combativo e histórico país, o Pame.

* Secretário Sindical Nacional do Comitê Central do PCdoB e Diretor Adjunto de Relações Internacionais da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB).